Após conversas com alguns dos maiores executivos do Brasil sobre os desafios de inovação que assolam as empresas, Ilian Mihov, reitor da tradicional escola de negócios Insead, reforça a visão de que um novo modelo corporativo precisa ser criado.
Segundo Mihov, o ponto mais relevante dos debates durante sua recente visita relâmpago a São Paulo foi a falta de informação sobre os reais problemas a serem endereçados por líderes, além da necessidade de gerar lucro.
“[Empresas têm se perguntado] qual é o impacto que causam no meio ambiente e na sociedade, e como outras organizações têm lidado com isso”, aponta Mihov. “Aumentar a conscientização e reunir mais informações é o primeiro passo, mas é possível que um real esforço tenha de ser feito e um novo modelo de negócios tenha de ser inventado.”
Apesar dos benefícios da inovação, a disrupção atualmente dá o tom das estratégias corporativas e tende a causar uma pressão negativa em sociedades, segundo o acadêmico, que propõe um modelo alternativo.
“Líderes de negócios precisam encontrar o equilíbrio e implementar inovação não-disruptiva e pensar como suas empresas podem ser uma força para o bem e aumentar prosperidade para todos”, ressalta.
Mihov cita o Grameen Bank, fundado pelo ganhador do prêmio Nobel da Paz, o bengalês Muhammad Yunus, como um exemplo de negócio que deu a luz ao microcrédito e que hoje é uma indústria de bilhões de dólares. “O que o [Grameen] ‘disruptou’ foi a miséria, e não as vidas das pessoas ou a indústria.”
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Segundo o reitor da Insead, países em desenvolvimento como o Brasil precisam de um novo contrato social, que seria celebrado entre empresas e a sociedade, em vez da atual relação dominante, entre governo e empresas.
“[O setor privado] tem muito mais alcance e é muito mais poderoso do que muitos governos”, aponta. “Se eles fizerem seu papel corretamente, haverá uma grande mudança positiva no mundo.”
“O conceito de empresas como força para o bem é importantíssimo: líderes precisam pensar sobre o impacto que suas organizações têm na sociedade e o meio ambiente em seus processos de geração de valor.”
A geração mais jovem de líderes e startups desempenhará um papel crítico nesse processo, segundo Mihov, mas as grandes organizações têm maior chance de gerar resultados mais rápido e em maior escala.
“Concordo que empreendedorismo e startups mudará as vidas das pessoas, mas não pode não ser suficiente para mudar o mundo”, aponta. “As organizações tradicionais que geram a maioria do PIB mundial têm mais poder para criar mudanças reais e duradouras e devem fazer sua parte para que isso aconteça.”
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Um dos maiores problemas que empresas enfrentam quando tentam alcançar o equilíbrio entre inovar para gerar lucro e fazer o bem para a sociedade, segundo Mihov, é encarar tal missão como um problema padrão de responsabilidade social corporativa (CSR).
“Para resolver o problema de inovar para o bem da empresa, sociedade e meio ambiente, a liderança da companhia precisa tomar posse dessa tarefa”, ressalta.
Outro possível cenário negativo é, em vez de delegar esse equilíbrio para o departamento de CSR, todo o peso vai para os ombros da liderança. “As boas intenções de um CEO não farão diferença se a importância de resolver os problemas do negócio e da sociedade com inovação não for abraçada pela organização inteira.”
O professor de economia aceita que até mesmo as empresas mais comprometidas terão de combinar a performance financeira com impacto sócio-ambiental. “Seria útil se organizações pudessem ter formas de dar sinais que estão chegando no limite do que conseguem fazer para a sociedade e o meio ambiente e ainda se manterem financeiramente viáveis.”
“Esses sinais deveriam chegar em inovadores, cientistas e outros atores, que podem pensar em como melhorar tecnologias ou modelos para garantir que o impacto positivo pode ser aumentado, bem como a performance financeira.”
O primeiro passo para se aproximar dessa visão, diz Mihov, é espalhar conscientização e convicção sobre estas possibilidades. “Deve então haver uma otimização de modelos de negócios e tecnologia, bem como o compartilhamento de conhecimento entre organizações”, explica. “O terceiro passo é a motivação da inovação, que deve originar não só do desejo de gerar lucro, mas de aumentar o impacto positivo na sociedade.”
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Um novo estudo buscou entender as oportunidades e desafios, bem como a compreensão do público quanto a aplicação de tecnologia no contexto de justiça aberta. A pesquisa foi elaborada pelo Policy Lab, uma unidade do governo britânico que conta com designers, cientistas sociais e “policy makers”, que focam em abordagens centradas em pessoas para o desenvolvimento de políticas públicas, usando ferramentas digitais.
O estudo sobre o conceito de “open justice” envolveu a participação de mais de 40 cidadãos em dois workshops em Londres e Manchester. As sessões investigaram o entendimento das pessoas sobre o sistema judiciário atual do país e desafiaram participantes a pensar sobre cenários futuros.
Possibilidades discutidas incluíram a disponibilização de uma lista de julgamentos online para incentivar participação nas sessões abertas ao público, bem como transmissão dos casos via YouTube e inclusão do conceito de justiça aberta no currículo escolar de cidadania.
Entre as conclusões, o estudo aponta que cidadãos britânicos já sentem que a justiça do país é aberta o suficiente e que abrir muito o sistema judiciário poderia nem ser tão positivo assim. Preocupações incluem a possibilidade de que o conceito de justiça aberta interfira no direito à privacidade dos envolvidos e que muita informação sobre os casos disponíveis online atraiam multidões de linchamento e tornem a justiça um circo para fins de entretenimento.
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Um novo projeto de lei propôs a prorrogação da data da entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), atualmente prevista para agosto do ano que vem.
Entre os argumentos da proposta do deputado Carlos Bezerra (MDB), que busca prorrogar a LGPD para 15 de agosto de 2022, está a morosidade na instalação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, que será responsável por editar os regulamentos sobre proteção de dados e privacidade.
O projeto de lei aponta que a extensão no prazo permitirá que o corpo diretivo da ANPD seja escolhido e propõe que uma campanha nacional seja feita para informar a população e empresas sobre a importância das novas regras. A proposta agora aguarda avaliação.
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O Spotify realiza entre hoje (1) e amanhã o Spotify for Podcasters Summit, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. O Brasil foi escolhido para a iniciativa, inédita para a empresa no mundo, dado o crescimento do formato no país: o consumo de podcast no Spotify no Brasil cresce 21% em média mensalmente desde janeiro de 2018. O Summit terá palestras e workshops para quem quer produzir este tipo de conteúdo, bem estúdios para gravação de episódios especiais por podcasters como Alexandre Ottoni e Deive Pazos, do Nerdcast; Rodrigo Vizeu e Magê Flores, do Café da Manhã; e Ju Wallauer e Cris Bartis, do Mamilos.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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