Os primeiros apresentadores de inteligência artificial (IA) do mundo estarão à frente do New Year’s Gala da China Central Television (CCTV), a transmissão de TV mais assistida do mundo.
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Uma audiência de mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo deve entrar em sintonia com a Festa da Primavera da emissora estatal chinesa, marcando o início ano lunar chinês, em 5 de fevereiro. Os quatro conhecidos apresentadores humanos (Beining Sa, Xun Zhu, Bo Gao e Yang Long) serão acompanhados por uma “cópia IA” de si mesmos, na verdade, seu gêmeo digital.
As ” personas em inteligência artificial”, criadas pela Oben Inc., estão sendo apontadas como as primeiras anfitriãs do mundo. Em vez de simplesmente serem avatares gerados por computador, as tecnologias de inteligência artificial, incluindo aprendizado de máquina, visão computacional, processamento de linguagem natural e síntese de fala, foram usadas para “reconstruir” as cópias virtuais das celebridades a partir do zero.
FORBES conversou com o CEO da ObEN, Nikhil Jain, que afirma que, enquanto o evento de TV apresentará a tecnologia de sua empresa para o maior público de TV do mundo, o potencial das personas em IA vai ainda mais longe e pode revolucionar muitas áreas da sociedade.
Na verdade, a empresa já trabalha para criar médicos, enfermeiros e professores com inteligência artificial, bem como celebridades virtuais.
Jain diz que a ideia surgiu quando ele procurava maneiras de impedir que seus filhos pequenos sentissem sua falta quando ele era forçado a sair de casa por longos períodos, por conta de viagens de negócios.
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“Pensei que se houvesse uma cópia minha em casa, que fala com minha voz e interage com meus filhos, eles sentiriam muito menos minha ausência.”
O que diferencia os avatares habilitados por IA da ObEN de outras “cópias digitais” que já existem é que eles são capazes de falar e agir, como as pessoas que representam, e são alimentados por inteligência artificial, em vez de representações ou rotinas comportamentais pré-escritas.
Os dados visuais que permitem que os avatares se pareçam com a pessoa de referência são coletados a partir de scanners 3D, mas isso é apenas o começo do processo de criação de uma contrapartida inteligente de um ser humano.
A tecnologia de redes neurais, construída em torno de princípios de aprendizagem profunda, é usada para registrar a voz do participante como dados de entrada e informações pessoais sobre os comportamentos e ações do sujeito. A partir disso, são recriados os padrões de fala e aspectos de sua personalidade.
“Capturamos os dados de fala, a pessoa faz a leitura de um script. A IA então aprende os traços de sua voz e pode gerar novos conteúdos em cima disso, falando ou cantando. E não apenas na sua língua nativa. A cópia digital também é capaz de criar conteúdo com sua voz em idiomas que você nem pode falar. No meu caso, eu posso gravar meus dados em inglês, mas minha IA pode falar em chinês, japonês ou coreano”, diz Jain.
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A ObEN foi escolhida para criar os avatares da transmissão chinesa após um trabalho que a empresa realizou com a criação digital do popular grupo SNH48, junto a outros atores e personalidades chineses conhecidos.
Os “gêmeos digitais” de celebridades são vistos como um caso de uso altamente lucrativo para a tecnologia de IA, considerando o enorme mercado para novas formas como os fãs podem interagir com seus ídolos e referências. De certa forma, isso pode ser visto como uma extensão natural do mercado para mensagens de saudação personalizadas nos mercados asiáticos e ocidentais.
Além de assisti-los na televisão, os fãs terão a chance de interagir pessoalmente com seus ídolos em IA. A ObEN construiu uma interface usando o serviço de mensagens WeChat, que permite que qualquer pessoa tenha uma conversa com os avatares de inteligência artificial.
As celebridades digitais também podem ser implantadas em ambientes de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR).
Embora o uso possa parecer inofensivo, não é difícil ver as sérias implicações e consequências dos avatares em IA. É possível que eles sejam o primeiro passo no caminho para permitir proezas como aparecer em mais de um lugar ao mesmo tempo e, possivelmente, se as simulações de IA se tornarem realistas o suficiente nos próximos anos, viver depois da morte.
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Imagine avatares em IA treinados não apenas com dados extraídos de uma breve entrevista ou questionário, mas algo como o histórico de postagens sociais de uma pessoa ou até mesmo uma vida inteira de conversas gravadas. Com cada vez mais dados que criamos são armazenados e enviados na forma de gravações de áudio ou vídeo. Não é totalmente improvável que isso aconteça um dia.
É claro que isso criaria o potencial para criar “simulações” muito reais de humanos específicos, bem como enigmas éticos complexos e complicados.
Por enquanto, a Oben, que conta com empresas como a Tencent e a Softbank entre seus investidores, tem ido além das celebridades em IA e investiga aplicações mais “sérias” (nas palavras de Jain) da tecnologia.
“Estamos expandindo para a área da saúde, com médicos e enfermeiros virtuais que podem interagir e dar conselhos não clínicos aos pacientes, além de responder perguntas sobre sua saúde ou dar lembretes. Também estamos trabalhando em setores como educação para criar professores virtuais.”
Outro uso em potencial explorado é o varejo, onde a ObEN está trabalhando com o principal varejista asiático, a K11, no desenvolvimento de IAs que são “concierges virtuais” para adicionar um toque humano (ainda que artificial) à experiência de compras on-line.