Resumo:
- Investidores de criptomoedas têm, em média, 42 anos, mas quem entende melhor o que é a tecnologia são os jovens;
- O universo cripto pode ser definido em linhas gerais, como uma forma mais rápida, segura e barata de fazer transações bancárias;
- É preciso parar de pensar em bitcoin como moeda e começar a pensar em como essa tecnologia mudará a forma como usamos a internet.
Tenho 43 anos e sou o chefe global de pesquisa de uma gerenciadora especialista em cripto-ativos. De acordo com uma pesquisa recente, isso me coloca apenas um ano acima da média de quem investe em criptomoedas. Mas, na minha experiência, a diferença de idade é maior. Goste ou não, os jovens têm mais facilidade para entender o universo cripto.
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Quando falei para a minha filha de 12 anos que estava deixando minha carreira de investimentos na bolsa de valores para focar em cripto-ativos, no ano passado, ela deu de ombros e disse: “Dinheiro digital, né? Legal”. Mas a opinião do meu sogro foi diferente: “Isso não é usado por criminosos?”
O desafio está, principalmente, na maneira como nativos em linguagem de criptomoeda falam. Eles usam palavras como “algoritmos de consenso” e “descentralização” e depois nos dizem que essas são as razões pelas quais “o cripto obviamente mudará tudo”.
Como assim? Como esse dinheiro mágico da internet pode “mudar tudo” quando eu nunca o vejo no dia a dia?
A resposta é parar de pensar em bitcoin como moeda e começar a pensar nisso como uma tecnologia, que muda a forma como usamos a internet.
Há uma beleza dupla em fazer isso: primeiro, ganhar um entendimento mais preciso do que é o mundo cripto; segundo, porque as pessoas, especificamente acima de 40 anos, já viram grandes avanços tecnológico antes, elas sabem como a história termina. Mais importante, elas sabem como lucrar com isso. Vamos à explicação:
O que a história da internet nos ensina sobre criptomoedas
Aqueles de nós com mais de 40 anos podem se lembrar no início da internet, quando era preciso procurar websites em livretos impressos, quando e-mails não existiam, quando se podia fazer muita coisa além de enviar arquivos. Alguns vão até se lembrar de enviá-los com o programa FTP.
A sigla quer dizer “File Transfer Protocol” (protocolo de transferência de arquivos). “Protocolo” é uma palavra chique que significa um conjunto de instruções sobre como transferir informações pela internet. Nos primórdios, os arquivos eram a única coisa que você conseguia enviar pela internet.
Isso não aconteceu, claro, porque ninguém queria enviar e-mails, voz ou vídeos. É só que ninguém sabia como. Mais especificamente, ninguém havia descoberto os “protocolos” certos que permitiriam fazer todas essas coisas maravilhosas. Além disso, a rede não era rápida o suficiente. Com o tempo, fomos progredindo.
Em 1982, pesquisadores desenvolveram algo chamado “Simple Mail Transmission Protocol” ou SMTP. A tecnologia nos permitiu enviar e-mails. Você deve ter notado, às vezes, quando clica em um link na web para enviar um e-mail para alguém, o link começa com “smtp”.
Em 1989, demos outro grande passo à frente com a criação do “Hypertext Transfer Protocol” ou HTTP. A ferramenta de comunicação nos permite enviar páginas da web com texto vinculado (ou “hyperlinks”). Isso deu origem à “World Wide Web”, o “www” dos sites.
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Em 1994, o protocolo “Secure Sockets Layer” foi criado. O SSL nos permite inserir com segurança informações confidenciais na internet, como dados pessoais ou de cartão de crédito. Não por coincidência, a Amazon foi fundada no final daquele ano.
Houve outras descobertas ao longo do caminho, como o “Voice Over Internet Protocol” ou Voip, criado em 1995, que mudou as telecomunicações para sempre; e o “Real-Time Streaming Protocol” ou RTSP, criado em 1996, ajudou a ativar o streaming de vídeo. E assim por diante.
