Profissional de sucesso no mercado publicitário, Marcia Esteves é uma das poucas mulheres no Brasil atuando como CEO de uma grande agência de comunicação. Há dois anos ela ocupa o cargo na Lew Lara\TBWA, onde também é sócia.
Mas, apesar das conquistas profissionais – acumula trabalhos relevantes e prêmios – Marcia encara a própria trajetória de maneira simples e espontânea: “Minha meta nunca foram os cargos. Eu estava mais interessada em encontrar o gestor com quem eu queria trabalhar. Mapeava as agências vendo as equipes das quais eu gostaria de fazer parte. Porque acredito que, na verdade, não trabalhamos para empresas, mas para pessoas”.
Aliás, a palavra “pessoas” – sempre no plural – foi uma das mais presentes durante a conversa com Marcia. “Eu optei pela Comunicação justamente porque gosto de estar com pessoas e poder ajudá-las”, resume.
Até se encontrar com a Comunicação, seu grande desejo era estudar Medicina. “Enquanto minhas amigas falavam em casar e ter filhos, eu dizia ‘quero ser médica!’”, lembra e conta que só não foi em frente no antigo sonho porque se deparou com as ciências exatas. “Quando cheguei no curso pré-vestibular e comecei a ver aquele negócio da bolinha que pesava tanto e demorava não sei quanto tempo para atingir o chão com uma certa velocidade, vi que não era para mim, que eu não ia ser feliz”.
Sem problemas. Munida do “Guia do Estudante”, Marcia pesquisou outros cursos e decidiu prestar vestibular para Comunicação – ela é formada em publicidade e propaganda pela FAAP. Foi amor à primeira vista. Ou melhor, no primeiro dia de aula: “A Comunicação lida com pessoas e pode ser uma ferramenta de transformação da sociedade através de mensagens positivas. Eu diria que, mais que uma paixão, levei um susto e tive sorte”.
Depois de formada – ela também fez MBA em gestão de projetos estratégicos e econômicos na FGV, além de especializações nos EUA e Israel – Marcia construiu uma carreira em agências de comunicação porque “sempre gostei do barulho, do trabalho em equipe e da criatividade acima de qualquer coisa”.
Passou pela Leo Burnet Tailor Made, pela Wunderman Thompson e, em um espaço de cinco anos, pôde exercitar seus talentos e habilidades nos EUA, Austrália, Itália e Espanha. Além de ter liderado a comunicação para marcas como Pepsico, P&G, Netflix, cerveja Devassa etc. Em 2017, aos 34 anos, assumiu a co-presidência da Grey Brasil onde, dois anos depois, tornou-se CEO.
A seguir, Marcia Esteves fala sobre comunicação, Brasil, diversidade, terceiro setor e de como é bom poder tocar um instrumento.
Girl power
“Para muita gente ainda é chocante ver uma mulher sentada em uma cadeira de CEO. Por isso, sei muito bem o tamanho da minha responsabilidade. Não é só liderar uma empresa, é puxar uma agenda e normalizar o fato de que mulheres podem atingir e desempenhar bem o cargo. Não há como esquecer que quase 52% da população brasileira é feminina e 85% do poder de compra no país está nas mãos das mulheres.”
Quem não se comunica…
“Se queremos fazer uma comunicação que realmente converse com as pessoas, temos que representar o país que somos. Temos uma diversidade de linguagem, de características físicas, de gêneros, de raças, de religião. Assim, como líderes e cidadãos, o nosso papel é garantir que as empresas representem o Brasil como ele é. Este é desafio nosso de cada dia. Uma comunicação efetiva precisa ter representatividade.”
O choque do futuro
“Cheguei na Lew Lara\TWBA em dezembro de 2019 e, no mês seguinte, nossos colegas das agências na Ásia já contavam o que estava acontecendo por lá. Imediatamente começamos a preparar um plano de contingência e eu dizia: ‘Nunca fiz um plano com a certeza de vou jogá-lo fora’. Pois bem, em março a agência inteira estava em home office. Por isso é sempre bom ter todos os planos prontos, mesmo que seja para jogá-los fora e reconstruí-los. Inclusive, já temos pronto o plano para o retorno, que não deve acontecer antes de janeiro próximo, quando teremos todo mundo imunizado. Com certeza a volta será emocionante.”
A voz do coração
“Meu grande engajamento é no terceiro setor, participando de conselhos ou realizando ações sociais. A hora é de mais humanidade e mais empatia. Estou envolvida com a Teto – ONG latino-americana que combate à pobreza nas comunidades carentes – com a Turma do Jiló, projeto educacional que visa reduzir problemas no ensino público, como a evasão escolar e o bullying – e agora com um programa de auxílio à pessoas em situação de rua, uma iniciativa da minha cabeleireira.
Enquanto lavava os meus cabelos, ela me contou que, além de trabalhar duro no salão, ainda ajuda mensalmente cerca de 230 famílias em situação de rua, assegurando pelo menos banho e alimentação para elas. Eu disse: ‘Tô dentro’. Estou usando meus conhecimentos para criar um nome, estabelecer uma marca e criar uma infraestrutura para colocar tudo em pé. O projeto ainda não tem nome, mas já tem coração.”
Na batucada da vida
“Eu amo mergulhar, algo que faço desde os 14 anos. Porém, nos últimos 18 meses tenho vivido na superfície. Mergulhar, para mim, é o grande encontro de equilíbrio: silêncio, respiração, os peixinhos em volta e a minha família junto. A combinação perfeita. Também gosto muito de música e de tocar instrumentos. Toco violão, piano e bateria… Muito mal. Faço três acordes aqui, mais três ali e digo que toco alguma coisa. Na verdade, o que eu gosto mesmo é de viajar, estar com a minha família e meus amigos. Eu busco a simplicidade e a tranquilidade na vida.”
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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