A CPI das fake news é o tribunal de exceção mais simpático que a história já viu. Soltar uma patrulha ensandecida contra a opinião pública – ou seja, contra todo mundo – fantasiado de gladiador da liberdade de expressão é de uma ousadia estilística sem precedentes. Como se sabe, parte da grande imprensa resolveu, tragicamente, apostar na panfletagem politicamente correta como diretriz mercadológica (burra), e o instrumento acessório do pacote é o seguinte: quem desmascarar essas campanhas fantasiadas de
jornalismo é milícia digital.
Daí em diante, segundo o novo paradigma noticioso, só vale fake news de grife – ou seja, essas amáveis distorções editoriais que embelezam a realidade ao gosto do dono. E a realidade mais bela oferecida nesse kit transformista é a execração do fascismo imaginário. Esses novos gênios da comunicação juram que seu público irá ao delírio se oferecerem a ele todo dia (toda hora) um panfleto novo sobre essa novela da onda obscurantista.
Desse modo, há uma lista de notícias falsas que a CPI não persegue, por se tratar de uma falsidade democrática, revolucionária e de boa aparência. Está liberado, por exemplo, fingir que contingenciamento de verbas é ataque fascista à educação. Pode mentir à vontade nesse campo que a CPI vai bocejar. Pode também plantar o ano inteiro a iminência da demissão do ministro Sérgio Moro – porque foi traído por Bolsonaro, ou porque traiu a
Lava Jato, ou porque está arrependido, isolado, deprimido ou o que você quiser. Vale encenar o apocalipse amazônico e transformar em bomba atômica contra o presidente a mentira de um porteiro – porque, como já esclarecido, mentira perfumada e de boa aparência pode.
A única coisa que não fica bem para quem está desfilando nessa passarela politicamente correta é não se assumir perante a sociedade. Quer derrubar o governo? Vá em frente, seja fiel ao seu objetivo. Mas faça a gentileza de sair do armário – porque todo mundo já viu o seu rabo de fora. É muito melhor do que ficar se contorcendo todo para esconder a agenda de recuperação do país, valendo até gritar que a eleição foi golpe do WhatsApp e a reforma da Previdência foi o Rodrigo Maia que fez.
Sinceramente, isso não é vida. Libertem-se, companheiros!
Guilherme Fiuza é jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos, autor dos best-sellers “Meu nome não é Johnny” (maior bilheteria do cinema nacional em 2008), “3.000 dias no bunker” (história do Plano Real, também adaptado para o cinema), “Bussunda – A vida do casseta”, entre outros. Escreveu o romance “O Império do Oprimido” e é coautor da minissérie “O Brado Retumbante” (TV Globo), indicada ao Emmy Internacional.
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