Há 40 anos, em 19 de setembro de 1979, assinei, junto com o vice-presidente da República Aureliano Chaves, com o ministro João Camilo Pena e com mais dois ministros do governo do presidente João Figueiredo (também presente ao ato), o protocolo para produção de veículos automotores movidos integralmente a álcool. Fatos expressivos para o Brasil resultaram dessa assinatura.
Com o barril a US$ 65, poupamos, em 40 anos, mais de US$ 15 bilhões em divisas. Reduzimos a poluição do ar em São Paulo em cerca de 40% e não encostamos em nenhum hectare da Amazônia Legal. Levamos a agricultura a um salto de 6 milhões de toneladas de soja colhidas naquele ano para 127 milhões em 2019. Viramos o maior produtor mundial sem desmatar ou incendiar a floresta. Hoje o etanol move uma frota de veículos flex de 30 milhões de carros, equivalente à frota francesa.
Este apanhado retrata um país preocupado em continuar sendo o que cuida bem de sua megadiversidade e protege 74,5% de suas terras.
Do Proálcool até o protocolo assinado entre a iniciativa privada e o governo, a lição que fica é a da união de esforços que produziu, no curto prazo, 5 milhões de veículos a etanol, além de ajudar a integração nacional nas áreas de agricultura, comércio e indústria. O poder público e os empresários foram seus artífices, todos congregados na Comissão Nacional de Energia (CNE), o berço do protocolo.
“A lição que fica é a da união de esforços que produziu, no curto prazo, 5 milhões de veículos a etanol.”
Lançado em março de 2003, o veículo flex acumula, desde então, vendas de mais de 32 milhões de unidades, constituindo a maior frota mundial de automóveis com tecnologia flex do mundo. De 1976 a 2018, foram substituídos o uso e a importação de mais de 3 bilhões de barris de gasolina, um marco significativo para um país que possui reservas provadas de 12 bilhões de barris, incluindo o pré-sal. O valor econômico da gasolina substituída (calculado pela Datagro) equivale a mais de US$ 506 bilhões.
Plínio Nastari, presidente e membro do CNPE, lembra que, em termos ambientais, o fato de o etanol de cana ser praticamente neutro em emissão de gases causadores do efeito estufa transformou-o em uma das fontes de energia mais limpas para alimentar a mobilidade eficiente – tanto do ponto de vista energético como do ambiental. E, na mesma semana em que o Brasil comemora a assinatura do protocolo do carro a álcool, é lançado no país o primeiro veículo híbrido flex a etanol. Ele já é considerado o carro mais limpo do planeta: emitirá 27 gramas de CO2 por km.
Neste momento de reflexão sobre nossos erros na condução da política para um desenvolvimento programado para a Amazônia, que nos leva a debater em foros internacionais até mesmo a nossa inquestionável soberania sobre ela, as melhores armas de que dispomos são aquelas que já estão em nossas mãos.
A substituição de carbono que empreendemos com o carro a álcool (sucesso mundial), nosso código florestal, as reservas de áreas de preservação permanente, o respeito aos índios e, agora, a participação do Exército para coibir e punir os responsáveis por desmatamentos ilegais e queimadas – já disciplinadas em São Paulo e que deveriam há muito ser coibidas pelo poder federal – são fatos eloquentes. As metas de descarbonização aprovadas pelo Congresso em 2017 devem levar a uma redução acumulada de emissão de 686 milhões de toneladas de CO2 até 2029, o que corresponde a mais de um ano de emissões totais de um país da dimensão e expressão econômica como a França.
Perdemos apenas a batalha da comunicação. Nenhum país fez tanto na área da mobilidade quanto o Brasil, que sofre críticas injustas mesmo tendo desenvolvido o mais coerente e eficiente projeto de redução de emissão de carbono do planeta.
Mário Garnero
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