Muita coisa mudou no cenário brasileiro das startups desde o boom do setor há uma década. Especialistas são unânimes em afirmar que o mercado está muito mais maduro – e 2019 foi especialmente animador para o segmento: juros baixos estimularam investimentos nesse tipo de negócio e cinco novos unicórnios surgiram no país (Loggi, Gympass, QuintoAndar, Ebanx e Wildlife), colocando o Brasil como o terceiro maior produtor de startups avaliadas além de US$ 1 bilhão no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China.
Um levantamento do movimento 100 Open Startups, plataforma de open innovation que propõe uma conexão efetiva entre grandes corporações e startups, com mais de 7 mil negócios ativos em sua rede, identificou que 2019 foi o ano das fintechs, retailtechs e indtechs – foram elas as startups que mais receberam investimentos.
Por outro lado, quando analisado o volume de contratações das grandes empresas, as indtechs ocupam o primeiro lugar do ranking, seguidas pelas retailtechs, productivitytechs, constructechs e healhtechs. Já em relação aos tipos de negócios fechados entre startups e corporações, o fornecimento de serviços ou produtos inovadores e a contratação de projetos estão na liderança.
“O Brasil tem hoje mais de 10 mil startups ativas, quase 100 fundos ou grupos de investimentos em operação e realizou cerca de 300 negociações em 2019, num total de US$ 2,7 bilhões investidos, contra US$ 1,5 bilhão de 2018”, diz Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, explicando que esses números são estimativas, já que alguns negociações não são públicas.
Em janeiro de 2020, o executivo já contabilizou 14 novos investimentos, o Brasil ganhou um novo unicórnio, a Loft, e mais 11 são esperados até o final do ano. Outro movimento que deve se tornar cada vez mais comum, segundo ele, é o de startups comprando outras startups, a exemplo do que vem acontecendo com iFood – que vem adquirindo um negócio atrás do outro e foi comprada pela Movile. “Este é o cenário e ele é muito dinâmico”, diz.
Rondani explica, ainda, que outra diferença em relação ao passado é que os fundos estão querendo atuar em estágios cada vez mais iniciais das startups e as grandes corporações até antes dos fundos de venture capital. “Além disso, vamos observar um grande contingente de ex-executivos, egressos de grandes empresas ou de startups que já cresceram, apostando em novos negócios. São pessoas normalmente acima dos 40 anos, com 20 de carreira e muito relacionamento, que pensam em soluções para necessidades detectadas ao longo desse tempo de atuação. E esses negócios serão acelerados por uma nova geração de empresários que estão se validando como investidores e crescendo muito”, diz.
O executivo aposta, ainda, na diminuição brusca do tempo de crescimento das empresas. Segundo o IBGE, existem hoje mais de 12 mil empresas no país com mais de 250 funcionários. Um levantamento feito pela 100 Open Startups apontou que, desse total, menos de 100 foram startups e levaram entre 10 e 20 anos para chegar a esse patamar. Mas, em uma década, diz Rondani, a maior parte das empresas desse porte será muito mais jovem e constituída das startups de hoje. Esse movimento já vem sendo observado nos Estados Unidos, onde as representantes da nova economia estão cada vez mais bem colocadas nos rankings das maiores empresas, invertendo o cenário do passado. “Os proprietários dos negócios tradicionais sabem que têm data de validade e essa percepção faz com que eles se movimentem para investir em novas empresas ou promover sua transformação digital”, diz ele, citando como exemplo Fred Trajano, filho de Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, que provocou uma verdadeira revolução tecnológica no negócio da família.
O executivo aponta, ainda, uma mudança de comportamento nos family offices, que têm apostado cada vez mais nos negócios da nova economia com valores cada vez mais acessíveis. Se, antes, eram necessários investimentos acima dos sete dígitos, hoje são cada vez mais comuns aportes entre R$ 100.000 e R$ 150.000. “Com juros cada vez mais baixos e a boa performance de muitas startups, isso tende a aumentar”, diz.
Rondani aposta, ainda, em uma revolução no modelo de venture capital. “Hoje pouquíssimos ganham e a maioria empata ou perde. Cerca de 15% dos fundos são responsáveis por 85% dos resultados. E as empresas alvo desses investimentos normalmente pertencem a pessoas que tiveram oportunidade de estudar fora e bancar os custos de participação em programas internacionais de aceleração. Ou seja, não é um modelo amplamente acessível ou distribuído, e isso deve mudar com novas formas de captação, como crowdfunding. Afinal, a inovação é distribuída”, diz, explicando que as empresas da sua plataforma que receberam aportes ficam em 106 diferentes cidades.
