Dois anos depois de fazer história com o primeiro unicórnio do Brasil, o cofundador da 99 Paulo Veras prepara o lançamento de seus próximos grandes projetos na área de mobilidade e de serviços financeiros, enquanto ensina grandes corporações a inovar.
Veras atualmente aloca 20% de seu tempo para apoiar a reinvenção digital de empresas como a Localiza e a B2W, dona da Submarino e Americanas.com. O restante é dedicado a startups de alto crescimento. O empreendedor usa o Cubo Itaú como base e lá encontrou algumas de suas investidas, que incluem a CargoX, de logística, e a plataforma de integração de sistemas Digibee.
Foi também no Cubo que Veras conheceu os fundadores de um dos projetos nos quais aposta alto neste ano. Em conversa com a Forbes antes de uma apresentação de ex-alunos da escola de negócios Insead, o empreendedor compartilhou sua animação sobre o serviço, que ainda precisa de um nome e propõe a substituição dos ônibus fretados.
“Para pessoas que moram no subúrbio e trabalham no centro, não é economicamente viável pegar carro de aplicativo todo dia, mas o transporte público é muito limitado, principalmente se a pessoa mora e trabalha em lugares muito distantes”, aponta. “São centenas de milhares de pessoas nessa situação.”
O ônibus fretado não resolve este problema de mobilidade urbana, explica Veras, por conta da dificuldade de acesso a esta modalidade de transporte e o problema da “última milha.” O serviço que o empreendedor está apoiando envolverá motoristas de aplicativo, com veículos fornecidos por locadoras.
“O motorista pega três passageiros em Santos, sobe a serra, deixa esse pessoal na porta da fábrica em São Bernardo pelo mesmo valor do fretado e traz uma grande economia de tempo, eliminando a necessidade de ir até o ponto do fretado na partida e ir do ponto do fretado na chegada até a empresa”, explica.
“É uma oportunidade que junta motoristas de aplicativo, a disponibilidade dos carros de locadora e a emergência de uma ocupação profissional para atacar o mundo do fretado e dar uma solução melhor para as pessoas. É inovação na veia.”
O serviço, atualmente em fase beta com um pouco mais de uma dezena de rotas, pretende ganhar escala usando um método parecido com o que a 99 usou com táxis no começo de sua história. “Já existem 500 mil motoristas de aplicativo por aí, e essa turma toda se conhece. No início, gasta-se sola de sapato [na promoção], mas depois a marca fica conhecida, a lógica se inverte e as pessoas começam a procurar você.”
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A outra aposta de Veras é a Bro, uma plataforma de consórcio, na qual Ariel Lambrecht e Renato Freitas, seus sócios na 99, também são investidores. A equipe, de cerca de 12 pessoas, é liderada por Eduardo Rocha, ex-CEO da Rodobens.
A oferta está em fase beta, e a expectativa de lançamento é para o início de 2020, com possibilidades de ofertas que incluem veículos, festas e viagens. Segundo Veras, uma primeira opção de nome para a Bro era “Jabu”, em alusão å jabuticaba. ” O consórcio é um modelo muito brasileiro e cresce todo ano. É uma alternativa mais barata e inclusiva de acessar bens.”
“Curiosamente, é também um modelo super moderno que, no fundo, é economia compartilhada, com muita gente contribuindo para um bem. Mas o posicionamento das empresas do setor ainda é muito old school”, aponta.
A Bro está alinhada com a agenda do Banco Central (BC), de quem vai precisar de licença para operar, diz Veras. O empreendedor comenta sobre uma palestra recente do presidente do BC, Roberto Campos, que falou sobre um caso de um jovem que pagava a faculdade no cheque especial por ter a impressão de que este era o melhor caminho, pois o forçaria a quitar a dívida mais rápido.
