Resumo:
- Um kit para fazer modificações genéticas em casa pode ser comprado por menos de US$ 200;
- Biohackers já reeditaram doenças extintas e alguns usam as modificações como forma de expressão;
- Diferentemente dos Estados Unidos, o biohacking é regulado na Europa.
A modificação genética não está apenas nos laboratórios das universidades. Os biohackers são cada vez mais comuns. Trabalham em suas garagens modificando o genoma de humanos e de bactérias. Alguns fazem isso como uma forma de se expressar, outros esperam erradicar doenças.
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É fácil começar. Com pouco investimento e conhecimento técnico raso, é possível entrar no mundo do biohacking. Sem regulamentação, alguns temem que os “cientistas” possam causar grandes problemas, como a liberação de uma arma biológica geneticamente modificada ou uma modificação humana genética. Mas devemos esperar algum tipo de regulamentação?
Um kit DIY CRISPR é vendido por menos de US$ 200. Existem diversas experiências que podem ser feitas -desde a manipulação dos genes de bactérias e leveduras até a auto-experimentação. Alguns já realizaram manipulação genética em si mesmos como uma forma de expressão. Outros querem tentar melhorar sua força ou propor um tratamento para doenças como HIV ou herpes. Ao contrário da Europa, os Estados Unidos não regulamenta os testes fora dos laboratórios licenciados.
Enquanto ainda estava no ensino médio, Keoni Gandall praticou biohacking em seu laboratório em casa. Sua imprudência o expulsou de uma feira de ciências. Uma equipe da Universidade de Alberta criou do zero uma versão extinta da varíola, usando biohacking. Isso mostrou a facilidade para alguém criar uma arma biológica.
As coisas podem ficar particularmente perigosas quando esses biohackers modificam a linha germinativa. As modificações de DNA não se limitam ao indivíduo e podem ser passadas de geração em geração. Tais modificações podem ser impossíveis de parar e causar problemas terríveis se algo der errado.
Mas nem todo biohacking é ruim ou irresponsável.
Por exemplo, todos os anos a Fundação iGEM organiza a Competição Internacional de Máquinas Geneticamente Modificadas. Os alunos estudam biologia sintética ou biohacking, para construir e projetar sistemas biológicos. Mas os padrões éticos da competição são altos. As equipes precisam considerar todas as facetas de seus projetos, como segurança, práticas humanas, sustentabilidade e ética. “A iGEM costuma usar tecnologias viáveis. Isso significa que, muitas vezes, os órgãos reguladores e de supervisão não tiveram a chance de pensar nessas tecnologias”, diz Piers Millett, vice-presidente de segurança e proteção da Fundação.
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“Cada projeto é analisado quanto aos riscos de segurança que ele oferece, garantindo que não causemos danos à nossa comunidade ou às sociedades com as quais interagimos”, disse Millett em uma comunicação pessoal.
O comitê de segurança não apenas proíbe algumas atividades, como experimentação em seres humanos ou a liberação de patógenos, mas também analisa de perto certas atividades, como as que envolvem animais ou resistência antimicrobiana. As equipes também recebem prêmios por seu pensamento exemplar, segundo os padrões éticos impostos pela organização.
Em um comentário na “Science Magazine”, Patricia Zettler, professora assistente de direito na Faculdade Moritz de Direito da Universidade Estadual de Ohio, e seus colaboradores conversaram sobre como o biohacking pode ser regulado nos EUA sem sacrificar o progresso científico. Eles ressaltam que os kits DIY CRISPR se enquadram na jurisdição da FDA (agência federal americana Food and Drug Administration), que, entretanto, até agora não impôs nenhum padrão para os biohackers.
Muitos na comunidade de produção caseira ficam confusos sobre o que podem e o que não podem fazer. “Dada a confusão contínua de alguns biohackers sobre a autoridade do FDA sobre seu trabalho, a agência pode começar esclarecendo os limites de sua jurisdição”, dizem eles, “enquanto procura feedback das comunidades de biohacking sobre como o FDA poderia exercer melhor sua autoridade neste setor”.
“Espero que haja uma oportunidade real para reguladores e comunidades de biohacking se envolverem significativamente”, diz Zettler em um comunicado. “Os reguladores não precisam agir como policiais, eles também podem se envolver com as comunidades”.
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