No que diz respeito aos setores, Rondani acredita menos na segmentação e mais na transversalidade, ou seja, no desenvolvimento de soluções aplicadas a toda a indústria. “Não vejo muito uma tendência setorial. Acho que são ondas de transformação que depois se reconsolidam. Minha aposta é que o mercado todo vai se transformar, com um contingente de pessoas capazes de mudar todos os setores.” Ele exemplifica citando a bola da vez, as HRtechs. Segundo ele, é provável que, em alguns anos, elas nem apareçam nos rankings de startups porque foram adquiridas por grandes empresas ou cresceram tanto que se tornaram muito mais do apenas prestadoras de serviços de recursos humanos.
“Há dinheiro, empreendedores e mercado”, resume Rondani, certo de que 2020 pode ser um novo marco na nova economia brasileira.
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Stone mira alto para 2020
A fintech Stone está cheia de planos para os próximos meses. A empresa de pagamentos busca expandir suas linhas de negócio, com ofertas como financiamento para pequenas e médias empresas e uma conta digital para este público, com funcionalidade como registro de folha de pagamento e portabilidade de salário. Segundo a Reuters, a startup liderada por nomes como André Street também se prepara para criar uma joint venture com o Grupo Globo focada em PMEs.
Nesta semana, a empresa também abriu inscrições para a 12ª edição de seu processo seletivo, o Recruta Stone. Características do programa, que tem nove fases e aceita inscritos a partir de 18 anos de idade, tem como marca o foco nas habilidades sócio-emocionais dos candidatos. O processo inclui diversos aspectos que passam por questionários sobre a vida pessoal do candidato, leitura de livros, entrevistas com os fundadores e mais de 150 líderes da empresa envolvidos no processo, bem como a não utilização de formação superior como critério de seleção.
Sem número pré-definido de vagas para contratação, o processo seletivo da Stone inclui um período de “descoberta” da empresa, que dura seis meses e termina com o desenvolvimento de um projeto de alto impacto. Depois disso, os escolhidos finalmente escolhem em qual equipe querem trabalhar.
A fintech já empregou mais de 1.700 pessoas através do programa, que começou em 2014. Desde então, oito delas já se tornaram sócias. As inscrições para o Recruta Stone estão abertas até 12 de março e os selecionados serão anunciados em junho.
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Epson inaugura no Brasil Centro de Soluções para a indústria têxtil
A indústria da moda é o segundo setor da economia que mais consome água e produz cerca de 20% das águas residuais do mundo, segundo dados apresentados pela agência da ONU no ano passado. O Brasil, segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), tem a maior cadeia têxtil do Ocidente e é um dos setores da indústria de transformação que mais emprega no país – 1,5 milhão de funcionários diretos e quase 8 milhões de indiretos. De olho no potencial deste mercado e, ao mesmo, na sustentabilidade, a Epson anunciou a instalação em Barueri (SP) do seu primeiro Centro de Soluções na América Latina focado na transformação digital da indústria têxtil.
Com uso de tinta pigmentada, o Solutions Center tem como objetivo mostrar ao setor as inovações no maquinário têxtil e impulsionar a digitalização e a adoção de práticas sustentáveis nos processos de estamparia. “Estamos expandindo a nossa expertise para este segmento com uma amostra de como serão as estamparias do futuro, com mais inovação, qualidade e sustentabilidade”, diz Fábio Neves, presidente da Epson do Brasil.
O executivo explica que, além de ocuparem um espaço físico dez vezes maior, as estamparias analógicas consomem, em média, de 80 a 200 litros de água por quilo de tecido estampado enquanto a impressão digital com tinta pigmentada utiliza apenas dois litros. Ao reduzir o consumo de água, diminui-se também o volume de águas residuais enviadas para as usinas de tratamento e, por consequência, as emissões de carbono (cerca de 40%) que são liberadas nos processos de limpeza dessas águas. Em resumo, a impressão digital têxtil concilia economia de custos, redução de tempo e aumento de qualidade.
