Esta semana em #AMulherdeSucessoResponde, Juliana Vellozo Almeida Vosnika, diretora presidente do Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba.
Paranaense, formada em Economia, Juliana Vosnika está à frente do MON desde 2015, porém retirou-se durante um período de um ano quando se tornou mãe de gêmeas – Catarina e Maria – retomando as atividades como CEO em 2018. Ela diz que o fato de ter crescido em uma família totalmente voltada para as artes e as questões intelectuais a levaram a abraçar com paixão o papel de gestora da instituição.
Estatisticamente falando, o MON é o maior museu em área de exposições – 19 mil metros quadrados – da América Latina. Está instalado em um prédio projetado por Oscar Niemeyer, em 1967, e inaugurado em 1978. Foi transformado em museu em 2002 e, depois de uma reforma comandada pelo próprio arquiteto, na época com 95 anos, foi reinaugurado em 2003. Niemeyer projetou o prédio anexo, em formato de olho e, por isso, o MON passou a ser conhecido também como Museu do Olho. Possui um acervo de sete mil obras e foi considerado pela BBC um dos 10 museus mais importantes do mundo.
Ela fala com entusiasmo de seu trabalho e aponta como um de seus grandes prazeres profissionais a negociação que trouxe para o acervo do MON uma grande coleção de arte asiática. No momento, ela finaliza operação semelhante com uma coleção de arte africana e já tem vários planos para futuras mostras que dialoguem com a produção atual artística do continente. Aliás, pensar grandes projetos para o MON é sua motivação no trabalho. “Há cinco anos vi em Washington a vídeo instalação ‘The Visitor’, do artista islandês Ragnar Kjartansson, uma obra incrível que tem tudo a ver com o momento que estamos vivendo. Adoraria trazê-la e exibir aqui no museu, mas sei que é difícil e cara de se transportar. Em todo caso, não custa sonhar, não é?”, diz em um tom bem humorado de quem adora enfrentar um bom desafio.
Na vida civil, Juliana é uma mãezona que curte a família, pratica ioga, musculação e aeróbica. Adora viajar: “Minhas viagens mais recentes foram para a Ásia e não vejo a hora de levar minhas filhas comigo”. Gosta de cozinha indiana e peruana: “Cheguei a fazer um curso rápido de chef”, revela. Para um programa gastronômico internacional pós-pandemia ela é certeira: indica o restaurante Maido, em Lima, com seu mix de influências japonesa e peruana, considerado o melhor da América Latina no ano passado pelo Latin America’s Best Restaurants. Apenas.
No dia 12 de março deste ano, Juliana Vosnika estava radiante com a abertura da exposição “Man Ray em Paris”, a primeira no Brasil dedicada à obra do fotógrafo, pintor, escultor e cineasta norte-americano, um expoente do movimento surrealista no século passado. Infelizmente, menos de uma semana depois, devido à quarentena imposta pela pandemia de Covid-19, o MON foi fechado para o público e assim permanece, sem previsão de reabertura. “Já estamos em negociações com a curadora, em Paris, para estender a duração da mostra”, conta Juliana que, apesar da quarentena prosseguiu trabalhando e espera que visitantes do MON ainda possam ver as 255 obras presencialmente. Por enquanto a exposição encontra-se disponível na plataforma digital Google Arts & Culture, através do site museuoscarniemeyer.org.br, onde também pode-se ver as outras mostras da instituição – entre temporárias e permanentes – como a de arte asiática, de arte africana e a do próprio Oscar Niemeyer.
A seguir, Juliana Vellozo Almeida Vosnika, mulher de sucesso, responde:
Qual é o seu maior exemplo de mulher de sucesso?
Minha mãe. Ela foi professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), fez mestrado, doutorado e se tornou referência na área da Educação. Ao mesmo tempo, teve três filhas, sendo a mãe mais presente que alguém poderia ter. Sempre esteve ao nosso lado, nos ensinando e nos apoiando em tudo. Hoje, como mãe, eu a valorizo ainda mais. Assim como valorizo todas as mães que durante a pandemia, inesperadamente, se tornaram professoras, reinventando suas rotinas para acompanhar as aulas virtuais dos filhos. Merecem nosso aplauso. Nas artes, admiro Peggy Guggenheim (1898-1979), que seguiu os passos de seu tio, o colecionador de arte Solomon R. Guggenheim – fundador do Museu Guggenheim de Nova York. Como grande mecenas e patrona das artes, Peggy financiou o trabalho de Jackson Pollock – quando ele ainda não era conhecido – e também de Alexander Calder, entre outros. Uma mulher que empregou seus recursos financeiros para que a arte pudesse ser vista e admirada por muitas pessoas.
