Quando eu nasci, em 1961, minha expectativa de vida era de 51 anos. Ou seja, dessa minha safra, metade estaria morta antes do ano de 2012. No entanto, não foi isso que aconteceu. Em 2012, pouco mais de 90% dos nascidos em 1961 ainda estavam vivos.
Em 1969, meu avô paterno morreu. Ele era um senhor que andava com uma bengala e passava os dias sentado em uma cadeira de balanço, pois havia delegado aos filhos o cuidado dos negócios. O velhinho tinha 59 anos.
Em 1974, Washington Olivetto e Francesc Petit, dupla na DPZ, foram os primeiros brasileiros a conquistar o Leão de Ouro no Festival de Cannes, o Oscar da Propaganda. O prêmio colocou o Brasil na elite mundial da publicidade com o comercial “O homem com mais de 40 anos”. Essa peça encomendada pelo Conselho Nacional de Propaganda tinha como objetivo comemorar o 1º de maio. Ela começava com a frase: “Você já ouviu falar que um homem depois dos 40 anos fica ultrapassado, sem chance de se realizar profissionalmente, se não tiver atingido o ponto máximo da sua carreira até essa idade? […] Você não acredita, então responda por que os anúncios classificados de certas empresas levam aquela frase com preconceito em negrito, ‘idade máxima 40 anos’”. Na sequência, dizia: “Essas empresas julgam os homens com mais de 40 anos velhos demais para conseguirem sucesso profissional”.
Em outubro de 2003, a Lei Federal nº 10.741, que ficou conhecida como “Estatuto do Idoso”, decretou que ficamos velhos ao atingir 60 anos. Na época, eu tinha 42 e me parecia plenamente razoável ficar velho ao me tornar sexagenário.
Minha mãe, que tinha 59, achou a lei um absurdo, fez 60 e continuou trabalhando. Aos 70, foi obrigada a se aposentar do serviço público. Não ficou nada satisfeita e logo se reinventou. Hoje, aos 76, usa as redes sociais para difundir seu novo trabalho de patchwork.
Há mais de três décadas, trabalho com educação financeira e uma das tônicas sempre foi ensinar as pessoas a se preparar financeiramente para a aposentadoria. Eu passei a ter direito à minha aposentadoria na Universidade Federal de Santa Catarina ao completar 58 anos – e felizmente tinha reservas financeiras suficientes para tomar essa decisão, se quisesse. O que me faltou foi vontade de parar.
De toda forma, toquei meus planos há muito programados. Construí uma casa na fazenda em que nasci, na Serra Catarinense, e resolvi parar uma consultoria que fazia no maior banco privado do Brasil. Passei a deixar segundas e sextas-feiras livres para subir a serra e ter tempo para meu lazer predileto: pedalar minha mountain bike ao lado da Celina, minha companheira de vida e de pedaladas.
A aventura durou seis meses. Não resisti ao convite para voltar a produzir conteúdo de educação financeira em uma corretora e investi em uma fintech, da qual me tornei conselheiro. Fiquei muito animado e feliz de voltar para o game. Por enquanto, o plano de parar foi transferido para os 70 anos.
Não sou uma exceção. Muitos dos meus amigos e amigas que passaram dos 50 ainda estão cheios de energia, correndo maratonas, abrindo novas empresas, decidindo interromper casamentos que já não lhes eram satisfatórios, resolvendo transformar hobbies em novos negócios, levando seus conhecimentos para ONGs ou até se lançando em carreiras políticas.
James W. Vaupel, 75 anos, é diretor-fundador do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica em Rostock na Alemanha e professor pesquisador na Duke University. Sem nenhuma dúvida, ele é um dos maiores demógrafos da atualidade entre os que se dedicam a compreender as mudanças decorrentes do aumento da expectativa de vida. Segundo Vaupel, a expectativa de vida não está aumentando como resultado de uma desaceleração no processo de envelhecimento. Em vez disso, o processo de envelhecimento está sendo adiado. A entrada na velhice está sendo atrasada.
É uma enorme mudança. Não ficamos velhos por mais tempo, estamos ficando jovens por mais tempo. Esses 20 anos a mais antes da entrada na velhice passaram a ser conhecidos como segunda adolescência.
A adolescência é um período de dramas internos acerca da vida futura e do reconhecimento da própria identidade – “quem sou eu além de filho dos meus pais?”. Agora, pessoas na casa dos 50 começam a olhar para frente e ver que ainda lhes resta muito tempo, e dramas internos acerca da vida futura retornam – “quem eu sou além de pai dos meus filhos? Quem eu quero ser além do que construí até aqui?”.
E você já sabe o que quer ser nesta nova fase da sua vida? Quer continuar tocando a vida sem mudanças? Tem projetos guardados no fundo do baú e não sabe como realizá-los? Suas finanças permitem que você pare ou escolha o que fazer? A forma como você gere seu patrimônio lhe agrada? Seus filhos são independentes financeiramente? É sobre essas e outras tantas questões que vamos dialogar.
Com esta coluna, estou inaugurando um espaço para tratar de vida, de sonhos e de finanças para quem passou dos 50, 60, 70 ou 80 anos. A grande questão será: como se realizar neste bônus demográfico, neste novo espaço de tempo com que a vida nos presenteou?
Quero dialogar com você que ainda está cheio de saúde, vontade de trabalhar, amar, se divertir. Você que continua tentando impactar o mundo à sua volta, me escreva e conte sua história. Sua opinião importa!
Se você ainda está longe dos 50 anos, lhe convido a nos acompanhar e descobrir os impactos da longevidade na sociedade e na sua vida.
Jurandir Sell Macedo Jr é doutor em finanças comportamentais, professor universitário e, desde 2003, ministra na Universidade Federal de Santa Catarina a primeira disciplina de finanças pessoais do Brasil. É autor de inúmeros livros sobre educação financeira e tem pós-doutorado em psicologia cognitiva pela Université Libre de Bruxelles. Escreve sobre Finanças 50+ sempre às quintas-feiras. Instagram @jurandirsell E-mail [email protected]
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