Desde 2012, dedico minha carreira à educação financeira das mulheres. (E antes que você me pergunte, eu já me adianto: se queremos uma sociedade justa e igualitária, falar de dinheiro com mulheres é fundamental). Mas aprendizado que é bom é aquele de duas mãos – e nestes mais de oito anos, aprendi muito com todas as mulheres com quem conversei.
A relação da mulher com suas finanças é carregada de traumas e tabus. No entanto, como educadora financeira, vejo na prática como o conhecimento gera confiança e ela, por sua vez, leva à ação. Não é à toa que atingimos recentemente, pela primeira vez, a marca de 1 milhão de mulheres na Bolsa.
Por isso, decidi compartilhar os principais insights que tive ao longo destes quase nove anos:
-
- Dinheiro é a maior fonte de stress e angústia para mulheres.
Vivemos em um país onde a desigualdade salarial é uma realidade e dinheiro nunca foi assunto para mulheres. O resultado é duro: muitas mulheres seguem em situações de dependência e vulnerabilidade, deixando o cuidado da sua vida financeira com o pai ou marido. Por outro lado, quando elas assumem o controle das suas contas, este se torna o principal fator da sua confiança para realizar seus objetivos. - 93% das brasileiras acredita que homens entendem mais de dinheiro do que elas.
Faz parte da nossa história e cultura: crescemos com os filmes de princesa, que até pouco tempo mostravam as princesas desamparadas, esperando o príncipe encantado que viesse resgatá-las. Nossa cultura patriarcal (para não dizer machista) nunca priorizou a educação e a carreira da mulher – estas são novidades em termos históricos. Não à toa, um estudo do banco de investimentos UBS trouxe este número assustador: 93% das brasileiras acredita que seu marido entende mais de dinheiro e investimentos. - Quando uma mulher delega o cuidado do seu dinheiro, as chances de uma surpresa negativa são enormes.
Foi o que aconteceu com 74% das entrevistadas pelo UBS que eram separadas ou viúvas. Ou seja: aquela crença de que os homens entendem mais do que as mulheres não passa no teste da realidade. São dívidas que elas não sabiam que existiam, uma pensão ou um patrimônio menores do que o esperado, investimentos mal feitos… A velha solução de deixar o marido cuidar das finanças pode ter resultados trágicos. - Se você não controla o seu próprio dinheiro, você não controla a sua própria vida.
Dinheiro é poder, certo? A frase é batida, mas nem por isso deixou de ser verdade. Afinal, dinheiro traz poder de escolha. Quando você tem (e sabe lidar com ele), consegue bancar sua vida e tomar suas próprias decisões. Empregos, relacionamentos, planos… Sair ou ficar passa a ser uma decisão sua. - Dinheiro é muito mais do que um número.
A questão não é quantos dígitos tem a sua conta corrente, mas sim o que a sua vida financeira te permite realizar e sonhar. Quando falamos sobre dinheiro, falamos na realidade sobre liberdade, independência, autonomia, segurança e poder de escolha. - Casais que falam sobre dinheiro são mais felizes do que aqueles que não falam.
Segundo o estudo do UBS, 93% dos casais que cuidam das suas finanças conjuntamente disseram que passaram a brigar menos por dinheiro e – o melhor de tudo – a cometer menos erros também. A máxima cai como uma luva: duas cabeças pensam melhor do que uma. Todos ganham quando as decisões e responsabilidades são partilhadas. - A desigualdade salarial é só a ponta do iceberg: a desigualdade patrimonial é muito maior.
Mulheres ganham menos e têm menos renda disponível para investir. O resultado acumulado ao longo de gerações é simples: nosso patrimônio é menor. E o pior: as duas formas de desigualdade são ainda maiores para mulheres negras. - Não existe nenhuma barreira para mulheres aprenderem a lidar bem com seu dinheiro.
Com mais conhecimento, passamos a ter mais confiança. E com o mesmo nível de conhecimento e confiança que os homens, tomamos decisões sobre o nosso dinheiro com a mesma qualidade. - Estudos mostram que mulheres investidoras têm retornos melhores do que os homens nas suas aplicações.
Esqueça aquela história de que mulheres são conservadoras e não sabem investir direito. Um levantamento do banco Fidelity mostrou que as carteiras femininas rendem, em média 0,4% a mais do que as dos homens – e o resultado disso no acumulado das décadas pode ser chocante. - Nada de ruim acontece quando as mulheres têm mais dinheiro.
Pelo contrário. As mulheres são multiplicadoras de conhecimento e de educação financeira. Uma mulher confiante com a sua capacidade de cuidar da sua vida financeira transforma a vida de toda a sua família. Por isto, está na hora de quebrar tabus e reconhecermos conjuntamente que dinheiro é assunto de mulher, sim.
- Dinheiro é a maior fonte de stress e angústia para mulheres.
Carol Sandler é jornalista, educadora financeira e fundadora do Finanças Femininas, a maior plataforma online do Brasil de educação financeira para mulheres. É apresentadora do podcast “Meu Dinheiro, Minhas Regras” e colunista da Rádio Bandeirantes. Autora dos livros “Dinheiro Nasce em Árvore?” e “Detox das Compras”, além de coautora do “Finanças Femininas – Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos”. Instagram: @financasfemininas
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.