No dia 9 de março, mesmo dia em que o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, impôs um bloqueio nacional para impedir a disseminação da Covid-19, a empresa de inteligência artificial Expert System anunciou uma plataforma de software que pode ajudar as autoridades a encontrarem evidências de surtos da doença antes de eles ocorrerem. A companhia, com sede em Modena, na Itália, havia construído uma ferramenta de inteligência artificial que examina vastos dados para identificar ameaças à segurança nacional, mas, em face de uma ameaça biológica que se espalhava por todo o país, ela se transformou.
Inicialmente financiada pelos governos australiano e canadense, a Medical Intelligence Platform da Expert System usa tecnologia de AI para pesquisar centenas de milhões de documentos –desde publicações nas mídias sociais a dados de hospitais e registros de chamadas de emergência– para identificar imediatamente tendências preocupantes.
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“Se 50 pessoas em Baltimore postam no Twitter no mesmo dia, dizendo que estão com febre e tossindo há dois dias, não devemos investigar?”, diz Andrea Melegari, vice-presidente sênior de defesa, inteligência e segurança da Expert System. “Não podemos mais deixar de fazer isso.”
Fundada por três graduados em ciência da computação em uma garagem de Modena em 1989, a pequena empresa de capital aberto teve sua primeira grande oportunidade cinco anos depois, quando vendeu seu software de verificação gramatical Errata Corrige para a Microsoft, que o incorporou à versão italiana do Word. Desde então, criou um nicho especializado em processamento de linguagem natural, oferecendo produtos que analisam grandes quantidades de texto e extraem as informações relevantes com base no contexto; os algoritmos melhoram continuamente por meio do aprendizado mecânico e ajudam os clientes a automatizar tarefas repetitivas. Os clientes do pacote Cogito IA variam entre Dow Jones e 3M, Lloyd’s de Londres e agências federais dos EUA.
A empresa abriu seu capital na bolsa de Milão em 2014 e agora possui uma capitalização de mercado de US$ 115 milhões, 250 funcionários e oferece produtos em 14 idiomas. Seus três cofundadores –o CEO, Stefano Spaggiari; o presidente e diretor de tecnologia, Marco Varone; e o membro do conselho Paolo Lombardi– continuam sendo os maiores acionistas individuais, cada um com cerca de 7% das ações da empresa. A Expert System encerrou 2019 com receita de US$ 34 milhões –um aumento de 10% em relação a 2018– e uma perda líquida de cerca de US$ 1,1 milhão.
Embora as linhas de negócios tradicionais da Expert System tenham permanecido fortes durante a crise econômica –cerca de 40% da receita provém de serviços de inteligência de informações prestados a empresas e agências governamentais–, a empresa vê sua nova plataforma como um divisor de águas. Quando o coronavírus surgiu, as respostas nacionais foram adiadas porque os governos não tomaram conhecimento da escala do problema. A plataforma da Expert System fornece aos líderes acesso instantâneo a padrões emergentes –como aumento nas postagens nas redes sociais citando sintomas da gripe, combinados com aumento nas chamadas de emergência por dificuldades respiratórias– que podem indicar um novo surto antes que ele ocorra.
Já há alguma evidência disso: pesquisadores de Xi’an, na China, publicaram um estudo em fevereiro, mostrando que o termo “SARS” começou a ser usado no aplicativo de mensagens chinês WeChat pelo menos duas semanas antes da confirmação dos primeiros casos de Covid-19 em Wuhan. “Podemos usar isso agora para entender o que está acontecendo, mas é principalmente para prevenção”, diz Melegari. “Precisamos estar mais atentos. Precisamos procurar por tudo o que está acontecendo no mesmo lugar, ao mesmo tempo, com os mesmos sintomas.”
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A Expert System também oferece 90 dias de uso gratuito do seu programa Clinical Research Navigator, que pesquisa informações em um banco de dados de mais de 165 milhões de registros médicos e periódicos, para pesquisadores que estão combatendo a Covid-19. Uma agência federal americana anônima decidiu implementar a plataforma após uma demonstração que durou menos de meia hora. A empresa também está trabalhando com o jornal científico “New England Journal of Medicine” para ampliar a biblioteca de dados médicos da plataforma e firmou uma nova parceria com a Amazon Web Services para expandir o acesso à ferramenta, hospedando-a nos servidores da gigante da tecnologia.
Até o momento, Melegari diz que a empresa recebeu várias solicitações de governos interessados em usar o programa, e a empresa apresentou propostas para contratos em andamento na França e na Itália. Seus desenvolvedores acrescentaram recursos que analisam os impactos sociais e econômicos do vírus, incluindo relatórios semanais sobre o que os usuários de mídias sociais estão falando sobre a pandemia.
“Estamos preocupados que, cinco anos depois, algo como uma Covid-25 possa aparecer”, diz Melegari. “Precisamos impedir que isso aconteça.”
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