Ao tentar dissuadir o jovem Max Planck de dedicar-se à física, Philipp von Jolly disparou: “Quase tudo já foi descoberto, e o que resta é preencher alguns buracos sem importância”. Felizmente, o alemão, que mais tarde tornou-se o pai da física quântica, ignorou o conselho.
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A tentativa de enquadrar qualquer ano como o das mulheres na ciência parece incorporar a mesma arrogância e é, com alguma esperança, igualmente prematura. Afinal, parece que 1918 foi um ano realmente importante para elas nesse quesito, ou, pelo menos, para uma personalidade em específico. Foi quando a física Lise Meitner e seu parceiro de pesquisa Otto Hahn descobriram um novo elemento, o protactínio (Pa). Originalmente chamado de proto-actínio porque se decompõe em actínio, é encontrado em pequenas quantidades (três partes por milhão) em minério de urânio.
Mas, analisando bem, talvez 1898 também possa receber a classificação de “o” ano das mulheres na ciência, quando Marie Curie descobriu não apenas um, mas dois elementos: o polônio (Po) e o rádio (Ra).
Tanto Lise Meitner quanto Marie Curie tiveram elementos batizados em referência aos seus nomes, meitnerium e curium respectivamente – embora nenhum deles tenha sido descoberto por elas. Na verdade, elas são as únicas mulheres entre os 14 cientistas que receberam essa honra.
Marie Curie recebeu dois prêmios Nobel, um em química e outro em física. Na verdade, a cientista permanece até hoje a única pessoa a receber um prêmio Nobel em ambas as categorias. Lise Meitner recebeu notáveis 48 indicações, mas nunca foi premiada.
Desde a sua criação em 1901, o Prêmio Nobel de Química foi concedido a 180 pessoas, sendo que cinco delas – ou 2,8% – são mulheres. O Prêmio Nobel de Física foi concedido a 210 pessoas, três – ou 1,4% – do gênero feminino. Essas porcentagens aumentaram drasticamente este ano quando o comitê do Prêmio Nobel anunciou que duas mulheres foram contempladas com a premiação, uma em química e física. Então, talvez, afinal, 2018 tenha sido realmente o ano das mulheres na ciência.
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Donna Strickland recebeu o Prêmio Nobel de Física de 2018 por seu trabalho em amplificação de pulso com chilro (CPA), método que ela e seu orientador de doutorado, Gerard Mourou, desenvolveram para fornecer pulsos curtos a laser de alta intensidade. O projeto de Donna e Mourou abriu a porta para o uso de lasers em procedimentos médicos, como cirurgia ocular e terapias de prótons para tratar tumores de tecidos profundos. Além disso, o CPA é usado em vários processos de fabricação, como o corte da tampa de vidro para smartphones. E, em pesquisa, a amplificação do pulso é usada para “gerar grandes quantidades de partículas carregadas e luz para aquecer a matéria para as condições interiores estelares”, segundo o professor Gilbert (Rip) Collins, do programa de física de densidade de alta energia da Universidade de Rochester. Donna é a terceira mulher na história a receber o Prêmio Nobel de Física e a primeira em 55 anos. A segunda, Maria Goeppert-Mayer, foi condecorada em 1963.
Frances Arnold, professora de engenharia química da Caltech, recebeu o Prêmio Nobel de química de 2018 por seu trabalho em engenharia genética de enzimas usadas para produzir biocombustíveis, medicamentos e até mesmo detergentes para roupa. Inicialmente incapaz de fabricar novas enzimas do zero a partir de seus blocos de aminoácidos, Frances então se apoiou nas capacidades reprodutivas da própria natureza e injetou em bactérias os genes que codificam as enzimas que ela queria. Ao repetir o processo com códigos aleatoriamente modificados, ela foi capaz de produzir a melhor versão da enzima, direcionando e acelerando o processo lento da evolução. Frances muitas vezes foi alvo de piadas e acusada de não fazer ciência real. Mas, com o Prêmio Nobel de 2018 para adicionar à sua vasta lista de premiações e honrarias, Frances certamente riu por último.
A Academia Real das Ciências da Suécia, órgão de votação dos prêmios Nobel de Fisiologia e Medicina, Química e Física, concedeu apenas 3% de seus prêmios Nobel de ciência às mulheres, historicamente negligenciando grandes merecedores.
Na verdade, é mais provável que uma mulher tenha um elemento com o nome dela do que ganhe um prêmio Nobel. Como já citado, dos 14 elementos nomeados em referência a cientistas, dois – ou 14% – são são relativos a mulheres.
Mas a quantidade de representantes do gênero feminino em campos científicos vem crescendo a cada ano – há mais mulheres do que homens matriculadas nos EUA em bacharelados relacionados à ciência e programas de pós-graduação. E podemos esperar que esses números aumentem em um futuro próximo.
Ao discursar em uma coletiva de imprensa no Caltech, a Dr. France previu que, “desde que encorajemos todos aqueles que querem fazer ciência, não importando a cor e o gênero, veremos Prêmios Nobel vindos dos mais diferentes grupos e as mulheres serão muito bem-sucedidas”.
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