Os varejistas de luxo foram atingidos por um golpe duplo com a queda da demanda de compradores chineses e isolamento das principais regiões manufatureiras da Itália, agora se espalhando por todo o país.
Fornecedores de produtos têxteis e de couro disseram à Reuters que a demanda havia sido cortada por empresas como Gucci, Prada e Salvatore Ferragamo. “Estávamos produzindo de 880 a 1.000 bolsas por mês para a Gucci. Em fevereiro, fabricamos 450 e não temos pedidos para março”, disse à Reuters um fornecedor da marca de luxo de propriedade de Kering.
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A Itália tem o maior foco de casos do Covid-19 fora da China e, na segunda-feira (9), um isolamento imposto às regiões e cidades mais atingidas do norte, incluindo a capital financeira e da moda, Milão, foi estendido a todo o país.
O final do mês da moda foi atingido por preocupações crescentes com a disseminação do vírus na Europa, com alguns editores saindo da semana de moda de Paris mais cedo, enquanto o desfile de Giorgio Armani foi exibido em uma sala vazia e transmitido on-line.
Como muitas outras indústrias, o setor de bens de luxo, de US$ 320 bilhões, está cheio de incertezas quanto ao tempo que os efeitos do Covid-19 durarão. Muitos varejistas dizem que estão monitorando a situação de perto. “O surto de Covid-19 já impactou negativamente a indústria de luxo”, falou à Forbes Fflur Roberts, chefe de luxo da Euromonitor International. “Empresas como Burberry, Tapestry e Capri já ajustaram suas previsões de vendas para queda em 2020.”
A Itália é o quinto maior mercado mundial de artigos de luxo pessoais, com artigos de couro dominando as vendas, diz Roberts. Em 2018, os compradores chineses responderam por um terço das compras de artigos de luxo, segundo a Bain & Company.
Honor Strachan, analista de varejo da GlobalData, disse à Forbes que, embora as marcas possam ser isoladas no prazo imediato, se a crise da saúde pública continuar, ela poderá ter efeitos adversos nos níveis de estoque até o outono e as épocas festivas.
O impacto imediato nas cadeias de suprimentos dependentes da Itália deve ser pequeno, considerando os longos prazos de entrega e o quanto eles dependem das “linhas principais e de continuidade, das quais terão maior estoque”.
“As marcas que adquirem materiais da Itália, mas fabricam em outros lugares, estão explorando oportunidades com novos fornecedores, mas isso é um desafio, considerando o controle de qualidade e a confiança em fornecedores confiáveis para manter os padrões dos produtos –especialmente se as credenciais da marca dependem da herança e do artesanato italianos”, pontua Strachan. “No entanto, achamos que as marcas deveriam ter construído níveis de estoque suficientes em sua cadeia de suprimentos para compensar interrupções de curto prazo”.
Quais marcas sentirão o impacto?
Alguns dos maiores nomes italianos do momento, segundo Strachan. “As marcas domésticas serão as mais atingidas, dado o apelo turístico de comprar marcas italianas ao visitar a Itália, então, a Prada SPA, Giorgio Armani, Valentino e o grupo Kering, que possui marcas de herança italiana como Gucci, Bottega Veneta & Pomellato, deverão ver vendas mais fracas no primeiro semestre de 2020”, afirma. “A LVMH também está exposta a marcas como a Fendi & Pucci, que provavelmente sofrerão menos.”
Mas se a epidemia puder ser contida até o final do mês, “as demandas de viagens e compras de luxo se recuperarão” e impulsionarão as vendas para o resto de 2020, diz Roberts.
Resultados financeiros das empresas italianas de artigos de luxo Prada e Salvatore Ferragamo saem no final deste mês e podem dar a tônica do que virá a seguir.
A disseminação do Covid-19 levantou questões sobre como as cadeias de suprimentos –de empresas da Apple a Tesla– podem se isolar melhor contra interrupções generalizadas. Enquanto isso, executivos de luxo estão se preparando para um declínio de até US$ 40 bilhões em vendas este ano, informa a “Vogue Business”.
A economia da Itália deve encolher pelo menos 0,3% neste trimestre, relata a AP, já que os principais setores –turismo, lazer, luxo– enfrentam demanda enfraquecida, enquanto mais pessoas trabalham em casa. Várias companhias aéreas dos EUA e da Europa cancelaram voos para a Itália, cujo bloqueio de toda a sua população de 60 milhões de habitantes inclui a proibição de viagens não essenciais dentro do país. O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, prometeu US$ 8,5 bilhões para compensar o impacto econômico do Covid-19, mas na segunda-feira sugeriu que o estímulo poderia ser muito maior.
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