Só é possível ver algo de bom na passagem devastadora de um furacão quando não estamos em meio a esse furacão. Só à distância podemos enxergar as possibilidades de transformação para além da calamidade momentânea. Não faço aqui uma ode à catástrofe.
Em 2005, Nova Orleans foi quase que varrida do mapa pelo Katrina. E o Walmart desempenhou um papel admirável nos esforços de socorro aos moradores daquela cidade americana. A empresa foi uma das protagonistas na obtenção de alimentos, água e outros recursos para áreas atingidas por violentas enchentes.
A capa desta edição da Forbes me levou a lembrar essa história e refletir sobre o ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), que deve estar no radar de todas as empresas, independentemente de tamanho e de segmento de mercado, principalmente nesses tempos em que a pandemia de coronavírus está esmigalhando nossa saúde e nossa economia.
Pode-se dizer que foi durante a passagem do Katrina que o Walmart praticamente despertou para o ESG. Nas palavras de Kathleen McLaughlin, que ingressou na empresa em 2013 como a primeira diretora de sustentabilidade, “isso realmente colocou o grupo em um caminho diferente, que continuou a evoluir”.
Longe de esse gigante do varejo ser um modelo perfeito, esse fato é extremamente relevante por se tratar de uma rede que tem “2,2 milhões de funcionários, 11.500 locais de varejo e receitas que excedem o produto interno bruto da maioria dos países”, de acordo com a Barron’s, uma publicação da Dow Jones, que apontou recentemente o esforço do Walmart para implantar iniciativas ambientais ambiciosas, introduzir programas para melhorar as condições de trabalho e apoiar a saúde pública. Não é apenas um ou outro setor que precisa se preocupar em implantar ações e estratégias sustentáveis. Essa percepção vem crescendo aceleradamente também entre as nações, desde a formulação da política de desenvolvimento sustentável pela ONU.
Países que não se adequam a essa nova realidade estão encontrando enormes barreiras, vide o caso brasileiro e a pressão internacional para que o país proteja a região amazônica.
Essa postura ativa tem efeito dominó em relação às questões sustentáveis e, consequentemente, nas relações comerciais de maneira geral. A lógica é simples: todos precisam ser parte da solução. A nova escala criou uma mudança positiva em cadeia: ou se está dentro ou se fica, forçosamente, de fora.
“Aquilo que não nos mata nos torna mais fortes”, NietzscheDo meio do furacão da pandemia fica difícil enxergar o que restará ao final. Me arrisco a dizer, porém, que as questões de governança ambiental, social e corporativa serão impulsionadas ainda mais em todo o planeta. E não se trata apenas de uma questão de mercado, que exige das empresas uma postura ativa nessa direção. Cada vez mais, futuros governantes só serão admitidos se propuserem estratégias sustentáveis fundamentadas, isso será uma exigência da comunidade local e da global.
A pandemia está ampliando nossa visão de questões que precisam ser levadas a sério daqui para a frente, mesmo que estejamos ainda no olho do furacão. A bonança só virá para aqueles que se converterem. Simples assim.
Parafraseando o escritor francês Bussy-Rabutin, que assinalou que “a distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande”, que o vento desse furacão pandêmico inflame o fogo de um grande novo tempo.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados
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