De longe, cada um desses avanços parecia sem precedentes. Mas, na realidade, eles foram apenas um primeiro passo para como a internet começaria a ser usada.
Cripto como novo protocolo de internet
O caminho certo para se pensar em bitcoin, criptografia e blockchains públicos é como a próxima etapa dessa evolução. Em vez de enviar apenas arquivos, e-mail ou áudios, a novidade nos permite enviar dinheiro.
Claro, existem bancos online e serviços de pagamento virtuais há décadas. Mas eles sempre foram híbridos ou pontes: já que extraem cada transação e as processam no mundo físico tradicional.
É possível entender isso mesmo como consumidor. Veja:
- Se eu pagar minha conta de internet a partir da minha conta bancária online, por que demoram cinco dias até que o pagamento caia?
- Por que as empresas de cartão de crédito -e serviços como o PayPal- cobram dos comerciantes 3% a cada compra feita?
- Por que, em uma era de bate-papo por vídeo gratuito e instantâneo, há taxas e demora para enviar dinheiro para outro país.
- A resposta para essas perguntas é que ainda não tínhamos o “protocolo” adequado para fazer isso online e sem ajuda humana. Isso durou até a publicação do Protocolo Bitcoin, em 2009.
Como o bitcoin e o cripto mudam tudo
O avanço deste protocolo -a razão pela qual “tudo vai mudar”- é que ele permite o envio nativo de dinheiro pela internet, sem um banco ou um provedor de serviços como intermediário. Isso é um grande negócio
Para começar, isso nos permite fazer coisas que já fazemos hoje, mas mais rápido, melhor e de forma mais econômica. Por exemplo, se você quiser transferir US$ 10 milhões para alguém em outro país, precisa de três a cinco dias. Ainda há a chance de a transferência ser negada, além das altas taxas. Com o bitcoin, a transação demora cerca de dez minutos, gratuitamente e pode ser feita a qualquer hora e dia da semana.
Qual deles é mais a cara da internet que conhecemos e amamos? Mais do que isso, esse novo protocolo nos permite fazer coisas inteiramente novas que nunca sonhamos antes.
Podemos, pela primeira vez, programar dinheiro. Em vez de usar advogados e banqueiros de investimento, você pode criar contratos, confianças, entidades ou conjunto de instruções financeiras de graça e com códigos. Isso significa interromper serviços como depósito, emissão de dívida, derivativos, criação de fundos, captação de recursos e outros.
E as moedas atuais que estamos falando? Como o próprio bitcoin, ether e tantas outras?
Elas são o combustível que alimenta os blockchains públicos. Ou seja, para usar essa nova tecnologia da internet, e movimentar instantaneamente dinheiro ao redor do mundo da moeda ou para substituir os bancos de investimento pelo blockchain da plataforma especializada Ethereum, você precisa possuir e usar o bitcoin ou o ether. Caso contrário, você está de volta ao mundo híbrido com a transferência digital/física.
Muitos investidores inteligentes estão comprando bitcoin e ether hoje, antes de todos descobrirem o valor dessas novas tecnologias.
O que isso significa para o futuro?
Para quem viveu a história da internet, sabemos que todos os novos protocolos da Internet criaram grandes indústrias:
- SMTP criou o e-mail, que impactou os correios;
- O HTTP criou a web, que mudou a mídia e a publicidade;
- O SSL criou o comércio pela internet e transformou o varejo;
- O RTSP criou streaming e revolucionou a indústria do entretenimento.
Permitindo que o dinheiro viaje pela internet, as criptomoedas vão atrapalhar a indústria financeira da mesma forma que a Amazon bagunçou as lojas de departamentos.
Então, se você tem mais de 40 anos como eu ou não entende nada de bitcoin, e alguém começa a usar termos difíceis em uma conversa sobre criptomoedas e teoria versus prática, não há problema em não prestar tanta atenção a isso. São detalhes de engenharia que não precisam ser necessariamente entendidos.
Basta lembrar que o mundo cripto é feito de protocolos de software que permitem enviar dinheiro pela internet.
Ou como minha filha diria: “Dinheiro digital, né? Legal”.
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