Resumo:
- O ex-cientista da Nasa Tony Atti criou um chip capaz de mudar a temperatura de colchões, alimentos e unidades de resfriamento para laboratórios e hospitais;
- Segundos estimativas, em 2018, a empresa gerou uma receita de US$ 10 milhões;
- Na tecnologia da Phononic, energia elétrica é transmitida por condutores, que conseguem expulsar o calor e manter uma temperatura fria constante.
Tony Atti, CEO da Phononic, sorri enquanto o engenheiro chefe da empresa segura uma caixa preta do tamanho de uma caixa de correio em sua sede em Durham, Carolina do Norte. O objeto fornece a energia para aquecer e resfriar um colchão inteligente, graças aos chips Phononic que enviam correntes reguladoras de calor para uma cama de alta tecnologia. A alternativa, com ventiladores de aquecimento e resfriamento convencionais, era cerca de 100 vezes maior, ocupando mais espaço do que o próprio colchão.
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“Nós queremos ser conhecidos por aquele motor de resfriamento central que faz tudo funcionar”, diz Atti. Investidores como a Venrock, a GGV Capital e o cofundador da Nest, Tony Fadell, que também é um membro do conselho da empresa, compraram a ideia e investiram US$ 159 milhões na startup, que vale hoje cerca de US$ 280 milhões, segundo a Pitchbook. A “Forbes” estima que a receita gerada no último ano foi de US$ 10 milhões, graças às vendas de componentes de resfriamento, refrigeradores e freezers. A empresa se recusou a comentar sobre suas vendas.
Ganhar o fabricante de colchões Bryte Labs com o slogan “Phononic Inside” foi um gol para Atti, aos seus 45. O empresário passou a última década tentando convencer empresas industriais de que suas ágeis unidades de refrigeração em estado sólido poderiam ser usadas para manter remédios e comida conservados de forma mais barata e confiável do que os refrigeradores tradicionais que utilizavam compressores mecânicos barulhentos e volumosos e poluentes como o freon. Ele nem sempre conseguiu.
No começo, os engenheiros industriais ouviam a palavra “termoelétrica” e desistiam imediatamente. A tecnologia existe desde 1830, quando o cientista francês Louis Peltier descobriu que uma corrente elétrica percorrendo dois conjuntos de materiais condutores criava um efeito de resfriamento de um lado, empurrando o calor para o outro. Com o advento da luz elétrica nas cidades, no final do século 19, o avanço, que agora leva o nome de Peltier, prometia uma maneira revolucionária de manter as casas quentes e a comida fresca, embora depois tenha fracassado como ferramenta comercial. Pequenas imperfeições nos condutores de metal tornaram o processo pouco confiável e ineficiente, especialmente após a descoberta do freon, nos anos 1920, ainda que o agente de resfriamento químico esteja agora sendo descontinuado, pois prejudica a camada de ozônio. Durante o século 20, o resfriamento termoelétrico foi amplamente relegado a nichos como lasers e resfriadores de vinho domésticos.
Depois vieram os avanços da computação, como o microchip. A mesma tecnologia dos anos 1980, que permitiu aos engenheiros da Intel embalar transistores minúsculos em chips de silício também tornou os painéis solares mais finos e levou a diodos emissores de luz para lâmpadas, TVs e telas de computador.
Agora, diz Atti, é a vez da termoelétrica. Ele ficou percebeu que pesquisas universitárias poderiam ser um investimento de risco na busca de acordos de energia e achou que a oportunidade estava madura. “A ciência dos materiais e a engenharia de processos deram origem a dados, comunicação, energia solar e led. Por que não resfriamento e refrigeração?”, pergunta ele.
Criado na cidade de Buffalo, Nova York, em uma família ítalo-americana, Atti é Ph.D. em química orgânica na Universidade do Sul da Califórnia e fez parte do laboratório de propulsão a jato da Nasa, em Pasadena, como cientista de pesquisa de pós-doutorado. Focado em empreender, ele deixou o laboratório em 2000 para começar a investir, então conquistou seu MBA.
