ESG se tornou a sigla do momento. Muito se repete e pouco se sabe como realmente os princípios de environmental, social and governance (Ambiental, social e governança, em português) podem apoiar e impulsionar o setor do agronegócio. Se você, assim como eu, já se perguntou o que a sigla significa e de que maneira a adoção das diretrizes podem gerar valor para sua empresa e para o mundo, fica aí e vamos conversar!
A questão ESG já é destaque na maioria dos setores da economia do Brasil e do mundo e o setor do agronegócio, devido a sua importância na economia, na geração de empregos, e por estar intrinsecamente ligado ao meio ambiente, não poderia ficar de fora do movimento.
O agronegócio já ultrapassou a indústria de transformação em termos econômicos e vem mostrando sua força e competitividade. O PIB (Produto Interno Bruto) do agro teve crescimento recorde em 2020. Com avanço de 24,31%, ele alcançou participação de 26,6% no PIB total do país e considerando-se o desempenho até o momento, a participação do setor no PIB pode ultrapassar os 30%, de acordo com cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
O ESG tem sido visto por muitos com excelentes olhos, pois durante algum tempo a questão do meio ambiente foi a única a ser discutida; agora, o desenvolvimento se apoia nos três sólidos pilares do ESG integrando questões ambientais, sociais e de governança na gestão de empresas. O pilar ambiental sem dúvida é muito importante, mas o social e a governança também são essenciais para o desenvolvimento sustentável do setor.
No pilar ambiental, dados da Embrapa mostram que toda a produção de grãos (milho, arroz, soja, feijão), fibras (algodão, celulose etc.) e agroenergia (cana-de-açúcar, florestas energéticas etc.) ocupa 9% do país. Os agricultores preservam mais vegetação nativa no interior de seus imóveis (20,5% do Brasil) do que todas as unidades de conservação juntas (13%). De acordo com o pesquisador Evaristo de Miranda, da Embrapa, não há no Brasil nenhuma outra categoria profissional, instituição, secretaria de Estado, órgão federal ou estadual, empresa privada ou organização não governamental que preserve tanta vegetação nativa como os produtores rurais.
Tanto os produtores rurais, como as empresas, têm encarado o desafio de aumentar a produção de alimentos preservando os recursos naturais, aumentando a produtividade sem o aumento de área, através da utilização de tecnologias como sensores, drones, Internet das Coisas, blockchain; além de boas práticas de manejo, como agricultura e pecuária de baixo carbono, integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto, escolha de cultivares, rotação de culturas, uso de biológicos, entre outras. Através de uma gestão eficiente, visando a otimização de recursos naturais, buscando oferecer produtos sustentáveis, uso de energias renováveis e preservação de espécies nativas, cada vez mais o setor vem se destacando por produzir enquanto preserva. A adoção de tecnologia de ponta e práticas de manejo mais sustentáveis representam uma parte importante, mas por outro lado, é necessário medir e comunicar o que está sendo feito, trazendo assim confiança dos investidores e consumidores.
Quanto ao pilar social, em 2020, a população ocupada no agronegócio brasileiro somou 17,3 milhões de trabalhadores, com a participação do agro no mercado de trabalho brasileiro aumentando para 20,1%. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que o setor gerou mais de 113 mil empregos formais no acumulado de janeiro a maio de 2021, sendo o único setor a apresentar mais contratados do que demitidos. Práticas ESG trazem retorno para as empresas. No ranking Great Place to Work (GPTW) Brasil, 93% disseram ter orgulho de pertencer a empresas do agro.
O pilar da governança foi apontado como o segundo principal gargalo do setor de agronegócio no Brasil, atrás somente de infraestrutura. O dado foi levantado na pesquisa “Agronegócio: Desafios à Competitividade do Setor no Brasil”, realizada em 2020 pela Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) com diferentes stakeholders do setor.
Existem diferentes níveis de maturidade dentro do agro. As grandes empresas exportadoras já estão bastante comprometidas com os princípios ESG, porém o último elo corrente, o produtor rural, que está lá no campo e é o verdadeiro guardião da sustentabilidade, precisa também estar alinhado para que o ESG não seja visto como mais um ônus. A responsabilidade do setor privado nas áreas ambiental, social e de governança não é um diferencial moral, é hoje um diferencial competitivo. Se fala tanto em ESG nas empresas do agro atualmente pois existe demanda dos dois lados, do investidor e do consumidor.
Nosso país é uma potência agroambiental. Financiamentos que trazem metas socioambientais e de governança podem ser vistos como um desafio ou uma oportunidade de elevar nosso país à liderança mundial de produção aliada à preservação.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: [email protected].
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