A notícia esteve em todos os portais mundo afora em fevereiro: “Serena Williams chora e abandona entrevista após eliminação na Austrália”.
A manchete refere-se à derrota da tenista para a japonesa Naomi Osaka, nas semifinais do Australian Open, torneio conquistado pela norte-americana sete vezes em sua carreira. Serena, que tem 39 anos de idade, persegue o recorde da australiana Margaret Court, que alcançou a marca de 24 vitórias em torneios de Grand Slam na década de 1970. Serena soma até o momento 23 conquistas.
A cena pode suscitar muitas dúvidas entre pessoas comuns que estejam fora do ambiente de alta performance e competitividade do esporte. Afinal, por que alguém com um currículo tão impressionante como o de Serena – multicampeã, reconhecida e rica – poderia ficar tão abalado e sair chorando publicamente por uma “simples” derrota? Como alguém que conquistou tanto ainda pode dar tamanho valor a mais um dos vários torneios de que participou?
Será pela fama? Pelo prêmio em dinheiro? Pelo reconhecimento? Não. É pelo objetivo traçado pela própria atleta por anos. Ninguém chega tão longe se não tiver algo interno capaz de motivá-lo a longo prazo.
Isso vale para todos nós. Os incentivos externos não nos motivam. Não passam de estímulos passageiros. A verdadeira motivação vem de dentro, daquilo que nos toca profundamente e que somente nós sabemos. Cada pessoa é diferente da outra e tem os seus motivos individuais, muitas vezes secretos, mas sempre vindos de sua própria vontade. Somente esses motivos são capazes de nos sustentar por tanto tempo em busca de nossas metas e nossos desejos. Somente eles nos tornam capazes de suportar tantas adversidades, sem desistir, em busca do que tanto planejamos.
Atletas não têm garantias, não têm estabilidade e podem, da noite para o dia, desaparecer, submersos na falta de resultados e de motivação. Não basta talento. A rotina de treinos é repetitiva, desgastante, e sempre vai esbarrar na fadiga muscular e óssea e em outras variáveis genéticas que podem acabar com a carreira a qualquer momento.
Nesse cenário, a pressão de patrocinadores e de sua própria expectativa faz com que o atleta viva um drama no campo de batalha de sua mente a cada dia em que se prepara para um novo treino ou competição. Isso explica o choro da atleta que vê a idade avançando, a sua carreira terminando e faltando ainda uma única vitória para igualar o recorde tão sonhado.
Além de um clube de futebol profissional, onde tenho contato próximo com a realidade de jovens que lutam por um sonho no esporte, vivi de perto o dia a dia de um filho atleta. Temos muito a aprender com os esportistas. Com muita paixão, entrega e luta – sem garantias – por um futuro que às vezes insiste em não chegar, mas mantendo sempre a esperança em alta para começar um novo treino todas as manhãs, os atletas nos mostram o caminho para não termos uma vida ordinária. Para chegarmos mais longe, precisamos ser atletas insaciáveis pelos melhores resultados em nossos negócios, no casamento, na relação com os nossos filhos e amigos. Devemos lutar para sermos campeões em cada um desses “torneios”.
Nada menos do que isso.
Flávio Augusto da Silva Presidente da Wiser Educação e dono do time de futebol Orlando City
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