Há meses o mundo assiste desamparado a uma competição entre a ciência, lastreada na resplandecência da tecnologia moderna, e o letal coronavírus. Até aqui, porém, essa tem sido uma competição extremamente desigual para a raça humana, prostrada impotente.
Enquanto a velocidade da multiplicação e transmissão do coronavírus é assombrosa (uma pessoa contaminada transmite para outras três, que transmitem para outras… e assim sucessivamente), deixando um rastro de corpos por onde passa, as mentes mais brilhantes do mundo inteiro ainda tateiam para desenvolver uma possível vacina.
Por ser uma ameaça exponencial e atingir o mundo em cheio, a esperança é que a troca global de recursos e conhecimentos possa trazer uma solução bem mais rapidamente do que em outras epidemias.
Em uma live promovida pela revista Exame no início de abril, ao lado do banqueiro André Esteves, o jornalista e escritor americano Thomas Friedman me levou a refletir sobre essa competição. Ele invocou a “Lei de Moore” — referência a Gordon Moore, cofundador da Intel, que disse em 1965 que a velocidade de processamento dos microchips dobra a cada 24 meses (à época esse tempo era espetacular) – e a “lei do coronavírus” com sua veloz transmissibilidade.
De fato, precisamos demais do poder da inovação para a concepção de uma droga que nos devolva o esplendor da autoconfiança. O coronavírus nos colocou diante das nossas fraquezas: de imponentes caçadores passamos a ser a caça acuada. O poder letal do vírus é maior do que o nosso em encontrar soluções para combatê-lo. Felizmente, o mundo todo está trabalhando nesse sentido. Mas estamos correndo contra o relógio.
E diante desse inusitado em lidar com um inimigo que ataca a todos, há muitas incógnitas e quase nenhuma certeza sobre o pós-pandemia. Parece que a única previsão possível neste momento é que o mundo será profundamente impactado e não será o mesmo daqui para a frente. Pode ser.
"O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos." PitágorasVolto, então, à live de Friedman, que lembrou uma frase do investidor Warren Buffett, de 2008, durante a crise dos bancos: “Você só descobre quem está nadando pelado quando a maré recua.”
Concordo. O coronavírus irá expor todas as nossas doenças, não apenas como seres suscetíveis à degradação, mas as sociais, políticas e econômicas, de uma só vez.
Ainda que execre convicções, tenho cá com meus botões a absoluta certeza de que estamos saindo de um período de trevas sociocultural, revelado, quem diria, pelo coronavírus e o consequente isolamento. O combate à pandemia, entre outras coisas, nos mostrará o significado de nação, da forma que agimos como povo e quanto buscamos a igualdade e o bem comum. Nossas instituições serão colocadas à prova e serão cobradas por suas atitudes na condução da crise e redução dos impactos causados por ela.
Para voltar à baixa da maré de Buffett, o coronavírus irá expor, como bem salientou Friedman, quais países são bem governados; quais países têm sistema de saúde forte; quais países têm altos níveis de confiança social e podem trabalhar juntos em uma crise. E quais não têm.
Ainda que o momento seja de incertezas, dor e falta de perspectiva, muitas verdades serão reveladas na radiografia da pandemia. O presente pode até ser sombrio, mas o futuro não pode ser jogado fora. A pandemia vai nos ensinar muito. Em tempo, nesta semana perdemos alguém próximo a nós de Covid-19. A primeira morte de alguém próximo e sem comorbidades. Muito triste.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians & Advogados Associados
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