A operação brasileira da Nestlé está construindo um pipeline de projetos de inovação que busca trazer mudanças positivas para a sociedade como parte de sua transformação digital.
O grupo liderado pela diretora Carolina Sevciuc desde 2014, engloba a área de inovação e é atualmente responsável por 10% do faturamento da empresa, com mais de 150 iniciativas que incluem robótica para personalização de produtos e uso intensivo de dados para conhecer melhor os clientes.
O objetivo é aumentar a representatividade da área digital, única entre as operações globais da empresa, no resultado financeiro. Mas, segundo Carolina, as metas de inovação da Nestlé não se limitam a gerar lucro.
“A inovação tem que endereçar os problemas da sociedade e ser sustentável em vez de ser puramente baseada em ações de mercado”, diz a executiva, que integra a lista de indicados ao prêmio Caboré de inovação deste ano.
Iniciativas de cunho social lideradas pela área de inovação incluem o Vem de Bolo, spinoff incubada pela Nestlé que mantém um marketplace que conecta produtores de bolos e doces aos consumidores.
“Entendemos que o mercado informal de doces é grande, principalmente considerando a situação econômica do Brasil”, aponta. “Capacitamos boleiras para usar a plataforma, com treinamento que vai desde fotografia até engenharia financeira. O objetivo é tentar tirar essas pessoas da informalidade e ajudá-las a ter uma renda extra de forma mais qualificada.”
Certas parceiras com mais estrutura chegam a retirar R$ 8 mil por mês, enquanto produtoras mais caseiras geram até R$ 3 mil de renda extra. Atualmente, 60 boleiras estão ativas na plataforma e mais de 290 estão em lista de espera.
“Temos sempre um grande número de boleiras cadastradas, mas não liberamos todas para garantir um crescimento gradual com controle de qualidade em todas as etapas”, diz Carolina.
A plataforma, que oferece descontos e frete grátis em produtos da Nestlé para as produtoras, atualmente opera na capital paulistana. Em 2020, a expectativa é de expansão para outras cidades no estado de São Paulo e Rio de Janeiro.
Outro projeto é o Jogadeira, uma iniciativa que usa a marca Nescau e busca combater o sedentarismo e confinamento infantil, resultante do aumento da digitalização, trabalhando soft skills como liderança, criatividade e respeito.
Desenvolvido em parceria com a startup Fit Anywhere e a assessoria esportiva Up, com metodologia criada pela empreendedora Ana Moser, o formato traz infraestrutura de brincadeiras e esporte para festas infantis e locais como condomínios de alto padrão.
Em 2019, o projeto cresceu, com uma plataforma digital para conectar crianças com professores e recreadores, em São Paulo, e desenvolveu três novos modelos: Jogadeira Aulas, Jogadeira Festa e Jogadeira Colônia de Férias.
Carolina ressalta a evolução desde que o projeto foi lançado, em 2016, quando cerca de 15 mil crianças por ano foram atendidas. “Em 2019, vamos atender 20 mil e nossa expectativa é crescer 40% em 2020, chegando a 28.500 crianças,” celebra.
Após a parceria com a ONG Gerando Falcões firmada neste ano, a verba do projeto é convertida para desenvolver infraestrutura e esporte nas periferias.
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O número de projetos de cunho social da Nestlé deve aumentar em 2020. As iniciativas andam “em velocidade de startup”, com ciclos onde o objetivo é testar e medir o impacto das iniciativas em 100 dias.
“Agir como uma startup para ter a velocidade que o mercado quer em uma empresa de comida e bebida requer muito cuidado, pois a questão da segurança alimentar é inegociável”, ressalta.
A priorização destes projetos dentro da área de inovação passou por um processo de “ressignificação” do lucro deles dentro da área de transformação digital.
“Um projeto como o Vem de Bolo não dá lucro, mas gera outras frentes de monetização, como o conhecimento do mercado informal que não tínhamos, dados de pesquisa do consumidor”, aponta. “Tudo isso é tratado com muito cuidado e vem como resultado de cinco anos de trabalho em inovação, que nos trouxe um alto nível de maturidade.”
Ciente da crescente importância de objetos de desenvolvimento sustentável, a Nestlé tem área de geração de valor compartilhado, que trabalha em conjunto com a unidade de transformação digital. “Nós já entendemos que [ter estas duas áreas trabalhando separadamente] minimiza o impacto social das iniciativas.”
Com base nos projetos entregues e no pipeline futuro, a executiva aconselha que empresas que queiram trazer impacto social para suas iniciativas de inovação entendam seu papel e valor antes de começar.
“Um projeto de impacto social que não está ligado aos princípios e valores da empresa acaba esvaziando os dois lados: o investimento não se sustenta por não ter aderência com seu propósito, ou o projeto será altamente questionado”, aponta.
“Também não é possível fazer isso sozinho, portanto ter parceiros sérios que estejam na mesma página que a empresa é fundamental.”
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Startups brasileiras serão selecionadas para uma imersão no ecossistema canadense através do Elevator Pitch 2019, iniciativa envolvendo a organização da São Paulo Tech Week, em parceria com a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), SP Negócios e Prefeitura de São Paulo. Indicações podem ser feitas até 8 de novembro para a edição deste ano, que conta com o apoio da Totvs. O anúncio das 50 selecionadas para a competição será feita no dia 15 de novembro. No evento, que acontecerá no dia 24 de novembro, no Edifício Martinelli, na capital paulistana, empreendedores farão seu pitch para investidores e aceleradoras do Brasil e do Canadá no trajeto de elevador entre o primeiro e o último andar do edifício. As três empresas que mais se destacarem farão a imersão no Canadá.
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O Sem Parar, empresa de tecnologia e identificação, apoiou o terceiro Desafio de Inovação do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), que provocou os alunos da instituição a apresentarem soluções para problemas da empresa. Os projetos finalistas, que receberam entre R$ 10 mil e R$ 2 mil cada, incluíram uma investigação sobre tecnologias diferentes da tag antena usada pelo Sem Parar para que a identificação e pagamento seja feita com o veículo em movimento, além de formas em que o Sem Parar poderá ser usado como meio de pagamento e identificação no futuro.
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O futuro da mobilidade, além de diversos outros temas ligados à inovação em áreas que vão da saúde a entretenimento estão sendo discutidos entre hoje (6) e 10 de novembro, no Welcome Tomorrow. Em sua sétima edição, o evento envolve oito palcos simultâneos e mais de 250 palestrantes, com nomes como Noam Bardin, CEO da Waze, Pedro Janot, cofundador da companhia aérea Azul e André Iasi, CEO da rede de estacionamentos Estapar.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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