Uma mudança radical de mentalidade de gestores é necessária para que organizações brasileiras não sofram com baixa capacidade de inovação e competitividade, segundo Ruy Shiozawa, CEO do instituto Great Place To Work (GPTW).
O GPTW trabalha com empresas de todos os tamanhos e setores para apoiar melhorias em seus ambientes de trabalho e produz rankings das que estão bem neste quesito. Com base em suas observações na linha de frente, Shiozawa constata que a maior barreira à inovação está na dificuldade de gestores em assimilar novos modelos de negócio, bem como novas estruturas e relacionamentos corporativos.
Organizações ditas “tradicionais” sofrem ainda mais com estes desafios, acrescidos da ansiedade proveniente de mudanças no status quo: “O profissional com 30 anos de formado, que esperou outros tantos anos para virar um CEO e achava que seria o dono do mundo, agora descobre que não tem mais sala ou carro da empresa, que os benefícios são equitativos. É um choque.”
O especialista em cultura corporativa afirma que a troca de CEOs tem acontecido com maior frequência por conta de uma inabilidade de transformação cultural por parte destes profissionais, que resulta na incapacidade de inovação e melhora dos resultados das empresas que lideram.
“Muitos CEOs, que passaram anos fazendo coisas de um jeito, contando as mesmas piadas e tendo as mesmas atitudes inapropriadas, não conseguem se reinventar e estão sendo trocados por seus conselhos”, afirma.
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Segundo Shiozawa, um dos pontos mais problemáticos que gestores sedentos por inovação devem considerar antes de pensar em uma mesa de pingue pongue e paredes coloridas é a questão da diversidade.
Um estudo recente do GPTW com as mais de 330 empresas de capital aberto no Brasil revelou que 91% dos conselheiros destas organizações são homens. Dos 8% representados por mulheres, apenas 3% não são herdeiras, ou seja, foram escolhidas pelo mercado.
“Mostramos dados chocantes para provocar empresas sobre este tema, pois não se trata somente de uma questão de direitos humanos, mas do fato de que uma equipe diretiva muito pouco diversa sempre pensará do mesmo jeito e terá muitas dificuldades em inovar,” ressalta.
“Se não resolvermos este problema, aumentaremos nossa distância dos países mais desenvolvidos e perderemos competitividade.”
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Este engessamento cultural dos tomadores de decisão não é um problema exclusivo de empresas estabelecidas. Segundo um estudo da Distrito Dataminer, 98% dos fundadores de startups no Brasil são homens e a maioria é de backgrounds privilegiados.
Além disso, Shiozawa aponta casos de uso de problemas relacionados a lideranças disfuncionais e ambientes tóxicos em startups, com falta de confiança e preconceitos, informados por um padrão cultural estabelecido que se perpetua até mesmo em empresas consideradas disruptivas.
“Empreendedores precisam pensar em como vão formar seus líderes desde cedo, e não esperar chegar a 200 pessoas para começar a criar uma cultura e fazer uma gestão de pessoas positiva”, aponta. “Este pessoal tem chance de começar direito em vez de perceber os erros lá na frente e ter muito mais trabalho para mudar.”
Gestores que querem garantir ambientes de trabalho inovadores devem lembrar que a reinvenção e criação de modelos de negócio passa pela transformação cultural de quem lidera a organização, bem como o fato de que pessoas serão cada vez mais movidas por propósito.
“As pessoas têm procurado trabalhos que façam sentido. Empresas têm uma capacidade enorme de influência e contribuição para a sociedade, portanto, o executivo deve sempre considerar se sua decisão é melhor para as pessoas. Se não for, é melhor esquecer.
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O desafio de balancear a conectividade com a saúde mental é um dos temas do Indicador de Confiança Digital, produzido pela Fundação Getúlio Vargas. O estudo revela que 64% dos jovens brasileiros pararam temporariamente de usar sites como Facebook e Instagram como forma de se proteger, enquanto 34% abandonaram essas redes sociais por completo. Porém, o estudo aponta que muitos voltam a usar essas plataformas por medo de não acompanhar o que acontece em seus círculos de relações, o chamado “fear of missing out”, ou FOMO.
Para os adultos, o problema do FOMO, que remonta aos tempos do Blackberry, só tem piorado: uma pesquisa global da Deloitte revelou que usuários de smartphones consultam seus dispositivos 52 vezes por dia. Essa hiper-conectividade gera ansiedade acompanhada da sensação de que colaboradores não estão dando conta de suas funções, além de os distrair do trabalho, segundo Cary Cooper, do Fórum Nacional da Saúde e Bem-Estar no Trabalho, da Universidade de Manchester. O Fórum ajuda empresas a apoiar uma relação mais saudável de sua força de trabalho com a tecnologia, com atitudes como orientar gestores a pararem de responder emails durante a madrugada. Empresas como a Volkswagen e a rede de supermercados europeia Lidl já bloqueiam o acesso a emails fora do horário de expediente.
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Para atender ao crescente interesse de equipar crianças com as competências socioemocionais necessárias para os empregos do futuro, a Yázigi fechou uma parceria com a startup Explore Aprendizagem Criativa para lançar uma oferta de aprendizagem bilíngue no contraturno, que tem o objetivo de desenvolver em crianças e adolescentes habilidades socioemocionais por meio de atividades como a encenação de peças teatrais unindo recursos físicos e digitais para trabalhar a criatividade e autonomia dos alunos. A Pearson, dona da Yázigi, quer que 50 escolas da rede ofereçam o serviço em 2020 e que todas o tenham em três anos.
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Um evento realizado pela Prefeitura Municipal e pela Câmara Municipal de Campinas vai debater a inovação no governo e no setor público entre na quarta (23) e na quinta (24). O Seminário de Inovação em Governo será realizado no Plenário da Câmara Municipal e debaterá temas como a gestão de políticas ativas de emprego, design thinking para governos, o novo papel do servidor público e novos modelos de mobilidade urbana.
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As mudanças no cotidiano das empresas com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) serão discutidas em um seminário gratuito organizado pela consultoria e auditoria Mazars, que contará com palestras de especialistas da empresa e acontece no dia 29, na Escola Trevisan de Negócios, em São Paulo.
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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