Estamos completando pouco mais de um mês em quarentena –talvez um pouquinho mais, dependendo do Estado. Fomos despojados de muitas das coisas que faziam parte do nosso dia a dia para ajudar a desacelerar a propagação do coronavírus e salvar vidas. Não levou muito tempo para surgirem novas maneiras de fazer as coisas que amamos por meio do uso da tecnologia, incluídos aí os bate-papos cara a cara com amigos e familiares nas salas virtuais. Isso é muito bom.
Mas eis que nos vemos com o celular apitando o tempo todo, anunciando a chegada de mensagens das dezenas de grupos de WhatsApp nos quais fomos nos incluindo –ou foram nos incluindo– para dar conta de segmentos diferentes da nossa vida. Acordamos no meio da noite para checar notícias, ainda que alarmistas, ou informações sobre alguém que estava doente.
Em reclusão, a relação com a tecnologia mudou, tendo virado quase compulsiva. É aí que mora o perigo. Já há transtornos psiquiátricos bem documentados sobre isso. Muitas vezes, a dependência da tecnologia fica tão grande que, na falta dela, surgem sintomas que se assemelham aos da síndrome de abstinência.
E o que falar dos grupos de WhatsApp? O confinamento fez as nossas emoções aflorarem, para o bem e para o mal. Os grupos acabaram virando um inferno de acusações, de medo e de animosidade. Tenho visto familiares rompendo relações!
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Dr. Arthur Guerra fala sobre a vida na quarentena, quando a tecnologia nos deixa doentes
Lição a ser aprendida: o celular é uma ferramenta cujo propósito é nos ajudar e servir e não o contrário. É possível ter uma relação mais saudável com a tecnologia. Comece fazendo uma seleção dos grupos de que participa, ainda que a filtragem seja imperfeita. Desative também as notificações. Sermos avisados o tempo todo de que há mensagens entrando pode nos deixar ainda mais ansiosos.
A segunda dica, e a mais importante delas, é: o celular não é mais importante do que as relações familiares. Portanto, se você está em quarentena com a sua família, use a hora do almoço ou do jantar para estar realmente presente e próximo dela.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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