Meses após o novo coronavírus surgir no cenário mundial – e a Covid-19 ser declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) –, os sintomas da doença estão mais claros, e nós, médicos, aprendemos a tratar essa doença de forma mais eficaz.
Entre os sintomas mais comuns estão febre, fadiga, dor de cabeça, tosse, anosmia (perda do olfato) e ageusia (perda do paladar), e, com menor intensidade e frequência, um número crescente de dermatologistas que trataram de pacientes confirmados com coronavírus relataram padrões e tendências de doenças da pele. A partir dessa observação, foi sugerido que algumas lesões cutâneas também podem estar relacionadas à Covid-19.
Um estudo publicado por pesquisadores italianos, em março de 2020, no Journal of the European Academy of Dermatology, relatou que 18 de 88 pacientes com Covid-19 (cerca de 20,4%) desenvolveram lesões cutâneas. Tais lesões foram encontradas, especialmente, no tronco, nas mãos e nos pés. A maioria dos casos apresentava manchas e lesões avermelhadas, erupções parecidas com as do sarampo ou urticárias.
Tendo em vista a relevância deste e de outros relatos, a Associação Americana de Dermatologia resolveu coletar informações vindas de vários dermatologistas sobre as manifestações cutâneas apresentadas em pacientes com coronavírus.
A partir da reunião de mais de 300 relatos recebidos, uma alteração peculiar, apelidada de “dedos do pé de Covid”, foi comum à maioria dos casos. Trata-se de um fenômeno observado em alguns países, principalmente em pessoas mais jovens, em que os dedos dos pés ficam avermelhados e até arroxeados. Alguns descrevem ainda uma sensação de ardência na área. A lesão não parece estar associada à gravidade da doença e tende a desaparecer em poucos dias.
Além dos “dedos dos pés de Covid”, a publicação apontou outra lesão cutânea que parece ser um padrão entre os pacientes que foram hospitalizados, chamada livedo reticular, que se manifesta como uma descoloração da pele, caracterizada pelo surgimento de linhas avermelhadas ou azuladas, de contornos irregulares, que seguem com exatidão a disposição das veias.
De acordo com os especialistas, essa anomalia está relacionada a problemas de coagulação do sangue e se manifesta principalmente nos braços, nas pernas e nas nádegas. O estudo ainda revela que existe a ideia de que o vírus pode superestimular o sistema imunológico em certos pacientes.
Mais uma condição foi relatada, desta vez em um artigo publicado pelo Journal de Médecine Vasculaire (JMV): a presença de manchas escuras parecidas com as de queimaduras de frio, além de sinais de urticárias.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) ressalta que ainda é cedo para tirar uma conclusão definitiva sobre o tema. Entre as limitações que precisam ser consideradas, há o fato de os estudos serem pequenos, além de apresentarem falhas metodológicas. Não dá para afirmar se elas aparecem antes ou depois dos sintomas clássicos — ou mesmo por causa de medicamentos e outras infecções coexistentes.
Portanto, a prudência indica que o melhor a fazer é ficarmos atentos em relação ao surgimento de qualquer desses sinais ou sintomas. Se isso ocorrer, nada de pânico: procure sempre um médico especialista.
Dra. Letícia Nanci é Médica do Hospital Sírio-Libanês, médica- -responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD)
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