“Assim falou Zaratustra. A essência da felicidade é não ter medo.” (Nietzsche)
Por vezes, me pergunto se uma nação cuja virtude mais reconhecida é a da confiança e cujo lema cantado em seu hino é não ter medo pode ser reduzida a uma posição pré-agônica de temor e de descrença em seu futuro por uma pandemia com duração limitada no tempo e no espaço.
Se em 13 de fevereiro estivéssemos atentos ao decreto federal declarando o estado de calamidade pública, não teríamos ido às ruas para festejar o Carnaval e, ainda, recebido turistas infectados de todo o mundo para assistirem ao desfile das escolas de samba no Rio e São Paulo. Sem medo dos primeiros acordes do coronavírus, saímos às ruas, fomos aos bailes e desfiles em todo o Brasil – sem deixar de assistir às pelejas futebolísticas como se o Brasil não fosse ser atingido pelo vírus.
Aí iniciou-se o contágio nacional em grande escala e seus efeitos, por um longo período, tornaram-se irreversíveis. Agora, no meio de uma borrasca médico-sanitária, acrescida de uma componente econômica desagregadora, passamos de “sem medo” a “apavorados”.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Do despreparo brasileiro ainda salvou-nos, na saúde, o SUS – projeto de uma magnitude social e universal que poucos conhecem e prezam. Reza a Constituição que qualquer cidadão, não importa de que país seja, tenha acesso aos seus préstimos.
Não sou médico, nem sanitarista, nem mesmo profissional da saúde – a quem rendo minha homenagem pelos riscos indecentes a que são submetidos por incúria dos órgãos públicos e pela coragem e desprendimento demonstrados. Meu objetivo aqui é trazer uma reflexão sobre a depressão moral e a recessão econômica que se instalaram no país. Janeiro e fevereiro acusaram crescimentos de 0,44%, o que nos conduziria a um crescimento anual do PIB de cerca de 3%, preparando-nos para um salto próximo a 4,5% em 2021, dentro de uma disciplina fiscal que reduziria nosso déficit a cerca de R$ 60 bilhões, uma inflação de 3,8% e juros de 4,5% anuais. Será que tudo isso se perdeu? Se olharmos os rostos aflitos de empresários, políticos, jornalistas e do próprio povo, temos a certeza de agonizarmos como nação, com o pires na mão e um lençol ao lado para enxugarmos nossas lágrimas.
"Se olharmos os rostos aflitos de empresários, políticos, jornalistas e do próprio povo, temos a certeza de agonizarmos como nação, com o pires na mão e um lençol ao lado para enxugarmos nossas lágrimas."Agimos corretamente distribuindo a riqueza e impedindo a fome através de mecanismos propostos e aprovados pelo Executivo e pelo Legislativo, bem como apoiando as pequenas e médias empresas – responsáveis por mais de 75 % dos empregos no país. Estamos mantendo um tônus econômico bem mais reduzido, é verdade, mas longe da paralisia total que vimos em outros países atingidos pela pandemia.
Creio que é chegado o momento de sairmos do muro das lamentações e das futricas políticas, pois ninguém será presidente se o desemprego chegar a 25%, ou a mais de 25 milhões de trabalhadores sem pão e sem assistência governamental. É hora de abrirmos os cofres, mas não para pagar de US$ 50 mil a US$ 100 mil dólares por respiradores fajutos, onde as comissões são pagas independentemente da entrega dos produtos. E já passou da hora de fazermos o plano para implantar o projeto sanitário de água e esgoto. E precisamos do poder de decisão federal, estadual e municipal para, em conjunto, criar e executar um plano nacional de habitação que em dez anos permita urbanizar as favelas.
São apenas algumas observações que nos trazem de volta ao Hino Nacional. É preciso ousar. Só teremos a essência da felicidade se não tivermos medo
Mario Garnero é Chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Inscreva-se no Canal Forbes Pitch, no Telegram, para saber tudo sobre empreendedorismo: .
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.