A gig economy, ou a economia baseada em trabalhos temporários, é frequentemente vista como uma ameaça aos empregos de outrora. Uma das críticas é que plataformas que operam nesse modelo criam empregos de baixa qualificação e remuneração, cada vez mais distantes da segurança e estabilidade do trabalho tradicional.
Por outro lado, o modelo foi a principal fonte de renda de 13% dos trabalhadores brasileiros em 2018, segundo a Boston Consulting Group. Segundo a consultoria, o formato se torna cada vez mais atrativo para empresas: 50% dos 6.500 executivos que a BCG consultou no mundo preveem que o uso da gig economy aumentará significativamente nos próximos três anos como forma de acessar freelancers.
O crescimento do marketplace de serviços GetNinjas, criado por Eduardo L’Hotellier, em 2011, mostra o aumento da representatividade do modelo no Brasil. Com 1 milhão de profissionais que oferecem serviços como reformas, assistência técnica e eventos em mais de 3 mil cidades, a startup terá transacionado R$ 500 milhões pela sua plataforma até o final de 2019.
L’Hotellier diz acreditar que o Brasil, embora avançado no consumo de produtos online, tem um atraso de quase duas décadas em termos de serviços via internet em relação a mercados desenvolvidos, mas a digitalização local segue em alta: 70% dos brasileiros têm acesso a web, segundo a pesquisa TIC Domicílios, e a GetNinjas busca aproveitar esse filão.
“O mercado [de serviços] ainda é predominantemente offline e informal, mas cresce de forma consistente, puxado por pessoas que agora procuram profissionais online”, aponta. “Estamos criando um destino para os serviços na internet, assim como a Amazon é um destino para produtos.”
A oportunidade para a startup paulistana é ilustrada nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo os quais o setor de serviços, que responde por 75,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, foi o que mais contribuiu para o avanço da economia em 2018. O GetNinjas diz que as categorias de serviços prestadas por meio de sua plataforma representam 8% deste valor, mas o site atualmente executa 0,1% dos serviços prestados no país, cerca de R$ 400 milhões.
O fundador da plataforma rebate as críticas ao modelo de gig economy ao ressaltar que, ao contrário de aplicativos nos quais um indivíduo adota uma nova ocupação para se manter em meio à crise, o foco da GetNinjas é promover a inclusão digital de prestadores de serviços.
“Nos diferenciamos de outras plataformas dentro do contexto de gig economy ao abranger um mercado já existente e o trazer para o mundo digital”, aponta.
Para endereçar os desafios e oportunidades da economia digital, a empresa está desenvolvendo a Academia Ninja, um projeto gratuito cuja meta é treinar a base de freelancers em habilidades como atendimento ao cliente, finanças e formalização, bem como fechando parcerias com empresas como a Saint-Gobain para a capacitação de profissionais.
“Para melhorar a competição e permitir que mais pessoas cresçam economicamente, é preciso iniciativas que tornem esses profissionais capacitados para concorrer em um mercado de crise”, ressalta.
“Pessoas que já tiveram uma oportunidade melhor de se qualificar entram no mercado e acabam tendo muito mais sucesso do que uma pessoa que ainda não teve meios de se especializar ou que não foi escolarizada.”
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O Centro Europeu de Estratégia Política prevê que, em dez anos, a automação terá avançado a tal ponto que haverá um declínio econômico para a maioria da população global. L’Hotellier argumenta que o GetNinjas continuará sendo relevante nesse cenário.
“Ao passo em que atividades mais ligadas ao esforço físico e atividades repetitivas são automatizadas, a tendência é que novos tipos de trabalho surjam, mais ligados à subjetividade e à criatividade”, ressalta. “Alguns serviços são mais automatizáveis que outros.”
Para qualificar sua tese, o empreendedor usa o exemplo de profissionais que executam diversos pequenos reparos, que têm menos chances de serem substituídos do que um construtor, cuja mão de obra é mais passível de automação. O mesmo se aplica a muitos dos serviços oferecidos pela GetNinjas, como arquiteto, encanador, eletricista, programador, psicólogo ou professor.
“Nesse cenário, nosso propósito é seguir gerando renda para esses profissionais e facilitar a vida de quem precisa encontrar um profissional qualificado”, afirma.
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Segundo L’Hotellier, a operação da empresa já atingiu o break-even e o investimento em marketing para aumentar a exposição do marketplace de serviços a clientes está sendo reforçado.
Apesar de a empresa ter mais caixa atualmente do que em anos anteriores, conversas têm ocorrido com fundos sobre um potencial novo aporte para a startup, cujos investidores incluem a Kaszek Ventures.
Segundo L’Hotellier, a oferta da GetNinjas tem grande aderência em países latinos, onde, assim como no Brasil, existe uma tendência muito forte de prestação de serviços. O lançamento no México no final de 2018 trouxe a necessidade de reformulação da plataforma para acomodar as particularidades de cada mercado como idioma e meios de pagamento.
Com a casa em ordem, o empreendedor quer aumentar a presença regional da empresa. Chile, Peru e Colômbia estão nos planos de expansão, assim como a Argentina. A empresa atualmente analisa a situação econômica dos países para dar o próximo passo no plano de internacionalização.
A instabilidade econômica da América Latina não abala L’Hotellier, que segue confiante na oportunidade bilionária de fazer a ponte digital entre prestadores e contratantes de serviços.
“Estamos construindo uma empresa para as próximas décadas: as turbulências de agora serão parte de um processo de construção do mercado do futuro”, diz o fundador. “Nossa aposta é no longo prazo.”
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Olivia quer gerar renda extra a usuários
A fintech Olivia, que atualmente prepara o lançamento no Brasil de uma ferramenta de planejamento financeiro baseada em inteligência artificial (IA), lançou uma rede de embaixadores, que serão pagos por indicações ao app.
A ferramenta traz uma assistente financeira virtual que propõe auxiliar seus usuários a melhorarem a gestão de suas finanças. Para cada usuário que se cadastrar na plataforma, R$ 8 serão pagos ao embaixador que o convidou. Depois de 100 indicações, embaixadores poderão receber um pagamento extra de R$ 100.
A startup, cuja ferramenta atualmente está em fase beta, diz ter uma lista de 30 mil interessados. Inscrições para o programa de embaixadores estarão abertas até o meio-dia de 28 de novembro.
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Mapfre premia inovação social
A Fundación Mapfre vai premiar três ideias inovadoras e com impacto social em mobilidade Sustentável e segurança viária, seguros e saúde. Realizada em colaboração com a IE University, a iniciativa da fundação espanhola da empresa de seguros acontece em três grandes regiões: Brasil, demais países da América Latina e Europa. Vencedores mundiais em cada categoria receberão aporte de 30 mil euros cada um para desenvolverem suas atividades, além de apoio especializado para promoção de seus projetos. A final acontece em junho de 2020, em Madri. Interessados devem se candidatar no site da entidade até 29 de novembro.
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Neon e Digital House fomentam programação entre mulheres
A fintech Neon, em parceria com a escola de programação Digital House, vai oferecer 40 bolsas de 85% para mulheres no curso de DevOps. O objetivo é dar mais espaço para que mais mulheres se interessem e tenham mais oportunidades na economia digital. As inscrições vão até o dia 1º de dezembro.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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