Pode parecer um título pomposo e de caráter barroco, mas a atualidade brasileira nos chama a analisar a inter-relação entre o que se passa no país e seu futuro como nação – com um só território, uma só língua, uma amálgama de raças e credos e um pendor inexorável pela liberdade individual.
Desde os primórdios de nossa história, as unidades nacional e territorial foram forjadas e mantidas, apesar das revoluções, golpes de Estado, ditaduras e curtos ou longos períodos de democracia. Agora, nem mesmo a quarentena, democraticamente rejeitada por metade da população, sem condições de sobreviver sem trabalho e sem pão, abalou o ideal de uma nação única e unitária.
Toco neste assunto pois me parece que vivemos em mundos diversos, com aqueles que não pertencem à classe dirigente – mais de 200 milhões de brasileiros – assistindo atônitos a uma transição de poderes e de funções sem compreenderem que o Brasil de hoje tem eixos em forças econômicas e políticas que passam a dominar tais cenários no país.
Ressurge a agricultura como peça motora do desenvolvimento nacional. Desbanca
a indústria na soma de riquezas geradas e assume a vanguarda do progresso
tecnológico. Faz do trator, dos robôs, da pesquisa e da modernidade a mola mestra de seu progresso e, com isso, ganha relevância nas decisões políticas e econômicas.
O Brasil e seu povo são resistentes a fraturas na unidade nacional e na federação, como mostrado nos momentos mais tensos de inquietação social agora agravados pela pandemia, sem maestros e sem partituras, e por governos aos quais a autoridade judicial máxima determinou que tomassem a batuta e regessem a trágica opereta que nos ensurdece dia e noite com mortuária constância.
Politicamente divididos, não passa pela cabeça de nenhum de nós que esta divisão se espalhe e ameace a unidade e a integração nacionais.
Por outro lado, tal consenso nos dá a oportunidade para forjar uma união que permita um concerto harmonioso entre todas as forças significativas da sociedade. Estudantes, classes liberais, trabalhadores, militares e civis, juízes, deputados e vereadores, governadores e prefeitos, associações de classe, enfim, os órgãos vivos da nação, independentemente de suas convicções partidárias, podem se sentar na mesma mesa e perguntar a si mesmos: o que queremos ser como nação de 2020 a 2050? É nossa chance de um grande pacto nacional para a construção de um futuro comum em um momento de crise na qual a vida de cada um de nós se vê sob o mesmo espectro: a ameaça do coronavírus.
Lembro-me bem de que, quando abrimos, pelo Brasilinvest (1981), o primeiro escritório de uma empresa brasileira em Pequim, a China, saindo de sua revolução cultural, era a 28ª economia do mundo; e o Brasil, a 7ª. Em cerca de 40 anos, nós somos a 10ª maior economia; os chineses, a 2ª. Qual é o segredo? Trabalho constante, sem a pletora de feriados brasileiros, disciplina e planejamento flexível (revisto a cada cinco anos) e uma visão de preeminência futura.
E nós? Quantos planejamentos orientativos tivemos, além do de JK (50 anos em 5) e dos PNDs de Geisel? É hora de pensarmos em um Projeto de Nação e nele contemplar, como prioridade (destinando-se para isso algo como 5% do PIB), a eliminação da pobreza no Brasil.
Mario Garnero é Chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
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