Qual sua ideia de felicidade no trabalho?
Estar à frente do Museu Oscar Niemeyer é um desafio e muito recompensador. Como espaço democrático de diálogo, com o objetivo de atingir todos os públicos, o MON atua diretamente na vida das pessoas, aumentando repertórios, instigando a busca pelo novo ou simplesmente levando a reflexões sobre temas diversos. Como gestora, para mim não há maior felicidade do que poder inspirar e motivar o público e os nosso colaboradores. Isso é o mais importante. Dinheiro, cargo, posição, não contam se não pudermos usá-los para fazer o bem.
Eu achava que sucesso era… mas descobri que sucesso é….
Acreditava que sucesso era atingir objetivos e metas traçadas. Porém, descobri que a vida acontece no making of. Existe algo, muitas vezes pouco valorizado, que é o caminho que nos leva aonde queremos chegar. Isso é mais importante que a meta em si, é o conteúdo da trajetória que nos molda e constrói. Quase não paramos para pensar nesse processo. Atingir metas e resultados é algo extremamente valorizado em nossa sociedade, mas geralmente o trajeto para chegar até lá é muito mais marcante e importante. É o caminhar que nos torna mais fortes e nos faz amadurecer. Uma analogia: O que está por trás de uma obra de arte? Qual foi o processo que o artista vivenciou, desde a reflexão, a concepção e a elaboração da obra em si? O mesmo serve para a nossa vida. Provavelmente tal processo terá muito mais a contar do que a simples contemplação da obra de arte pronta ou as metas alcançadas em nossas vidas. O conteúdo da trajetória define quem somos. É nas ações simples do caminho que encontramos muitas vezes as emoções mais intensas, transformadoras. Nesses momentos, nos sentimos mais vivos.
Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?
Além da aceleração indiscutível no avanço tecnológico – que ficará como principal legado prático às instituições – é importante ressaltar que esse período tão delicado é também um espaço que nos permite avaliar a vida. O pós-pandemia certamente irá valorizar o poder de quem soube se reinventar, ser útil para a comunidade e manter a serenidade durante a crise. Aqui no MON estamos finalizando a proposta de reposicionamento do museu, cujo principal conceito é a reconexão. Em um momento marcado pelo bombardeio de notícias difíceis, ansiedade, perdas reais e simbólicas, a arte apresenta-se como uma inspiração, com um enorme potencial para contribuir na reconstrução do bem-estar individual e coletivo – reconectar com o que é essencial para cada um e nós, auxiliando na travessia para uma nova fase. Os museus podem ser esse espaço de reflexão e de acolhimento de que tanto precisamos agora. A arte tem o poder de iluminar o mundo.
Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?
O do teletransporte. Uma forma mais rápida e ágil de poder ser útil para um maior número de pessoas.
Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar sua mente?
Conhecer o mundo, viajar, ver de perto outras culturas e saber mais sobre diferentes maneiras de pensar são a melhor maneira de nos desligar de nossa própria realidade e ir além do nosso entorno. Porém, hoje as coisas estão bem diferentes. Nesse momento reflexivo e introspectivo, é mais que necessário ter uma válvula de escape para a rotina, dentro das possibilidades que nos restaram. Então, para desligar minha mente, nada melhor do que a prática da ioga, que exige concentração e, consequentemente, muda o foco do nosso pensamento. Atividade física para mim é essencial, alivia a mente, dá disposição e ainda melhora o humor.
Qual mensagem você gostaria de deixar para as próximas gerações?
Preste muita atenção no seu caminho, nas pessoas que você encontra, nos lugares por onde passa, pois eles podem ser determinantes nos processos de autoconhecimento, amadurecimento, autoestima e segurança. Exerça a resiliência, o poder de adaptação ao novo nos fortalece. Cultive o bom humor e o alto astral sempre. Seja leve, crie empatia buscando ser cada vez mais humano. Por fim, seja o protagonista da sua própria vida e não um mero espectador.
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle
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