Um protesto contra o racismo uniu dois técnicos que se enfrentavam no Maracanã. Marcão e Roger, os dois únicos técnicos negros do Campeonato Brasileiro, usaram camisetas iguais com a mensagem “chega de preconceito” em seu trabalho à beira do campo dirigindo Fluminense e Bahia, respectivamente. Eles afirmaram que o pequeno número de negros treinando times de futebol é consequência de discriminação racial.
Se a premissa estiver correta, seria importante que Marcão e Roger divulgassem os casos de preconceito que embasam sua denúncia. No ato de grande repercussão no Maracanã isso não foi feito. Quais clubes da atualidade, afinal, já recusaram um técnico pelo fato de ele ser negro? Que dirigente destratou ou segregou treinador por causa da cor de sua pele?
Na temporada passada, Roger foi contratado para dirigir o time de maior investimento do país na ocasião, o Palmeiras. A notícia na época não foi a cor da sua pele. O Flamengo lidera o campeonato com folga e possivelmente voltará a levantar a taça após dez anos – e na última conquista (2009) o time era dirigido por Andrade. A celebração na época não destacou o título conquistado por um negro, mas por um ex-campeão mundial do clube no lendário time de Zico.
Que experiências vividas por técnicos negros como Didi, no passado, ou Seedorf, no presente, poderiam indicar uma cultura hostil e desencorajadora para novos profissionais interessados na carreira? De que forma, num esporte que tem em Pelé o seu deus, a cor negra é fato de inibição para alguém?
O combate a todo tipo de preconceito precisa ser feito da forma mais consistente possível. Até para não ser confundido com panfletagem vazia, prática bastante comum nos dias de hoje que interessa a uma única minoria – o autor do panfleto. Quando a atriz Taís Araújo declarou viver num país onde as pessoas atravessam a rua ao ver o filho dela, a causa contra o racismo não avançou um milímetro. Ao contrário: testemunhos em descompasso com os fatos só predispõem contra a retórica.
É urgente distinguir os que combatem o conflito dos que precisam dele.
Guilherme Fiuza é jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos, autor dos best-sellers “Meu nome não é Johnny” (maior bilheteria do cinema nacional em 2008), “3.000 dias no bunker” (história do Plano Real, também adaptado para o cinema), “Bussunda – A vida do casseta”, entre outros. Escreveu o romance “O Império do Oprimido” e é coautor da minissérie “O Brado Retumbante” (TV Globo), indicada ao Emmy Internacional. Twitter: @GFiuza_Oficial
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