Preste atenção a este número: 13. É aos 13 anos de idade que 39,2% das crianças brasileiras têm o seu primeiro contato com bebidas alcoólicas, seja com familiares, seja com amigos, segundo o Manual de Orientação sobre Bebidas Alcoólicas, publicado em 2017, pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
Alguns pais pensam que se eles deixarem seus filhos tomarem o seu primeiro gole sob a supervisão deles ou permitirem que bebam em casa com os amigos, na presença deles, conseguirão ter um melhor controle da situação.
Não é bem assim que acontece. O consumo de bebidas por jovens é um fenômeno complexo, determinado por diferentes fatores, inclusive pelo fato de que adolescentes são adolescentes e, nessa fase da vida, eles são mais impulsivos e tendem a transgredir regras. Mas um dos aspectos que pesa fortemente é o social.
Assim, se, por exemplo, os pais bebem às refeições ou ao longo da semana e a bebida entra num contexto de diversão, existe a possibilidade de o álcool parecer inofensivo para muitos jovens. Adolescentes se inspiram nos comportamentos daqueles que os rodeiam, às vezes mais do que em diálogos ou conversas francas.
Se eles veem que o álcool traz descontração e alegria para os pais, existe a possibilidade de eles fazerem uma associação direta entre prazer e bebida, como sugerem diversos estudos científicos.
Por outro lado, há indicativos de que, quando a família é mais durona e faz esforços para que a iniciação ao álcool seja postergada o máximo possível, a probabilidade é de que o jovem, na faculdade, vá beber menos e se envolva em menos episódios de binge drinking, isto é, beber uma grande quantidade de uma só vez.
A ciência e a medicina já reuniram provas suficientes de que o álcool tem um efeito tóxico no cérebro dos adolescentes. As células nervosas dos jovens (os neurônios) ainda não estão completamente maduras até por volta dos 20 anos de idade, principalmente as que ficam nas regiões responsáveis pela memória, atenção e pensamento crítico.
Por isso, os pais devem dar o exemplo. Se eles têm uma relação saudável com o álcool, eles mostrarão para os filhos o que significa relacionar-se com as bebidas de uma maneira não abusiva. É um caminho interessante este para os pais, pois lhes fará refletir sobre como andam se relacionando com elas. Trata-se de um caminho de mão dupla: de alguma forma, o freio subjetivo colocado pela responsabilidade para com os filhos é positivo também para os pais.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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