O embarque aéreo parece um processo bem simples: apresentação do documento no balcão para conferência, uma caminhadinha até a aeronave, procura pelo assento e, pronto, é só se acomodar. Mas não é bem assim. Essa é uma experiência recheada de ingredientes que podem torná-la bem desagradável, como as filas pré-embarque, o congestionamento nos corredores do avião e a difícil tarefa de guardar a bagagem sem acertar a cabeça do passageiro acotovelado ao lado.
Foi pensando nisso – e em como oferecer alguma vantagem a passageiros frequentes – que várias companhias aéreas criaram processos de escalonamento no embarque. Normalmente eles começam pelo cumprimento da lei, priorizando idosos, pessoas com crianças pequenas, gestantes e portadores de deficiência, passam pelos clientes com cartões fidelidade e terminam nos demais passageiros, dividindo o acesso por fileiras. E, embora já represente um upgrade no processo, essa metodologia não é tão eficiente e continua provocando gargalos, principalmente no interior da aeronave.
Para resolver o problema, a Azul Linhas Aéreas criou um sistema de embarque apoiado pela tecnologia de realidade aumentada. Batizada de Tapete Azul, a novidade, que já está funcionando no aeroporto de Curitiba, consiste em um tapete virtual, projetado no chão, que interage com os passageiros enquanto eles aguardam sua vez.
O sistema é formado por um conjunto de projetores e monitores que simulam um tapete no chão, colorido e móvel, com as marcações dos assentos. Basta o passageiro se posicionar no quadrado que indica o seu número e acompanhar o fluxo. Os monitores, instalados no alto, mostram os assentos dos clientes que estão embarcando e os seguintes, porém em uma sequência que proporciona uma diminuição de até 20% no tempo em que uma pessoa leva até conseguir se acomodar no seu assento.
Giuliano Podalka, gerente de projetos especiais, que trabalha na aviação há quase 20 anos – seis deles na Azul – explica que uma série de estudos, principalmente norte-americanos, já foram realizados na tentativa de melhorar o processo, mas, na prática, não há nada que realmente tenha funcionado. “Mesmo aeroportos novos, como os de Los Angeles e da China, possuem embarques tradicionais”, diz. “São equipados com impressoras e computadores de última geração, mas o processo é o mesmo”, explica, ressaltando que, em alguns casos, adotou-se a biometria, solução que dificilmente funcionaria no Brasil em função da ausência de um documento único para identificação e checagem.
O executivo explica que o principal desafio era resolver o gargalo no corredor do avião. “Se não organizar a entrada, cria-se barreiras na passagem”, diz. Outro problema é o assento: sem um processo definido no embarque, muitas vezes os passageiros já acomodados precisam se levantar para deixar outros sentarem. Alguns processos atuais, que escalonam a entrada em função da acomodação – janela, meio e corredor – acabam separando famílias na hora do embarque, o que cria outro tipo de estresse. E, por fim, tem o atrito mais recente causado pela resolução 400: a bagagem. A lei de 2017 restringiu o peso limite em 10 kg e estabeleceu medidas padrão para as malas de mão sem cobrança. “A gente educou a população. Atualmente, menos de 5% dos passageiros tentam embarcar com bagagens fora dos padrões. Porém, criamos outro gargalo: a quantidade de malas na cabine aumentou muito. E isso prejudica o fluxo dentro do avião”, diz.
Segundo Podalka, as companhias aéreas adotam uma das cinco sugestões dos principais teóricos do assunto ou uma mistura delas: front to back (embarque prioritário dos passageiros da frente); back to front (prioridade para os passageiros do fundo); aleatório (por seções: espaços vip, passageiros sem bagagem e passageiros com bagagem); Wilma (que embarca janela, meio e corredor nessa ordem); e método Steffen (uma combinação complexa de alternância, difícil de ser colocada em prática). “Todas elas, no entanto, apresentam problemas por uma série de fatores, incluindo o humano”, diz o executivo.
COMO FUNCIONA
No caso do Tapete Azul, a ordem do embarque continua priorizando os passageiros prioritários por lei, depois os portadores do cartão Diamante e, em seguida, os demais passageiros, divididos por intervalos de três fileiras, começando do fundo pra frente, em ondas de dez números. Ou seja, embarcam primeiros os passageiros das fileiras 30, 27, 24, 21, 18, 15, 12, 9, 6 e 3. Na sequência, uma nova onda começa no 29 e assim por diante.
