“É preciso que as soluções de curto prazo se enquadrem numa perspectiva de longo prazo.” (Albert Fishlow, cientista político, economista e professor norte-americano)
O Brasil é um dos dez países do mundo com maior potencial para o mercado de seguros. A bússola que aponta esse dado é o Índice Global de Potencial Segurador, estudo realizado em 96 países pela empresa espanhola Mapfre. Estamos na frente de países como França, Espanha, Itália e Reino Unido. Para chegar a essa conclusão, foram analisados fatores econômicos e demográficos, como o nível de participação dos seguros em relação ao número de habitantes, o patamar de renda da população, o avanço da atividade e prêmios pagos pelas seguradoras em relação ao PIB, dentre outras variáveis – tudo disponível na web.
O dado é alvissareiro porque, segundo os cálculos dos operadores do setor, o país ainda é relativamente novo nesse mercado. Isso apesar de a história do seguro ser anterior, em mais de 20 séculos, ao advento da Era Cristã. Naquele longínquo passado, regido pelos impérios babilônicos, as caravanas cruzavam os desertos usando camelos – e mutualizavam os prejuízos com as perdas dos animais.
A história progrediu, o papel substituiu os acordos verbais e, desde o século 14, o mercado de seguros é regido por apólices, sendo a primeira delas emitida em Gênova, em 1347. Quase 500 anos se passariam até que o instrumento chegasse ao Brasil Colônia, com a abertura comercial promovida em 1808 por D. João VI.
Mais de 200 anos depois, o Brasil é um grande mercado em potencial e escala, como já dito, mas cujo desempenho ainda é pífio, posto que menos de 20% dos brasileiros têm algum tipo de seguro de vida contratado. Os dados, provenientes de estudo realizado em 2017 pela Universidade de Oxford, nos colocam entre os piores em uma lista de 11 nações pesquisadas.
A baixa taxa de adesão aos diferentes tipos de seguro decorre, em parte, das constantes turbulências econômicas e, por óbvio, do índice de desemprego. Outro fator é que os investimentos de longo prazo são uma realidade recente para os brasileiros.
A perspectiva, porém, é boa, segundo o mesmo estudo. O que o levantamento permite interpretar é que a transformação do que é potencial em ato realizável dependerá da macroeconomia. Se o país equilibrar as contas públicas e aprovar reformas estruturais, como a da Previdência, o Brasil será um paraíso para as seguradoras. Recorrendo à metáfora de um copo com água pela metade, essa é a perspectiva de quem valoriza a parte cheia.
A levar em conta uma perspectiva negativa – a do copo meio vazio –, a situação é preocupante, pois o Brasil ainda não tem garantias políticas suficientemente dadas de que tais reformas estruturais sairão do papel. Os recentes e desnecessários quiproquós com o Congresso, aos olhos dos players de mercado, são sintomas de que algumas peças precisam ser encaixadas para que se retome o crescimento econômico. A instabilidade, somada à insegurança jurídica, significa riscos que encarecem os preços de todos os seguros e, portanto, inviabiliza o crescimento possível.
Desde o tempo dos camelos, na era dos sumérios, o seguro passou a ser usado para garantir proteção contra tudo. Dos carros à vida, passando por empresas, prédios e incêndios, quase qualquer bem pode ser segurado. Infelizmente, não se inventou seguro contra a imprevidência e a falta de bom senso tão comuns a uma boa parcela de nossos agentes políticos – e isso não é problema exclusivo do Brasil, haja vista certos problemas mundiais, como o caso do Brexit.
Não temos, infelizmente, apólices contra a inconsequência da política. Mas é possível, por meio do exercício saudável da crítica, auxiliar na escolha de rumos que signifiquem uma retomada benéfica a todos os mercados, inclusive o das seguradoras.
“É preciso que as soluções de curto prazo se enquadrem numa perspectiva de longo prazo”, dizia o já citado Albert Fishlow, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley. Adaptado ao Brasil, o recado poderia ser resumido na famosa máxima popular: “Seguro morreu de velho”.
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