O batalhão de contadores atualmente em operação no Brasil tem tido dificuldades para digitalizar a forma como operam – mesmo que grande parte tenha o aumento de produtividade como uma de suas principais metas para 2020.
A constatação é de um levantamento de 3.000 profissionais do setor feito pela Omie, startup de software na nuvem para PMEs, e compartilhado com exclusividade com a FORBES.
Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, atualmente existem 318 mil contadores ativos no país. A profissão está em franca expansão: em 2018, 93,8% dos trabalhadores com formação na área foram empregados, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e o curso de graduação em ciências contábeis está entre os cinco mais procurados do Brasil, segundo dados do Ministério da Educação.
Muitos novos contadores têm ingressado no mercado, mas a digitalização de processos no dia a dia da profissão anda em descompasso com a emergência dessa nova geração de profissionais. O estudo da Omie nota que quase 75% dos profissionais consultados não possuem área de tecnologia e só 15,6% afirmam já estar automaticamente integrados com todos ou quase todos os processos de seus clientes.
Mesmo com o aumento do empreendedorismo no país, apenas 5% dos contadores consultados pela Omie oferecem entre seus serviços a elaboração de plano de negócios. Somente 8% ajudam o cliente a solucionar dívidas ou atrasos e menos de 2% apostam na oferta de serviços voltados a áreas como acesso a crédito e investimentos.
Por outro lado, a oferta de serviços relacionados a gestão financeira de negócios caminha com mais vigor. Mesmo assim, com 21,3%, essa área ainda representa uma pequena fatia dos serviços oferecidos por contadores.
TRANSFORMAÇÃO EM CURSO
Segundo Marcelo Lombardo, CEO e fundador da Omie, os profissionais do setor passam por um momento de ressignificação de suas funções: “O papel do contador está se transformando de forma que ele vai passar a projetar o futuro de seus clientes em vez de só registrar o passado”, aponta.
A startup tem investido em ações que buscam promover uma mudança de mentalidade entre profissionais do setor e iniciativas de capacitação como o portal de educação online Omie.Academy. Outra oferta da empresa, como a plataforma de fidelidade Club.Infinity, oferece cursos gratuitos para contadores entre seus benefícios.
O desafio da digitalização coexiste com expectativas de melhoria de produtividade: segundo a pesquisa, mais de 40% dos escritórios contábeis consultados têm o aumento de produtividade da empresa entre as principais metas para 2020.
De forma geral, no entanto, a grande maioria dos contadores que participaram do estudo continua confiante em relação às possibilidades de negócio: quase 70% dos mais de 3.000 entrevistados afirmam que o setor está em um momento de expansão e somente 11,3% se dizem pessimistas com relação a este ano.
A situação de contadores em países mais desenvolvidos não é muito diferente. O governo do Reino Unido, por exemplo, iniciou no ano passado um processo de eliminação de papel de todos os processos relativos a impostos, com o objetivo de reduzir fraudes e evasão.
O programa, que está sendo introduzido em fases até 2021, obriga mais de 1,2 milhão de empresas a entregarem suas declarações ao governo de forma digital. Mas nem todos os escritórios de contabilidade que servem estas empresas estão preparadas para a mudança.
Segundo um white paper da Prism Solutions, a digitalização dos profissionais do setor é um caso de “mergulhar nas necessidades e expectativas de clientes que demandam contabilidade digital”.
“A profissão do contador está a um passo de uma mudança evolucionária”, diz o relatório. “Sua sobrevivência corre perigo.”
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O setor de tecnologia não sabe o que fazer com o coronavírus
Com Wall Street indo de mal a pior nesta semana como resultado do pânico global sobre o COVID-19, será que o Vale do Silício começará a ouvir o som do alarme, ou vai apertar o botão soneca?
O pano de fundo da questão é que as empresas de tecnologia tem surfado na crista da onda por tanto tempo que nem se lembram como é estar na pior de fato. Desde a bolha da internet de 2001, que arrasou a terra do empreendedorismo digital no mundo todo, os efeitos das grandes crises que vieram posteriormente, como a de 2007-2009, mal afetaram o setor.
Considerando a realidade do momento, em que enormes startups de base tecnológica têm fundadores e colaboradores sem experiência do que vem a ser uma crise real e oficial, Scott Rosemberg, da empresa norte-americana de mídia e pesquisa Axios, falou sobre como o coronavírus pode afetar estas empresas em formas inesperadas.
Por um lado, o alastramento do vírus pode afetar negativamente essas empresas, que além de não saberem o que fazer em um cenário volátil, são altamente dependentes de colaborações internacionais e demanda global, aponta Rosemberg. No outro lado da moeda, ele argumenta que desenvolvedores de tecnologias que promovem colaboração à distância como videoconferência, bem como players em e-commerce, que garantem que a vida siga, podem atravessar mais uma crise.
