Conversa entre dois jornalistas investigativos de último tipo:
_ E o Deltan, hein?
_ Caiu bonito!
_ Lava Jato já era.
_ A gente é bom.
_ Jornalismo é missão, meu caro.
_ Missão cumprida!
_ Como assim?
_ Ué, não era pra ferrar os menudos do Moro?
_ Era, mas não é pra falar isso.
_ Porra, só tem a gente aqui.
_ Tá, mas se amanhã alguém me compra eu posso te detonar…
_ O que?!
_ Não… “Compra” que eu digo é se alguém me encanta com uma verdade superior.
_ Ah, tá. Tipo o Lula fez com a gente.
_ É… Tipo isso.
_ Cara, mas Lula só tem um!
_ Você que pensa.
_ Ah, dane-se. Prefiro me concentrar na missão jornalística. Se mudarem a missão, eu mudo o jornalismo. Aí fica tudo igual.
_ Perfeito. Acho que você entendeu o Einstein.
_ Ele não era tão relativo assim. Mas confesso que estudei muito.
_ Seu professor de física era aquele gente boa do PSOL?
_ Não lembro se era física, mas PSOL com certeza.
_ É, não dá pra lembrar tudo.
_ Se esses caras da Lava Jato tivessem tido a formação democrática que a gente teve não tavam aí tentando censurar os outros.
_ Muito menos censurar um preso político como o Lula, perseguido injustamente no lugar de um amigo dele.
_ De um, não. De vários. O do triplex, o do sítio, o da cobertura em São Bernardo, o do terreno do Instituto Amigo do Lula, o de Angola, o da Medida Provisória, o da sonda, o da…
_ Resume aí, cara. O Lula tem um milhão de amigos. Ponto.
_ Imagina: um milhão de amigos querendo ouvir uma entrevista sua de dentro da cadeia e esses fascistas da Lava Jato tentando te censurar…
_ Pois é. Pros que tão presos também até nem faz tanta diferença, mas os que tão soltos precisam saber o que fazer com a grana…
_ Não, mas esse lance de decidir se é pra investir em pneu velho, em mortadela, em juiz, em jornalista… isso os advogados repassam.
_ Tudo bem, mas não é a mesma coisa. É angustiante ficar sem ouvir aquela voz.
_ O fato é que a Lava Jato perdeu e a entrevista foi linda!
_ Impressionante a pureza do Lula quando não tem nenhum fascista pra atrapalhar.
_ Eu acho que vi a auréola dele.
_ Aquilo é efeito.
_ De quem? Da Polícia Federal?
_ Claro que não. Quando a alma é muito honesta ela projeta uma luz que só jornalista investigativo como a gente enxerga.
_ Ah, tá. Mas então dá no mesmo.
_ É, dá no mesmo.
_ Qualquer coisa se não ficar legal a gente edita.
_ Pronto.
_ Missão é missão.
_ Se mudar, me avisa.
_ Te aviso. Ou te detono, o que for melhor pra mim.
_ Aprendo muito com o seu pragmatismo.
_ Em primeiro lugar a lealdade.
_ Ah, tanto faz. Depois a gente edita isso.
_ Ok.
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