Muitas vezes me pergunto se andar à frente de seu tempo cria mesmo riquezas e ajuda a mapear e desbravar novas trilhas, sabendo que só andando se fazem os caminhos. Olhando para trás e analisando certos fatos, concluí que sim, sempre vale a pena ser o pioneiro e beber da fonte a água mais cristalina.
Pautei minha vida assim, procurando na inovação o estímulo para deixar algo de que as gerações futuras pudessem usufruir e o país se enriquecer.
Do conhecimento ou da vivência com todos os presidentes da República, de Geisel a Bolsonaro, aprendi que a construção de uma grande nação envolve compromissos, entendimentos e visões estratégicas e que, respeitando-se a moralidade pública e o respeito aos dinheiros públicos, a política é a arte de bem servir.
Da galeria de suas fotos em meu escritório relembrei-me de fases difíceis da política e da economia do país e de que, de modo simples e humilde, pude colaborar colocando um grão de areia na história de nossa pátria.
O trabalho voluntário na presidência do Projeto Rondon – no qual elevamos, em três anos, de 15 mil a 150 mil estudantes ordeiros e dedicados –, a abertura democrática de Figueiredo, o entendimento social do novo projeto nuclear brasileiro, a revolução do carro a álcool, o lançamento do primeiro computador pessoal, a implantação do celular brasileiro, as pazes entre o Vaticano e o governo e as classes produtoras brasileiras e, por fim, o ingresso de bilhões de dólares canalizados à produção industrial e comercial no país.
Sem falar da ajuda na transição Figueiredo-Tancredo e Walter Pires, todos cheios de birras pessoais e egos monumentais, e entre os quais fui o pombo-correio que ajudou a abortar qualquer ruptura no processo de abertura democrática.
A abertura de escritórios pioneiros na China e da CNI, em Washington, em 1981, decisões certamente muito à frente de seu tempo.
Perdoem-me os leitores esta pequena e insípida digressão, mas em minha defesa digo que a faço porque pouco tenho a me arrepender do tempo perdido e da decisão de estar sempre um passo à frente de meu tempo. Mas, sendo o tema desta coluna a busca do tempo perdido descrita por Proust, não pude deixar de olhar meu passado e relembrar a trajetória do Brasil desde 1980.
O país era a sétima maior economia do mundo. O FMI nos mostra hoje a Indonésia nos ultrapassando na soma das riquezas e no plano social, dado o avanço inacreditável da pobreza e da miséria da população brasileira. No lançamento do Plano Real, importantíssimo, pelo presidente Itamar Franco, e com todos os méritos executado por Fernando Henrique, R$ 1 valia US$ 0,80. Hoje a moeda norte-americana vale R$ 4 – em 20 anos, o real depreciou-se 500% em relação ao dólar, um empobrecimento em relação ao mundo desenvolvido em padrões acima dos normais na história moderna de nações democráticas e razoavelmente organizadas. E a nossa renda per capita, que na época equivalia a mais de 60% da renda americana, hoje está ao redor de 25%.
Em 20 anos, tivemos um empobrecimento em relação ao mundo desenvolvido em padrões acima dos normaisMinha pergunta: fizemos uma bela e socialmente progressista trajetória ou fomos tragados por um mar de inconsequentes e obtusas decisões que nos deixaram a reboque da história?
Sobre essa reflexão concluo que a busca do tempo perdido é imprescindível. Só a razão e a vontade política lastreadas na coragem podem nos levar do mea culpa à trilha da recuperação do tempo por nós desperdiçado.
É chegada a hora da ruptura. Uma ruptura democrática e constitucional. Como dizia Proust: “Só nos curamos de um sofrimento depois de o haver suportado até ao fim”.
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