Os problemas atuais podem ainda ressignificar o espaço das Big Tech, diz Rosemberg, e criar espaço para uma nova geração de startups. Mas também é possível que essas empresas fiquem ainda mais poderosas. É impossível prever as consequências com exatidão no momento, mas se a bolha de quase duas décadas atrás servir de referência, é bem provável que veremos grandes vencedores, bem como perdedores nesse setor.
LEIA MAIS: Efeito do coronavírus no setor de tecnologia será “passageiro e localizado”
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Estudo investiga assédio em fintech
Um projeto liderado por uma startup focada em análise e dados para a criação de ambientes de trabalho mais inclusivos vai investigar o assédio no segmento de fintech no Reino Unido. Com patrocínio do banco digital Revolut, a iniciativa da startup InChorus terá como base os dados coletados através de um web app, onde trabalhadores na indústria de fintech poderão compartilhar ocorrências significativas ou “microagressões” passadas ou presentes que tiveram enquanto trabalhavam no setor, de forma anônima.
Depois do período de seis semanas de coleta de informações, a InChorus divulgará um retrato do setor, com o intuito de apoiar empresas de fintech com insights setoriais necessários para fazer mudanças organizacionais. A indústria de fintech britânica do país tem sofrido grande pressão nos últimos anos, com reivindicações de disparidades salariais entre homens e mulheres e cultura tóxica no local de trabalho.
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Observatório de Políticas de IA é lançado em Paris
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês) lançou o Observatório de Políticas de IA (AI Policy Observatory) ontem (27), em Paris. A plataforma online tem o objetivo de fazer com que governos, sociedade civil, academia e outros atores compartilhem ideias sobre inteligência artificial (IA) e na definição de políticas públicas relacionadas.
A plataforma contém dados e informações sobre tendências e políticas de IA em 52 países, incluindo membros da OECD bem como nações do grupo BRICS, como o Brasil. O observatório também disponibiliza material de parceiros do setor privado e da academia, bem como orientações práticas para ajudar países a desenvolver sistemas confiáveis de IA que possam beneficiar a sociedade com base nos princípios publicados pela Organização e adotados por 42 países em maio de 2019 como o primeiro padrão intergovernamental sobre IA.
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Programa de aceleração para saneamento básico anuncia vencedores
Cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem coleta de esgoto, o que corresponde a quase metade da população brasileira (47,64%), segundo o Instituto Trata Brasil. Dessas, 13 milhões são crianças e adolescentes, sendo que 3,1% delas não têm nenhum sanitário em casa. Com estes dados em mente, a Kimberly-Clark, multinacional detentora da marca de papel higiênico Neve, conduziu um programa de aceleração para resolver desafios relacionados a saneamento básico, e anunciou os vencedores do processo.
Entre as iniciativas finalistas do desafio estão as empresas brasileiras Taboa Engenharia, Biosaneamento, 10Envolver e Saneamento Básico Rural, e a BioMovement, dona das marcas HomeBiogas e BioToilet. Todas as selecionadas propuseram soluções inovadoras para solucionar o problema de coleta e tratamento de esgoto.
Após a seleção das 80 propostas apresentadas inicialmente, um grupo de 10 empresas foi escolhido para uma aceleração de cinco meses com mentores especializados e com mais de 60 profissionais voluntários de várias áreas da Kimberly-Clark. Uma banca que incluiu um dos “tubarões” do programa “Shark Tank Brasil” e CEO da Iguá Saneamento, Gustavo Guimarães, escolheu os quatro vencedores com base em critérios como viabilidade e tecnologia, bem como a sustentabilidade financeira das propostas. As empresas selecionadas receberam capital-semente no valor R$ 50 mil cada, além de seis meses de mentoria adicional.
O programa de aceleração faz parte do projeto global da Kimberly-Clark, o Banheiros Mudam Vidas, lançado em 2016. A consultoria Sense-Lab e o Instituto Iguá Sense-Lab foram parceiros do projeto da Neve no Brasil.
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Silicon Drinkabout acontece em São Paulo
A estimulação de negócios e conexões profissionais, bem como fomento ao ecossistema empreendedor em um ambiente descontraído são as propostas do Silicon Drinkabout, que acontece em mais de 30 cidades no mundo. São Paulo tem um grupo ativo para chamar de seu: o happy hour desta sexta, que ocorre das 19h às 22h, acontece no Coletivo PURA, no bairro de Pinheiros.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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