Resumo:
- Pesquisadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, desenvolveram um teste genético de impressão digital que visa identificar mulheres com câncer de mama com maior ou menor probabilidade de responder a remédios tóxicos;
- O trabalho analisa medicamentos chamados antraciclinas, usados no tratamento de vários tipos de câncer, como o de mama e alguns tipos que aparecem na infância;
- As antraciclinas, apesar da sua potencial toxicidade, ainda são uma parte vital dos processos de tratamento que salvam vidas de muitas mulheres com câncer de mama, por isso, as descobertas são consideradas ponto de partida para mais estudos.
Pesquisadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, desenvolveram um novo teste genético de impressão digital que visa identificar mulheres com câncer de mama que apresentam maior ou menor probabilidade de responder a uma classe de agentes quimioterápicos frequentemente úteis, mas tóxicos.
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O trabalho foi publicado hoje na “Nature Medicine” e analisa medicamentos chamados antraciclinas, usados no tratamento de vários tipos de câncer, como o de mama e alguns tipos que aparecem na infância.
“As antraciclinas são um dos pilares da quimioterapia importantes para o tratamento do câncer de mama em estágio inicial há quase 30 anos”, disse Christina Curtis, PhD, professora assistente nos departamentos de medicina (oncologia) e genética em Stanford e uma das principais autoras do artigo, ao lado de Gerald Crabtree, professor de patologia e biologia do desenvolvimento em Stanford e pesquisador do Howard Hughes Medical Institute.
As antraciclinas são eficazes para muitas pessoas, mas também podem ser bastante tóxicas, de modo a afetar particularmente o coração e aumentar o risco de cânceres secundários. No entanto, alguns tumores na mama realmente não respondem aos remédios, o que significa que as mulheres ainda estão expostas a drogas tóxicas e ao risco de efeitos colaterais graves, com pouco ou nenhum benefício.
Uma delas, a doxorrubicina (também chamada adriamicina) é tão notoriamente conhecida por causar consequências negativas no organismo, que muitas vezes é chamada de “diabo vermelho” pelos pacientes e sobreviventes de câncer de mama, devido ao seu tom vermelho vivo. O uso de medicamentos diminuiu nos últimos anos e surgiram algumas hipóteses de que como agora estão disponíveis outros remédios menos tóxicos para muitos tipos da doença, o uso de antraciclinas deve reduzir ainda mais.
“Se soubéssemos que uma mulher estivesse sob um alto risco de reaparecimento do câncer e que seu tumor provavelmente responderia às antraciclinas, de modo a diminuir esse perigo, isso poderia levar o equilíbrio a um tratamento que inclua antraciclinas, apesar dos possíveis efeitos colaterais”, Disse Curtis. “Por outro lado, evitaríamos esses medicamentos se soubéssemos que um paciente possivelmente não se beneficiaria com o uso”, acrescentou.
Os pesquisadores começaram com a análise de proteínas da célula, denominadas topoisomerases, que controlam o desenrolamento e o enrolamento do DNA, que ocorrem na divisão celular. As antraciclinas envenenam essas proteínas, impedindo que as células se dividam levando-as à morte.
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“As topoisomerases são proteínas que ajudam a desembaraçar e enrolar novamente os quase dois metros de DNA dentro do núcleo de cada célula do corpo, que é um espaço quase um milhão de vezes menor”, disse Curtis.
Essas topoisomerases são, por sua vez, controladas por uma série de outras proteínas que ajudam a dobrar e desdobrar o DNA em pequenos pedaços no núcleo, chamados de proteínas reguladoras da cromatina. Curtis e seus colegas construíram uma rede de aproximadamente 400 desses agentes a partir de análises de computador, para descobrir como esses genes interagem.
“Era como determinar a conectividade em uma rede social como o Facebook. De imediato, observamos que a expressão desses genes foi completamente renovada no câncer de mama, em comparação com o tecido mamário normal”, disse Curtis.
Em seguida, eles analisaram os genes da cromatina em amostras de mais de 1.000 pacientes com a doença em estágio inicial e correlacionaram a expressão desses genes com a resposta às antraciclinas. Os cientistas foram capazes de encontrar 54 genes da cromatina associados à resposta da antraciclina.
“Nós descobrimos que os genes reguladores da cromatina determinavam a sensibilidade de um tumor da mama à doxorrubicina ou etoposídeo, ambos antraciclinas”, disse Curtis.
Também foi testado outro medicamento comum para o câncer de mama, o paclitaxel, que não interage com as topoisomerases. A descoberta foi que não havia relação entre a expressão do gene da cromatina e a resposta a esse medicamento.
“Esses dados iniciais são realmente muito promissores”, disse Michael Melner, PhD, diretor científico sênior de genética molecular do câncer da American Cancer Society. “Este trabalho, como um passo inicial, precisará de muito mais evidências antes que possa ser verificado como uma parte importante do processo de tratamento. O que é emocionante é o seu potencial para fazer isso”, acrescentou.
Existem vários tipos diferentes de câncer de mama que se comportam de maneira distinta e respondem de formas diferentes aos tratamentos. É importante ressaltar que Curtis e a equipe descobriram que essa “ligação anormal” dos genes da cromatina foi encontrada em todos os tipos de doenças em estágio inicial, de modo a aumentar a possibilidade de que um teste universal destinado a prever a resposta às antraciclinas possa eventualmente ser aplicado a todas as pacientes com câncer de mama.
“Esta é uma janela para o futuro, a fim de potencialmente reduzir o número de pacientes que sofrem com a toxicidade e não recebem muitos benefícios clínicos dos medicamentos. Entretanto, é muito cedo para tomar decisões clínicas, que definam se iremos ou não tratar a doença com base nesses dados. De certo, isso é realmente muito interessante e tem um tremendo potencial”, disse Melner.
As antraciclinas, apesar da sua potencial toxicidade, ainda são uma parte vital dos processos de tratamento que salvam vidas de muitas mulheres com câncer de mama, por isso, é fundamental que qualquer teste para prever quem será beneficiado pelos medicamentos seja altamente preciso.
Dessa forma, o que está sendo feito para traduzir esses resultados iniciais, mas incrivelmente impressionantes, em uma amostra que pode ajudar mulheres com câncer de mama? Em primeiro lugar, os pesquisadores estão analisando mais pacientes com a doença para testar suas descobertas.
“Em última análise, gostaríamos de ter um teste de diagnóstico de rotina que indique se é provável que um paciente se beneficie com esses medicamentos, para que uma decisão sobre os riscos e benefícios de diferentes opções de tratamento possa ser avaliada pelo médico e pelo paciente em conjunto com outras informações clínicas”, disse Curtis.
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