Além do mesmo sobrenome e profissão – são advogadas – Juliana Souza e Silvia Souza também compartilham o sorriso franco e são ótimas de papo – nossa entrevista foi longa e bem-humorada. São acadêmicas, intelectuais e ativistas sim. Formais e aborrecidas, jamais.
Juliana e Silvia – em ordem alfabética – se tornaram conhecidas da mídia a partir de junho do ano passado, quando participaram de uma live com a popstar Anitta, falando sobre racismo. Juliana define o encontro – promovido por uma amiga em comum, a empresária Paula Lavigne – como “uma virada de chave”. E uma virada de sucesso: 20 mil pessoas acompanhando o encontro ao vivo e mais dois milhões de visualizações nas 24 horas seguintes.
A partir dali, as amigas decidiram empreender. Lançaram um curso online sobre racismo estrutural e práticas antirracistas. Segundo Silvia, “um movimento de sensibilização para um público mais amplo, tratando a temática de maneira simples e acessível”. Em seguida, abriram uma consultoria própria, “em equidade racial e compliance anti-discriminatório para personalidades, organizações e empresas que queiram se informar e implementar essa cultura em seus negócios”, informa Juliana.
Elas também assumiram a defesa do rumoroso caso de racismo sofrido pela filha dos atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso – ocorrido em 2017 e correndo em sigilo. Juliana faz um alerta: “Casos de racismo acontecem diariamente, mas a maioria das pessoas não têm acesso à justiça, por falta de meios financeiros ou falta informação”.
Apesar de terem nascido e crescido em Itapevi, na Grande São Paulo, as Souza só se conheceram há cinco anos em uma entidade do movimento negro onde atuavam pelas cotas raciais.
Juliana é formada pela PUC-SP, com especialização em Direitos Fundamentais e Processo Constitucional pela Universidade de Coimbra e pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Atualmente é mestranda e pesquisadora da USP.
Silvia formou-se na Unip – em Direito e Processo de Trabalho – e se especializou em Direitos Humanos, Diversidades e Violências pela Universidade Federal do ABC. Hoje vive em Brasília, onde trabalha e é pesquisadora nas áreas de criminologia e racismo.
Juliana e Silvia conhecem, estudam e pesquisam a realidade da população periférica brasileira. E são otimistas quanto ao futuro. “Estamos vivendo um momento de transição na luta contra o racismo, os jovens vêm se afirmando cada vez mais cedo como pessoas negras, demonstrando maior consciência estética, racial e social”, acredita Silvia. “É um movimento sem volta e todo mundo ganha com isso”, concordam.
A dupla avisa que seu encontro e trajetória de amizade, trabalho e ativismo, em breve deve virar livro. “Para inspirar pessoas e deixar nossa marca para quando não estivermos mais aqui”, conclui Juliana.
A seguir, Juliana Souza e Silvia Souza #MulheresdeSucessoRespondem:
Donata Meirelles: Com qual mulher de sucesso da História vocês mais se identificam?
Juliana Souza: Com minha mãe, Tercília Conceição, para mim a mulher de maior sucesso. Outra grande inspiração é a escritora Carolina Maria de Jesus – autora de “Quarto de Despejo”, best-seller internacional – disruptiva, visionária, genial.
Silvia Souza: Elza Soares, por toda a expressão de garra, de luta e de poder que ela traz em sua voz, música e carreira. E Anitta, porque além de ser uma artista completa, é uma mulher de negócios, empresária da própria carreira, chegando a lugares onde poucos artistas brasileiros chegaram.
DM: Qual sua maior conquista, profissional e pessoal?
JS: Ocupar lugares que jamais imaginei e, antes mesmo dos 30 anos, ser referência para tantas meninas e mulheres que vêm do mesmo lugar social que eu.
SS: Minha maior conquista profissional foi proferir sustentação oral no STF num caso emblemático (ADC nº 54 – Ação direta de constitucionalidade) que gerou repercussão nacional e internacional sobre prisão em segunda instância. Ao final, obtivemos êxito vencendo o julgamento por 6 votos a 5. A maior conquista pessoal é não perder a essência, manter o meu círculo de amigos que fiz há anos. E, o principal, manter a família pertinho de mim.
DM: Não confunda sucesso com…
JS: Meritocracia. O que diferencia as pessoas majoritariamente são as oportunidades que se tem ao longo de sua trajetória, de aperfeiçoar as habilidades e demonstrar os talentos.
SS: Ficar rica.
DM: Que qualidades você mais admira em uma pessoa?
JS: Saber ouvir, ter empatia e criatividade, características fundamentais para os tempos atuais que demandam novas estratégias para driblar questões históricas como a desigualdade social e o racismo.
SS: Inteligência, perspicácia, persistência e criatividade para elaborar estratégias frente a situações difíceis.
DM: Qual o seu maior luxo não material?
JS: Poder imprimir minha marca no mundo, construir minha história em primeira pessoa.
SS: Incontestavelmente estar com minha família (irmãos, mãe e sobrinhos).
DM: Se você pudesse ser um animal, qual seria? Por quê?
JS: Seria um cavalo. Inteligente, forte e persistente.
SS: Águia, porque enxergo as oportunidades de longe, me concentro estrategicamente para alcançá-las e chegar aonde quero.
DM: Qual a sua filosofia de vida?
JS: Por corpos e vozes dissonantes em todos os espaços. A ordem é ocupar. Com isso quero convidar a corpos marginalizados, vozes silenciadas a rejeitar o “não-lugar”.
SS: Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”. Acredito que minha ancestralidade, que vem da diáspora africana, me guia na construção de uma jornada disruptiva do mundo que é de todos nós.
Donata Meirelles é Consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle
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