Durante esse período, Atti conheceu o professor da Universidade de Oklahoma Patrick McCann, que estava pesquisando resfriamento termoelétrico. Inspirados, Atti e McCann co-fundaram a Phononic em 2009 com Matt Trevithick, então sócio da empresa de capital de risco Venrock. Os fundadores se estabeleceram em Durham, apoiados em US$ 2 milhões da Venrock e uma doação de US $ 3 milhões do Departamento de Energia dos EUA.
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Quando a empresa começou a comercializar suas unidades de resfriamento, o legado desapontador da termoelétrica se provou ser um obstáculo. Atti decidiu que a Phononic construiria seus próprios produtos nos mercados mais desafiadores, com a ideia de que o sucesso se propagaria. “Fomos ao valentão no parquinho e lhe demos um soco no rosto para provar que nossa tecnologia era viável”, diz ele.
O primeiro soco foi destinado ao mercado de ciências médicas. Apoiada por outros US$ 15 milhões em capital de risco, a Phononic começou a oferecer aos hospitais e centros de pesquisa uma linha de refrigeradores de estado sólido que economizava mais espaço na mesma área quadrada do que os frigoríficos e controladores de temperatura mais refinados. As apostas eram altas. “Se colocássemos em risco remédios e vacinas, nossa reputação é alavancada”, lembra ele.
A Phononic assinou contratos com empresas da área, como a UNC Rex Healthcare, de Raleigh, Carolina do Norte, e logo estava entregando milhares de unidades do refigerador Evolve por ano. Concorrentes tomaram conhecimento, e, em 2018, a Thermo Fisher Scientific, empresa de capitalização de mercado de US$ 112 bilhões, assinou um acordo exclusivo para usar os chips da Phononic em duas linhas de geladeira, com valores iniciais entre US$ 3.100 e mais de US$ 6.000. A Phononic espera embarcar mais de 5.000 produtos do segmento neste ano: unidades de resfriamento para a Thermo Fisher e da própria marca Evolve.
O segundo golpe da empresa foi direcionado ao nicho das termoelétricas: resfriamento dos lasers para fibra óptica da internet. Os componentes, vendidos por menos de US$ 20, oferecem de 10% a 30% mais eficiência do que os concorrentes termoelétricos como os da TEC Microsystems, afirma a Phononic. Isso pode reduzir milhares de dólares em custos para os data centers. Nos últimos dois anos, a Phononic vendeu mais de dois milhões de componentes de resfriamento a laser, o equivalente a cerca de 30% de suas receitas totais de 2018. Eles provavelmente contabilizarão metade da receita da empresa, estimada pela “Forbes” em US$ 20 milhões neste ano.
Satisfeita, a Phononic ganhou respeito. Atti entrou no mercado global de US$ 33,5 bilhões da refrigeração comercial. Em 2019, a firma de 140 funcionários assinou um contrato com a Pepsi Bottling Company por várias centenas de refrigeradores.
O maior obstáculo enfrentado é o custo inicial. Seus refrigeradores de alimentos e bebidas tendem a ser mais caros do que as unidades de compressores tradicionais. Mais confiabilidade e redução de custos (interiores maiores significam menos reposição de estoque, por exemplo) devem compensar isso, diz Atti.
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“Quando eles se tornam mais escaláveis, à medida que os custos caem, eles se tornam mais e mais relevantes em uma indústria como a nossa”, diz o vice-presidente da Pepsi Bottling, Randy Quirk, que estima que levará três anos e meio à Distribuidora da Pepsi para recuperar os custos extras de uma geladeira Phononic.
O ceticismo inicial está desaparecendo, mesmo que o CEO ainda esteja lutando contra a inércia de uma indústria confortável com a tecnologia secular. A Phononic está produzindo freezers de bancada para companhias como a Unilever, dona dos sorvetes Breyers e Good Humor. Quem visitar a arena de hóquei PNC Arena, em Raleigh, pode comprar sorvetes resfriados em freezers Phononic. A empresa também está trabalhando com parceiros na Ásia para explorar a tecnologia de ar-condicionado.
Alguns clientes “informaram outras pessoas de que não estão mais comprando soluções baseadas em compressores”, diz Atti. “Isso para mim é poderoso.”
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