Minha amiga Flora Gil é empresária de sucesso do showbiz, da cultura e da alegria. Sua produtora Gegê – de “Geléia Geral”, título de um sucesso tropicalista de seu marido, o ícone Gilberto Gil – responde por grandes shows e turnês – nacionais e internacionais – possui um setor de produções audiovisuais, além de ser gravadora e editora musical – administra a obra de artistas como Jorge Mautner e claro, Gilberto Gil. Há também a Xirê, que cuida da carreira de vários artistas, entre eles Adriana Calcanhoto, enquanto clientes como Claudia Leite e a UBC – União Brasileira de Compositores – são atendidos pela agência Jangada Digital que atua nas redes. Sem falar na Expresso 2222, encarregada de grandes eventos e do Carnaval, sobretudo do camarote mais famoso do Brasil, grife absoluta da folia baiana.
“Como sou casada com o Gil, há 40 anos, nada mais natural do que cuidar dele tanto pessoa física quanto pessoa jurídica”, diz bem-humorada. Profissional, eficiente e meticulosa, Flora realizou um trabalho para lá de consistente com a carreira e a obra do artista. Ela reuniu 800 canções compostas por ele, organizando e administrando seus direitos autorais: “Havia muita coisa espalhada e é preciso conhecer exatamente os direitos do artista, o dono da obra, e os direitos das gravadoras, por exemplo”, explica. E esclarece: “Dinheiro é uma coisa, direito é outra”.
Esse empenho de Flora jogou luz sobre a questão dos direitos autorais no Brasil, uma discussão antiga, ampla e ainda em curso. “Acredito que é preciso haver muita conversa para se chegar a uma conclusão sobre assunto, porque muita coisa precisa ser discutida e ajustada. Eu sou pelo equilíbrio e pelo entendimento”, diz com o conhecimento de quem sabe negociar para se chegar a um bom termo. Flora vem de uma família paulistana de ascendência italiana bem-sucedida no comércio, descendente de italianos. “Costumo dizer que não tenho formação acadêmica, mas frequento a universidade Gilberto Gil há 40 anos”, brinca.
Flora esteve em São Paulo no último fim de semana acompanhando o marido que veio para fazer um show virtual. Ele foi a grande atração do Coala Festival – este ano em edição totalmente online – acompanhado pelo trio Gilsons – formado pelo filhos José Gil e os netos, Francisco Gil e João Gil. Claro que ela também cuida da carreira dos rapazes.
A paulistana Flora conheceu a Bahia, Salvador e Gilberto Gil tudo junto e misturado. Aos 19 anos, ela trabalhava como vendedora em uma loja de jeans e ganhou como prêmio – era a campeã de vendas – uma viagem a Salvador. A ideia original dela e das duas amigas que a acompanharam era conhecer seus ídolos na época, os Novos Baianos. O trio se jogou com vontade em um show de Baby, Pepeu e Moraes Moreira, mas na hora de voltar para o hotel, não conseguiam condução. “A gente nem sabia direito onde estava. Sabíamos apenas que tínhamos que voltar para o hotel em Ondina”, conta. Acabaram salvas por um carro que lhes ofereceu carona: Gilberto Gil estava na direção, Regina Casé e Nara Gil – filha do cantor, ainda menina – como passageiras. A partir dali nasceu uma amizade que virou namoro e acabou em casamento. Como se diz, “o resto é história”.
A recente passagem do casal por São Paulo foi uma exceção em sua rotina durante a quarentena, que teve início na casa de campo da família, em Araras. “Agora estamos tranquilos em nosso apartamento no Rio e nos preparando para passar uma temporada em Salvador”, informa. Claro que Flora tem seus projetos pós-quarentena: um filme em coprodução com a Conspiração Filmes e direção de Andrucha Waddington. E outro, muito maior e envolvendo todo o clã, que é a construção do acervo da vida e da obra do patriarca. Ou seja, um verdadeiro monumento.
Mas e o Carnaval, Flora, como fica? “Não vou fazer no ano que vem. Não é possível ter Carnaval sem antes ter uma vacina”, diz categórica. “Com o desconhecido não se brinca”. Para ela é questão de responsabilidade de cada cidadão brasileiro. “Outro dia eu passei de carro no Leblon e parecia que o Sambódromo tinha se mudado pra lá. Não pode! A pandemia não acabou”. Como empresária habituada a fazer negociações e fechar acordos, propõe: “Por que não deixar um crédito? Se não tiver Carnaval em 2021, pode haver dois em 2022. Ou, em vez de uma semana, fazemos duas semanas de Carnaval”. E baianamente conclui: “O Carnaval pode esperar”. A seguir Flora Gil, mulher de sucesso, responde:
Qual o seu maior exemplo de mulher de sucesso?
Meu maior exemplo de mulher de sucesso não vem de uma, mas de várias. A começar pela minha família. Por exemplo, Bela e Preta Gil e Marina Morena são mulheres de sucesso e um exemplo para muitos, inclusive para mim. Posso citar mais algumas: Angela Merkel, Jacinda Ardern, Fernanda Montenegro, minha mãe – Dona Nair – e Mãe Carmen do Terreiro do Gantois de Salvador. Tenho muitas mulheres que me fazem pensar como exemplos, mas essas vieram de imediato em minha cabeça.
Qual sua ideia de felicidade no trabalho?
Felicidade é trabalhar com aquilo que se gosta. Trabalhar com prazer e não apenas como dever. Equipe para mim é muito importante. Gosto imensamente de dividir as questões, ouvir e tomar decisões em grupo. Sinto-me mais segura e mais forte quando compartilho dúvidas e desafios.
Eu achava que sucesso era… mas descobri que sucesso é…
Eu achava que sucesso era a boa fama e descobri que o bem-estar e boa saúde são os mais importantes ingredientes no tempero do sucesso.
Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?
Depois da experiência de trabalhar em casa, percebi que gostaria de passar mais tempo em casa do que no escritório. Vejo um novo normal com felicidade e prazer nas pequenas mudanças, com grandes resultados.
Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?
Um superpoder? Teletransporte, para evitar aeroportos, aviões, ônibus, carros, vans, estradas. Imagine que sonho seria pensar em Salvador e, num piscar de olhos, já avistar o Farol da Barra? Pensar em Paris e se ver num bistrô com uma tacinha de vinho? Piscar e estar na casa de alguém que você tem saudades? Isso sim é um superpoder. E, sem dúvida, ter o poder de ajudar os doentes nos leitos dos hospitais. Isso seria simplesmente um sonho bom.
Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar sua mente?
Praticar a saudação ao Sol pelo menos uma vez ao dia e respirar com bons pensamentos.
Qual mensagem que você gostaria de deixar para as próximas gerações?
Deixaria uma mensagem para seguirmos com mais humildade e menos ganância. Mais cuidado com o planeta, com a boa alimentação do corpo, da mente e da alma. Cuidar dos mais velhos e aproveitar cada minuto de nosso pai e nossa mãe.
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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