A sensação que tenho de 2020 é de um ano que não acaba mesmo com o início de 2021. Ainda incompreendido, como passado será escrito completamente apenas no futuro, quando todas as peças estiverem assentadas e conseguirmos analisar e lidar com os elementos trazidos na enxurrada do coronavírus. O que devemos fazer hoje, lembrando a frase do historiador britânico (nascido no Egito) Eric Hobsbawm (1917-2012), é lutar contra a mentira.
Mas 2020 permanece uma grande incógnita. Não tenho a certeza da prestigiada revista americana “Time”, que cravou que 2020 foi “o pior ano de todos”. Para comprovar sua tese, a publicação elenca uma série de pragas que agrediram o mundo durante o ano, como a pandemia, claro, a crise social e econômica e os desastres ecológicos.
Ainda para dar mais peso à sua afirmação, a “Time” marcou os quatro dígitos do ano com o icônico ‘X’ vermelho, usado em apenas outras quatro ocasiões: a morte de Adolf Hitler foi a primeira; a segunda foi para Saddam Hussein, em 2003, no início da guerra do Iraque; a terceira em 2006, quando os EUA mataram o líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Mousab al-Zarqawi; e, em 2011, quando o X vermelho foi usado para destacar a morte de Osama bin Laden.
Por ser um evento recente e em andamento, a pandemia poderia até parecer um consenso para alçar 2020 ao pior ano de todos. Entretanto, a afirmação da revista causou um certo rebuliço (in)esperado nas redes sociais. No calendário-catastrófico dos internautas, nenhum ano poderia ser comparado com os das grandes guerras do século 20, ou com 1918, ano da Gripe Espanhola; 1986, do desastre de Chernobyl; ou ainda 2001, do 11 de Setembro. Enfim, não faltam desgraças para tornar um ano pior do que o outro. A autora da reportagem, Stephanie Zacharek, chegou a argumentar também nas redes que, além de ser o pior da história, 2020 é “tristemente banal e sem graça ”.
Eu acrescentaria que, além de acabar com a nossa normalidade preestabelecida, vimos prostrados, do alto da nossa prepotência tecnológica e científica, um vírus ardiloso colocar em xeque a sobrevivência da raça humana como a conhecíamos. Não tenho dúvida de que 2020 foi um ano terrível em vários aspectos. Mas há muitos pontos a destacar.
Um deles foi a mobilização global para o desenvolvimento e produção de vacinas contra o coronavírus, levadas a testes em alguns meses — coisa que até então costumava demorar décadas. No Brasil, a Fiocruz e o Instituto Butantan se mobilizaram para estabelecer parcerias com grandes laboratórios internacionais para trazer as vacinas para cá.
Para retornar ao julgamento que a história irá fazer de 2020, recorro a mais uma frase, desta vez de Henry Ford (1863-1947): “A única história que vale alguma coisa é a história que fazemos hoje”. Portanto, nossas atitudes e as atitudes de nossos governantes podem abreviar o tempo de caos. Esse é realmente um dos desejos para o ano novo, assim como desejo que o diálogo tolerante
se mostre essencial para a obtenção de consensos em torno de questões controversas da política e da economia, dentro de debates democraticamente qualificados.
A “Time Magazine” concluiu sua reportagem com uma manifestação de esperança para 2021: “A vida nem sempre é um belo nascer do sol, às vezes você tem que passar pelas horas escuras que o antecede. É onde a aurora espera seu momento”.
É esse o sentimento. Como a Segunda Guerra gerou a ONU e a Declaração dos Direitos Humanos, que de 2020 a humanidade também saia fortalecida e avance.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians & Advogados Associados
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
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