“[Campos] contou esse exemplo para mostrar como a falta de educação financeira virou um problema grande para o país, pois as pessoas não estão educadas para os tipos de crédito, os prós e contras de cada um”, afirma. “O BC agora quer inclusão, tecnologia, competitividade, transparência e educação financeira. Estamos na mesma página.”
“A Bro traz o consórcio como ferramenta de educação financeira e planejamento. O brasileiro usa tudo o que sobra de dinheiro em consumo, não tem controle das contas, e isso precisa mudar.”
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Para Veras, que diversas vezes apontou a dificuldade de acesso a capital como uma das principais barreiras para o desenvolvimento do ecossistema de inovação brasileiro, a situação tem melhorado. “A escassez de recursos para colocar um negócio de pé e começar a acelerar acabou: bons projetos e times arrumam dinheiro hoje em dia.”
“Os maiores fundos ativos aqui, Monashees, Redpoint, Kaszek, levantaram novos fundos, mudamos de patamar, e o Brasil está muito mais inserido no mercado global em termos de acesso a capital. Isso é positivo.”
Por outro lado, Veras observa que há um certo deslumbramento no setor e que em breve haverão correções no Brasil na forma como se faz negócios quando o assunto é startups.
“Vemos um movimento de crescimento a qualquer custo, que o mercado comprou por um ou dois anos, mas não comprará mais, o que não muda a disponibilidade de capital no Brasil.”
Há o risco de uma nova bolha, mas o fundador de unicórnios diz acreditar que esse problema é tolerável. “Prefiro investimentos que vão dar errado porque foram feitos por euforia, mas que ao mesmo tempo todos os bons projetos consigam recurso para crescer. É melhor pecar pelo excesso do que pela falta.”
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O futuro do monitoramento anda de mãos dadas com a inteligência artificial, e o projeto WiderPerson ilustra isso. A Baidu, em parceria com a Academia Chinesa de Ciências, a Universidade do Sul da Califórnia e a Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Nanjing, criou um banco de dados que propõe facilitar o treinamento de sistemas de monitoramento de pessoas em multidões. O dataset inclui 13.382 imagens com 399.786 anotações (ou seja, quase 30 anotações por imagem) coletados em imagens de mecanismos de busca como o Google e o próprio Baidu, listadas em cinco categorias: pedestres, ciclistas, pessoa parcialmente visível, multidão e ignorar. A capacidade de detecção de pessoas do WiderPerson ainda é sujeita a falhas e falsos alarmes, mas o nível de detalhe é considerado inédito.
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O governo federal selecionou as 19 startups que irão para a China como parte do StartOut Brasil, programa que promove a imersão de novos negócios brasileiras em promissores ecossistemas de inovação de outros países. Atividades de um evento de dois dias na semana passada incluíram orientações do Ministério da Economia sobre a lição de casa que empreendedores devem fazer quanto a oportunidades para expansão internacional. As startups também receberam dicas de cultura e negócios de Reinaldo Ma, da Tozzini Freire Advogados. Em dezembro, as startups farão uma imersão em Xangai, onde a prioridade será estabelecer conexões com empresas chinesas. A iniciativa é realizada pelo Sebrae, Apex-Brasil, Anprotec e os ministérios da Economia e Relações Exteriores.
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A Philips promove entre hoje (22) e amanhã (23) um evento para discutir novas tecnologias no setor de saúde. O tema central é “Conectando os Pontos de Cuidado ao Paciente” e conta com discussões de tópicos como a influência da lei de proteção de dados no setor de saúde, bem como a gestão de dados das instituições de saúde. Palestrantes incluem gestores dos hospitais AC Camargo, Sírio Libanês, Oswaldo Cruz e outros. O evento acontece na Fecomercio, em São Paulo.
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O Twitter tem recebido marcas e agências em seu escritório em São Paulo para uma imersão em tendências e insights para 2020 e para apresentar e definir seu planejamento para o próximo ano. A primeira edição da iniciativa #UpfrontWeek acontece até sexta (25) e também inclui a apresentações de executivos e consultores do mercado.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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