O petróleo foi o assunto do dia hoje (9) após a queda expressiva perto de 30% na cotação do barril desde o início dos negócios ontem nas bolsas internacionais, onde a commodity é negociada no mercado futuro.
A cotação reagiu a um fim de semana turbulento de negociações e impasse entre integrantes da OPEP, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo. A Arábia Saudita e a Rússia, dois importantes produtores globais, divergiram na estratégia de redução de produção como forma de recuperar o preço diante da perda perto de 50% no ano em função da disseminação do coronavírus no mundo.
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Na última sexta-feira (6), a Rússia, líder informal da OPEP, não aceitou uma proposta de reduzir a oferta coletiva em mais 1,5 milhão de barris por dia. No sábado (7), como retaliação, o governo da Arábia Saudita anunciou a redução entre seis e oito dólares por barril nos preços de venda e também planos de elevar a produção em 9,7 milhões de barris por dia.
Além de ameaçar concorrentes com maiores custos de produção, a exemplo do Brasil, e mirar na indústria norte-americana, a medida acentuou o clima de aversão ao risco já existente nos mercados globais.
“Esta instabilidade atrapalha os dois grandes projetos que estavam na agenda brasileira: atrair mais investidores para o pré-sal e a privatização das refinarias”, alerta o especialista Edmilson Moutinho dos Santos, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.
De fato, o Brasil é o segundo país com maior custo de produção (US$ 35,00 por barril), abaixo apenas do Reino Unido (US$ 44,33 por barril). Neste ranking da Rystad Energy, que inclui impostos, além de gastos com capital, produção, administração e frete, o menor custo global é o da Arábia Saudita (US$ 7,98 por barril). A Rússia aparece com custo total de produção de US$ 19,21 por barril.
Ainda de acordo com o professor da USP, o consumidor pode levar meses para sentir o alívio no bolso e, talvez, nem perceber alguma queda no preço dos combustíveis na bomba, caso a cotação internacional tenha uma recuperação.
“A gente tem visto na história que o repasse nunca é integral. A cadeia tem metas e distorções próprias que, por exemplo, numa queda de 10%, o consumidor vai enxergar, no máximo, uma redução de 5% e não imediatamente. Esta dinâmica costuma levar de três a quatro meses em mercados mais competitivos. Aqui, eu começaria com este número”, afirma.
Santos não acredita que o governo irá interferir nos impostos sobre os combustíveis como medida de compensação pelo impacto negativo na arrecadação.
Em nota, a Petrobras informou que monitora o mercado e segue com o plano estratégico que prepara a companhia para atuar com resiliência em cenários de preços baixos.
Ainda de acordo com a nota, a companhia avalia que ainda é cedo fazer projeções sobre eventuais impactos estruturais no mercado de óleo e gás associado à recente e abrupta variação nos preços do petróleo “dado que ainda não está claro nem a intensidade ou mesmo a persistência do choque nos preços”.
Mais cedo, o diretor geral da ANP, a Agência Nacional do Petróleo, Décio Oddone, falou à Forbes Brasil que prevê o ajuste dos preços externos ao mercado nacional.
“Os preços com relação aos importadores de derivados já refletem os preços internacionais. Com o tempo, os preços dos combustíveis vão refletir, inicialmente nas refinarias e na importação, os preços internacionais, e depois a cadeia vai transferir estes preços ao consumidor”, afirma.
Ainda de acordo com Oddone, a crise internacional do petróleo não deve ter longa duração. “A transferência de preços no mercado brasileiro acontece espontaneamente porque esta volatilidade toda não permanece. Eu acredito que uma crise aguda dessa não tem potencial para permanecer muito tempo”.
Luiz Carvalho, analista de petróleo e gás do UBS Brasil, concorda com o diretor da ANP.
“Os preços do mercado doméstico, a depender da Petrobras, vão refletir para o consumidor final. Talvez não na magnitude total ou no tempo que muita gente espera por conta de alguma dinâmica na cadeia, como os estoques. Mas a Petrobras, ao passar o preço para as refinarias, muito possivelmente, vai fazer um ajuste”.
Ainda de acordo com o especialista do UBS, uma crise do petróleo como a atual não ocorria há muito tempo. “É o início de uma guerra de preços. Se você pegar aquela queda em 2014-2015 foi, basicamente, um balanço de oferta e demanda. Agora, a gente vê uma discussão sobre redução de preços”, explica Carvalho.
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Luciene Miranda é jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios com coberturas independentes na B3, NYSE, Nasdaq e CBOT
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