Esse processo cria espaços grandes entre uma fileira e outra, facilitando a acomodação e liberando os corredores, e evita que um passageiro do corredor sente antes do que o da janela, já que eles estão lado a lado e podem se organizar. Do lado de fora, basta os passageiros se posicionarem sobre o tapete virtual, no campo destinado ao seu assento, e irem acompanhando o fluxo. Podalka explica que, como os passageiros prioridade representam o embarque mais demorado, eles não fazem parte desse processo. Para eles, o embarque continua sendo da maneira tradicional, mas antecipado, para garantir a agilidade do fluxo que vem a seguir.
A solução foi fornecida pela Pacer, uma empresa de Curitiba especializada em tecnologia para supermercados que criou uma startup só para desenvolver o sistema agora em operação na Azul. Ele é formado por 12 projetores, duas televisões, quatro câmeras e uma película no chão (para dar mais nitidez à imagem) em cada portão de embarque. Tudo integrado por API ao sistema de check in da companhia aérea. É isso que permite, por exemplo, fazer remanejamentos caso o passageiro tenha cancelado de última hora e, no futuro, até projetar suas iniciais no tapete. Já a inteligência artificial permite que a imagem projetada se desloque conforme o movimento das pessoas, sem “empurrar” os passageiros. Futuramente, ela vai servir para “escanear” as bagagens no embarque, calcular os espaços internos do avião e avisar caso o volume seja maior do que o que realmente cabe.
Embora não revele o investimento feito até agora, Podalka conta que o pagamento é feito por voo – quanto mais voos, menor o valor. Até julho de 2020, a meta é implantar a solução em 18 aeroportos das principais capitais do país. Lá fora, a iniciativa deve começar pela TAP, parceira da Azul, no aeroporto de Lisboa.
Um dos benefícios do sistema é o conforto e a comodidade dos passageiros. Segundo a Infraero, eles passam, em média, 20 minutos em pé na fila – que passa a ser totalmente desnecessária. Além disso, a solução pode reduzir o tempo de embarque – que depende do tamanho da aeronave e da quantidade de passageiros – em até 50%. No caso de um avião para 180 pessoas, por exemplo, o tempo médio de embarque é de 20 minutos. “Atualmente, estamos em 14 ou 15 minutos. No entanto, mais importante do que o tempo, é a organização, que acaba por reduzir os conflitos entre os passageiros”, diz Podalka.
Segundo ele, o NPS (net promover score, metodologia que avalia as empresas dos mais variados tipos de indústrias) da companhia no que diz respeito ao embarque é 21% maior no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em Curitiba, onde o Tapete Azul funciona em sistema de piloto desde novembro do ano passado nos seis portões.
No que diz respeito ao impacto econômico, vale lembrar que cada minuto que as companhias aéreas ficam paradas nos hangares dos aeroportos custa – e não é pouco. O Tapete Azul, no entanto, pode trazer seu próprio retorno, já que, com o tempo, a ideia é vender patrocínio para empresas que queiram ver seus logotipos projetados sob os pés dos passageiros.
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MAIS
– A plataforma de empregos e entrevistas gravadas Jobecam está oferecendo gratuitamente a sua solução de tecnologia de vídeo e inteligência artificial para que recrutadores possam realizar seus processos seletivos de maneira remotos nas próximas semanas em função do cenário atual de coronavírus. A ferramenta ficará disponível para companhias que se cadastrarem até o dia 17 deste mês, com uso liberado até o dia 15 de maio. Para candidatos, a utilização da plataforma já é gratuita;
– As inscrições para a edição 2020 do Programa de Aceleração Visa foram prorrogadas. Agora, as startups de todo o país têm até sexta-feira, 20 de março, para se inscreverem na iniciativa, que tem como objetivo movimentar o ecossistema no país ao promover o empreendedorismo e a inovação e gerar novas conexões de negócios entre os players da indústria de pagamentos do Brasil;
– Três meses após seu lançamento, o programa Women Entrepreneurship (WE), que conta com a participação do Sebrae, Microsoft Participações, Bertha Capital e Belvedere Investimentos, revelou o nome das startups selecionadas para o fundo de investimentos WE Ventures e daquelas que serão apoiadas pelo WE Impact, com investimento em capacitação e capital estratégico. A primeira selecionada do programa para receber recursos foi a PackID, da CEO Caroline Dallacorte, especializada no monitoramento de temperatura e umidade em tempo real, com foco em evitar perdas, utilizando inteligência de dados aplicada em toda a cadeia de distribuição de produtos perecíveis. Já para o WE Impact, que acompanha a formação de uma startup desde o estágio inicial, foram escolhidas 18 empresas: Abler, Adaptweb, AI Robots, Cash.In, Coopark, Dinie, EntregAli, Exemplaria, LogPix, Noar, Pontue, ProBrain, Racks, Soul, Tamboro, Uffa, Afinando o Cérebro e Workalove.
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