A Covid-19 já devastou as bases terrestres de astronomia, fechando as operações científicas observacionais em todo o mundo. Mas a comunidade astronômica profissional está à frente em tecnologia virtual e robótica, o que fez com que a pandemia apenas fortalecesse a determinação deste grupo de inovar e funcionar em plena quarentena.
Mais importante ainda, alguns observatórios robóticos, como o observatório astronômico Pan-STARRS, no Havaí, ainda estão rastreando asteroides e cometas, caso algo chegue perto o suficiente para representar uma ameaça à Terra, disse-me o astrônomo da Universidade Villanova, Edward Guinan.
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Mas mesmo a tecnologia robótica e as observações remotas têm seus limites.
Alguns observatórios continuaram a operar durante a pandemia, mas a necessidade de manutenção regular está gradualmente interrompida, inclusive as instalações mais automatizadas, diz Metcalfe.
E os observatórios espaciais?
“Observatórios espaciais (como Hubble, Chandra etc.) continuam funcionando, pois seus horários podem ser remotos”, disse-me a astrônoma da Universidade Estadual de Michigan, Megan Donahue, presidente da Sociedade Americana de Astronomia, a AAS. O principal aspecto prático dos observatórios espaciais, diz ela, é a manutenção física de antenas terrestres, para comunicação com a sonda.
E as próximas conferências?
“Toda conferência de verão que planejei participar neste ano já foi adiada para o próximo verão”, disse Travis Metcalfe, cientista sênior do Instituto de Ciências Espaciais (SSI) em Boulder, Colorado.
A AAS mudou sua reunião de junho para um encontro totalmente virtual, reduziu-a para apenas três dias e baixou os valores de inscrição.
“Temos mais do que o dobro de assinaturas enviadas que tínhamos em mãos no prazo para a reunião presencial e nosso total de inscrições está subindo a cada dia (agora mais de 750 pessoas um mês antes do prazo final)”, revelou Kevin A Marvel, diretor-executivo da AAS. Ele diz que esse número também inclui mais de 20 países diferentes agora representados com participantes de lugares tão distantes quanto a Austrália.
A reunião de verão está até com uma versão virtual online de seu popular evento de entretenimento social “open mic”.
E como ficam os eventos que aconteceriam no segundo semestre?
A Divisão de Física Solar da AAS (SPD) cancelou a reunião que aconteceria em agosto em Minneapolis, Minnesota. Mais duas reuniões –da Divisão de Astrofísica de Alta Energia da AAS (HEAD) em setembro em Tucson, Arizona; e a Divisão de Ciências Planetárias (DPS) em outubro em Spokane, Washington– correm o risco de serem adiadas, canceladas ou também se tornarem virtuais. A AAS espera que sua reunião de janeiro de 2021 em Phoenix, Arizona, ainda possa ser realizada pessoalmente. Mas isso provavelmente dependerá de como estaremos na luta contra esse vírus.
Guinan diz que todos os Simpósios da União Astronômica Internacional (IAU) originalmente agendados para os próximos meses foram adiados para 2021.
Como a comunidade está lidando com essa atual falta de interação física?
“A ciência é uma atividade da comunidade e a comunidade foi dividida”, disse Marvel. “Alguma interação ainda está ocorrendo, mas nada como o normal.”
Mas Guinan está fazendo o seu melhor, contando que uma das últimas conversas que teve via Zoom com a sociedade astronômica local foi brindada com vinho e cerveja. “Eu entrei com uma taça de vinho e todos brindamos ao final”, disse, observando que acabou conhecendo muito mais pessoas virtualmente do que se estivesse fisicamente presente no evento.
Guinan diz que os links online também estão sendo usados para assuntos mais sérios, já que painéis de revisão astronômica para missões da Nasa estão acontecendo online.
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A pandemia até estimulou o Escritório de Astronomia para o Desenvolvimento (OAD) a pedir propostas de projetos e parcerias que usem qualquer aspecto da astronomia (de metodologias a infraestrutura) para ajudar a mitigar alguns dos impactos do vírus.
E até pandemias podem ter um lado bom.
“Um dos poucos bônus ganhos que tivemos com a pandemia foi o fato de que a poluição do ar está muito baixa e as nuvens criadas por esteiras de avião quase desapareceram”, disse Guinan. “O ar está muito claro –quase como nos tempos pré-industriais”, destaca ele. O especialista ainda diz que algumas noites atrás ele foi capaz de rastrear a estrela supergigante Betelgeuse a alguns graus acima do horizonte ocidental.
“Anteriormente, uma estrela desaparecia na lama atmosférica logo acima do horizonte”, diz Guinan. “As noites não são mais assim.”
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