Bolsonaro com Trump é uma espécie de apoteose para os devotos do fascismo imaginário. Há os que esperam a volta do messias, há os que aguardam a redenção da Era de Aquarius e há os que sonham com a hecatombe fascista. Pois lá estavam, finalmente juntas e ao vivo (como diriam Falabella e Karan), as duas caricaturas perfeitas desse sonho. Foi bonito de se ver o frisson da resistência cenográfica.
O fenômeno Trump nos Estados Unidos é um desafio aos antropólogos. Já na segunda metade do mandato, o agente laranja que segundo a Meryl Streep ia conduzir o planeta à Terceira Guerra Mundial (além de massacrar as minorias) é uma completa decepção. Até agora, os resultados visíveis do governo Trump são apenas a melhoria dos indicadores socioeconômicos (para ricos e pobres, brancos e negros, nativos e imigrantes) e a redução das tensões mundiais a partir dos avanços diplomáticos com a Coréia do Norte.
Ou, seja: um absurdo. Que fascismo frouxo é esse? Não se pode confiar em mais ninguém.
E aí se dá o espanto, que você, antropólogo do século 22 lendo agora o acervo milenar da Forbes, está convidado a decifrar: mais de 90% do noticiário daquele longínquo 2019 continuava tratando Trump como o cão chupando manga, numa espécie de divórcio litigioso com os dados da realidade. Nota: “realidade” era uma entidade reacionária que afrontava a cartilha dos virtuosos.
No Brasil, o PT e seus (muitos) genéricos apostaram na assombração fascista como a salvação para sua reputação bandida. Bolsonaro surgiu como o efeito colateral desse transformismo cívico (que tentava vender Lula como alternativa democrática ao autoritarismo…). E não cumpriu seu papel: em vez de ressuscitar a ditadura de 64, levou ao poder uma equipe econômica liberal, conceituada internacionalmente, com uma agenda reformista de primeira linha. Enfim, uma fraude.
Felizmente, tanto Bolsonaro quanto Trump, caricaturas que são, se mantêm fiéis a certos maneirismos rudes, bem amplificados por coadjuvantes folclóricos que fazem questão de manter à sua volta – senão também já seria traição demais. Dito isso, o que fazem esses dois representantes do fascismo na Terra num encontro para promover as liberdades econômicas e individuais? Escândalo!
Fez muito bem a maioria da imprensa internacional: continuou tratando a visita do presidente brasileiro à Casa Branca como a cúpula dos cães chupando manga contra o mundo da bondade. Quem esses dois pensam que são para conspirar contra a escalada do fascismo imaginário?
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