Uma simples carta produziu um acontecimento histórico entre os Estados Unidos e o Brasil, no sentido de aprofundar uma amizade já existente entre os presidentes Bolsonaro e Trump. Na ocasião em que Bolsonaro foi a Miami para receber as chaves da cidade do prefeito Francis Suarez e participar de dois eventos econômicos patrocinados pela Apex e pelo Fórum das Américas (reunindo mais de 600 empresários), foi organizada uma visita do chefe do Estado brasileiro com o líder norte-americano em Mar-a-Lago, Palm Beach.
Da ideia à execução do convite de Trump para o jantar passaram-se exatamente 48 horas. Tudo ocorreu em um final de semana, e as consequências foram três horas de conversas privadas e uma homenagem ao Brasil: apenas Xi Jinping (China) e o Shinzo Abe (Japão) haviam sido ali recebidos.
Pelo comunicado oficial emitido pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos, avançaram-se os entendimentos para o apoio americano ao ingresso brasileiro na OCDE, bem como, no item que me parece ainda mais importante, da opção adotada pelo presidente Trump de tornar o Brasil um país associado à Otan. Isso abre o caminho para as indústrias aeronáutica, espacial e de armamentos do Brasil disputarem contratos junto a todos os países mais ricos, ampliando o acesso às tecnologias de ponta. Importante, também, a decisão tomada pelos dois presidentes dando prioridade aos estudos que visam um acordo de livre comércio para, finalmente, termos acesso regular ao maior mercado mundial e iniciarmos com vigor o processo de abertura da economia brasileira.
“[O encontro Bolsonaro e Trump] abre o caminho para as indústrias aeronáutica, espacial e de armamentos do Brasil disputarem contratos junto a todos os países mais ricos.”Ao falarmos da amizade entre os presidentes Trump e Bolsonaro, permito-me lembrar alguns episódios que cimentaram uma aliança entre nossos países, explodida, como na questão da Alca, por questões ideológicas. Em 1980, no auge da moratória internacional causada pela falência do México, foi articulada, com o ex-membro do conselho do Brasilinvest, secretário George Shultz, a visita do presidente Ronald Reagan a Brasília e, em uma deferência especial, uma visita ao Palácio dos Bandeirantes, onde havíamos reunido 3 mil empresários. O fundamental nessa viagem, porém, foi que, ao descer do avião, o presidente Reagan anunciou o aporte de crédito do governo americano que nos salvou daquela moratória: US$ 1 bilhão.
Ainda em dezembro do ano seguinte, Shultz atendeu a uma solicitação de Carlos Langoni, então presidente do Banco Central, para liberar, junto à Arábia Saudita, uma parcela de US$ 500 milhões sem os quais iríamos à inadimplência. Uma demonstração de apoio e de intimidade só comparável à visita de Roosevelt a Getúlio Vargas, em janeiro de 1943, durante a Segunda Guerra, que redundou na correta decisão brasileira de se juntar definitivamente, inclusive nos campos de batalha de Monte Cassino, à luta antifascista.
Considero que o momento histórico de mudanças ideológicas e políticas na América Latina esteja a abrir uma nova rota de colaborações com países como Canadá, Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Peru, Equador e vários outros do Caribe, bem como Argentina e Bolívia. Assim, criamos as bases para uma verdadeira integração econômica, que resulte na quebra do ciclo de progresso de caranguejos que experimentamos por séculos em nosso continente.
A América Latina acorda, agora mais realista e – vencida esta nova luta de todos nós contra o coronavírus –, mais alerta de que a democracia, por sua plasticidade e circulação de ideias e posições aparentemente antagônicas, é ainda o melhor – e único – caminho do progresso.
Mario Garnero é Chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
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