Apesar dos benefícios, uma pesquisa do IEMI revelou que apenas 8% do volume de tecidos consumidos no vestuário na indústria brasileira são feitos com base na estamparia digital. “Estamos atendendo a uma demanda de mercado que pede por produtos personalizados, de maior valor agregado e mais agilidade no desenvolvimento de novas coleções”, explica Neves. A tecnologia de sublimação da Epson foi desenvolvida pela matriz japonesa para atender ao mercado brasileiro.
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Anitta dá match com Tinder
Em nova investida no mundo da inovação, a cantora Anitta agora uniu forças com o Tinder. A série de atividade planejadas para o Carnaval inclui momentos durante os shows do bloco da cantora em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, em que alguns “matches” serão escolhidos para se juntar a ela nos palcos. A cantora também vai gerar conteúdo em vídeo nas redes sociais da plataforma com parte da ação.
Anitta tem demonstrado um crescente interesse em desenvolver projetos de inovação em paralelo à sua carreira artística: no ano passado, a cantora assumiu como head de criatividade e inovação da marca Beats, da Ambev. O pipeline baseado em sugestões da cantora inclui produtos como o shot 150bpm e possibilidades de novas embalagens.
LEIA MAIS: A estratégia de inovação da Ambev indicada ao Caboré
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Jovens de Salvador vencem hackathon da Nasa
Desenvolvido pela equipe Cafeína Team, o projeto Ocean Ride, dispositivo para recolher partículas de microplásticos das águas, ajudando a limpá-las, levará cinco jovens estudantes de Salvador para a Flórida, nos Estados Unidos. Participantes do maior hackathon do mundo – o Nasa Space Apps Challenge International 2019 -, a equipe formada por estudantes baianos entre 18 e 23 anos concorreu, simultaneamente, com participantes de 230 cidades de 80 países em 20 de outubro do ano passado, num total de 29 mil pessoas.
O resultado, divulgado recentemente, deu à equipe brasileira o 1º lugar entre 2.076 projetos de todo o mundo. Como premiação, Thiago Barbosa, 23, futuro analista e desenvolvedor de sistemas, Ramon de Almeida, 22 anos, estudante de engenharia química, Pedro Dantas, 19, Genilson Brito, 18, e Antonio Rocha, 18, alunos de administração (na foto, da esquerda para a direita), vão apresentar sua solução in loco na Agência Aeroespacial Americana. Para chegar lá, contarão com a Aviva, detentora dos destinos Costa do Sauípe (BA) e Rio Quente (GO), que foi co-realizadora do evento em Salvador.
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Dança das cadeiras
Bruno Diniz, cofundador da Spiralem e especialista em fintechs, foi nomeado Líder da América do Sul pela FDATA – Financial Data and Technology Association. Autor do recém-lançado livro “O Fenômeno Fintech”, da Alta Books, Diniz começa a exercer imediatamente a função, alocado em São Paulo. Atualmente, o FDATA opera em cinco continentes: Europa, América do Norte, Ásia, Austrália e América do Sul e está iniciando um plano para desenvolver uma base na África.
Associação global sem fins lucrativos para empresas de fintech que usam open finance em seus modelos de negócios, o FDATA fornece aplicativos e serviços financeiros inovadores para auxiliar os clientes a tomarem decisões e assumirem o controle total de suas vidas financeiras. “Bruno é a pessoa certa para liderar nossos esforços na América do Sul neste momento crítico para a indústria”, diz Gavin Littlejohn, presidente global da entidade. “Este ano é muito importante para o open finance no Brasil, já que o Banco Central está dando os primeiros passos para sua implementação”, diz o recém-contratado.
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Dança das cadeiras 2
A plataforma global de vendas de ingressos online Eventbrite anunciou Beatriz Oliveira como sua nova diretora geral para América Latina. A partir de agora, a executiva, que ocupava o cargo de head de marketing da empresa, será responsável por toda a operação latino-americana, que inclui as áreas de vendas, marketing, administrativa, recursos humanos e atendimento ao cliente. “O mercado de eventos apresenta grandes oportunidades de profissionalização. As pessoas ainda compram ingressos off-line e esse é um setor que a nossa tecnologia pode oferecer muitos benefícios e segurança, tanto para os produtores de eventos quanto para os participantes”, diz Beatriz.
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