Era uma vez um garfo. Ágil, confiável, generoso. Todo mundo ficava de boca aberta para ele. O garfinho trabalhava em um restaurante, fazendo uma atividade que ninguém conseguia fazer igual a ele. A colher tentava, mas era muito desengonçada. A faca queria, mas era muito perigosa. Só o garfo tinha o formato certo para uma boa bocada.
Mas, um dia, depois de tanto levar comida para lá e para cá, o garfinho entrou numa crise existencial. E foi lá na gaveta, junto com os outros talheres, que começou a se perguntar a razão de ter sido criado. Ele olhava a sua amiga, a boia inflável de natação, e via que ela salvava vidas de crianças. Ele também via que a escova de dentes melhorava a saúde dos seus donos. E ainda percebia que o celular era usado o tempo todo… enquanto o garfo só fazia o “carreto” do arroz, de vez em quando – um servicinho logístico chato que nunca traria sucesso.
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Talvez você também já tenha se sentido assim. Quando comparo o meu trabalho como marketeiro com o de um médico, me sinto fazendo algo pouco importante. E quando comparo com um jogador de futebol famoso, vejo que poderia estar ganhando muito mais dinheiro. Afinal, qual é a comparação que devo fazer?
Desde jovens, somos bombardeados com estímulos para sermos “bem-sucedidos”. As capas de revistas mostram pessoas que conquistaram milhões ainda jovens. Os talk shows só entrevistam pessoas que “deram certo” na vida. E aquele livro bem vendido? A sua capa diz: “Sonhe grande”.
Mas esse texto vem para fazer um contraponto: eu não acho que você deva sonhar grande. É isso mesmo. Eu não acho que a gente deva sonhar grande.
Porque a palavra grande remete a escala, a tamanho, a quantidade. A uma dimensão horizontal e a comparações que nunca vão terminar. Quem sonha grande, não consegue se contentar com um apartamento legal, precisa ter uma mansão. Quem sonha grande não fica feliz em comprar um caminhão novo, precisa ter uma frota.
Sonhar grande implica em criar expectativa, projetar um futuro de algo que tenha muitos bens, com muitas conquistas, com mais do que as outras pessoas. Em geral, isso é o que entendemos como “sonhar grande”.
Mas, ao mesmo tempo, não venho aqui te dizer para sonhar pequeno ou para não ser ambicioso. Venho apenas fazer uma sugestão. Você quer uma dimensão para poder sonhar? Pense na vertical: sonhe alto.
Sonhe com coisas que têm profundidade, relevância, sonhe com coisas que tocam no fundo da alma. Coisas que talvez sejam grandes, talvez sejam aparentes, talvez não. Mas que ficarão enraizadas. Sonhe com sonhos do alto para você.
Quem foi que disse que não dá para ficar contente com o que a gente tem hoje?
Quem foi que disse que a gente precisa conquistar algo grande para encontrar propósito na nossa vida?
Eu tenho ambições, muitas. Quero tudo que a vida tem para mim. Tudo. Nem um pinguinho a menos. Mas também não quero nem um pinguinho a mais. Porque isso não é uma competição.
Comecei esse texto contando a história de um garfo de propósito, porque eu também trabalho em um restaurante. Descobri que o garfinho faz algo extremamente útil: ele ajuda a nos alimentar. E faz isso melhor do que qualquer um. Ele está presente em momentos deliciosos em que estamos comendo com a nossa família. Ele é mais importante para nós do que imagina. E isso também vale para mim e para você. Quando damos o nosso melhor e fazemos algo útil para os outros, não estamos apenas trabalhando – estamos servindo. Estamos ajudando. Estamos melhorando a vida do próximo.
Será que existe uma forma mais prática de amar os outros do que isso? Está aí uma nova forma de ver o seu emprego. Mudar a intenção como trabalhamos preenche o nosso dia a dia de significado.
Assim como um garfo, hoje eu venho te trazer essas ideias como um alimento para você provar. Pode abocanhar, está aqui algo que é ainda mais gostoso que um Big Mac.
João Branco é o CMO do McDonald’s no Brasil e lidera o talentoso time que está batendo todos os recordes da história do Big Mac. Presença constante nos rankings dos profissionais de Marketing mais reconhecidos do Brasil, João estudou em algumas das melhores universidades do mundo, mas aprendeu no “Méqui” o que nenhuma aula teórica foi capaz de ensinar: que o resultado sempre vem quando o consumidor ama muito tudo isso. João já foi presidente da ABA e duas vezes palestrante TEDx. É um dos marketeiros brasileiros mais influentes – seus textos são lidos por mais de 1 milhão de pessoas todos os meses. Linkedin/Instagram: @falajoaobranco
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