Um dos nomes mais importantes da arte contemporânea mundial, a carioca Beatriz Milhazes foi motivo de duas retrospectivas em São Paulo. Uma no Masp ( já encerrada) e outra no Centro Cultural Itaú (em cartaz até 4 de julho). Agora ela atende um chamado do outro lado do mundo e vai expor na China, em setembro. Mas também tem Viena no roteiro e Nova York na agenda. Enquanto sua arte é sucesso global, Beatriz diz gostar mesmo de ficar em seu ateliê – duas casas geminadas em uma bucólica rua do Jardim Botânico, no Rio – mantendo seu trabalho exuberante em constante evolução.
Donata Meirelles: Como será a mostra na China?
Beatriz Milhazes: Serão trabalhos inéditos de pintura, colagem e duas esculturas, que fizeram parte da mostra no Masp, além de um desenho que vai ocupar a lateral de vidro do Long Museum, em Xangai. Esse nicho é uma espécie de vitral, como em uma catedral, e vai estabelecer um diálogo entre a colagem e a pintura. No mesmo dia da abertura na China, será apresentada a pintura que fiz sobre a porta de ferro corta-fogo do palco da Ópera de Viena. E também estou trabalhando para uma outra exposição, em setembro do ano que vem, na Pace Gallery, em Nova York.
DM: Como foi reencontrar sua própria obra?
BM: A partir de 2001 começaram a fazer mostras panorâmicas da minha obra, mas essa, por ter sido a maior, foi extremamente emocionante. E as duas mostras foram espetacularmente montadas por Adriano Pedrosa (Masp) e Ivo Mesquita (Itaú Cultural). Encontrar a própria história é um momento único e faz parte do processo de criação do artista. Na verdade, eu me considero uma cientista, porque quero meu trabalho em constante evolução.
DM: Como você lida com o sucesso?
BM: Eu adoro, mas meu foco é sempre o trabalho. O artista deve colocar seu desenvolvimento em primeiro lugar. Apesar de gostar do sucesso, não acredito nele porque a vida é todo dia, um dia após o outro. O mundo ao seu redor muda e é preciso tomar cuidado. Esse olhar diferenciado muitas vezes altera a pessoa diante do sucesso. Eu continuo a mesma. Com ajustes, é claro.
DM: Você é expoente da Geração 80 de artistas brasileiros. Como vê o legado do grupo?
BM: Foi um movimento importante, artística e politicamente. Queríamos a liberdade de existir sem nos preocuparmos com regras ou censura. A Geração 80 representou a possibilidade da livre expressão. Por isso trouxe novas questões para o pensamento da arte brasileira e revelou muitos artistas realmente importantes.
Coluna publicada na edição 87, lançada em maio de 2021.
Com Mario Mendes, Antonia Petta e Sofia Mendes
Donata Meirelles é consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle
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