Empresária de sucesso, a maranhense Val Paulino está entusiasmada com os resultados obtidos no setor da construção civil, apesar da crise por conta da pandemia. “Acredito que toda a situação que ainda estamos vivendo deu um sentido mais amplo e um significado mais forte para a casa enquanto lar das pessoas. Por isso, muitos decidiram investir suas economias na compra da casa própria”, avalia ela.
Diretora comercial de um dos maiores grupos empresariais do Maranhão – que reúne construção, infraestrutura e logística, indústria e distribuição de aço, indústria de PVC e prestação de serviço – Val afirma não existir emoção maior em seu trabalho do que apertar a mão dos que adquirem um imóvel pela primeira vez. Por isso sua área de ação preferida são os empreendimentos de moradia popular, a chamada faixa “super econômica” do mercado imobiliário. “Poder sair do aluguel ou de uma situação habitacional precária é uma enorme conquista”, ressalta.
Ao mesmo tempo, ela vê no segmento a possibilidade de poder colaborar na melhoria do cotidiano de uma população. “Nossos lançamentos mais recentes – para compradores com uma renda mensal de R$ 1.600 – são pensados para a família e contém áreas de lazer e serviços para todas as idades. Playground, academia de ginástica ao ar livre, bicicletário, piscina, pet play etc”, explica. Segundo ela, toda essa infraestrutura estimula e propicia desenvolvimento de um senso de comunidade. “Queremos promover o aconchego”, resume.
Val se lembra então de seus 19 anos, quando realizou o sonho da casa própria – financiado pela Caixa Econômica Federal. “Eu tinha chegado em São Luís havia dois anos, morava na casa de uma prima, trabalhava em uma concessionária de carros durante o dia e estudava a noite”, conta. Antes disso, porém, existe toda uma trajetória de superação.
Nascida em 1970, na pequena cidade de Lago do Junco – cerca de 300 quilômetros da capital e hoje com pouco mais de 10 mil habitantes – Val Paulino trabalhou dos oito aos 15 anos de idade como quebradora do coco babaçu. “Meu pai era pedreiro, éramos dez filhos e dormíamos todos os irmãos em um quarto só, em uma casa com chão de terra batida”, diz.
Extraído de uma palmeira nativa, o coco babaçu é utilizado na culinária, na produção de cosméticos, medicamentos e biocombustíveis. Apesar desse amplo aproveitamento, a colheita e a quebra do fruto é atividade de baixa remuneração que representa a base da renda de cerca de 300 mil pessoas no Maranhão – sendo 90% mulheres.
Val deixou a ocupação quando a família mudou de cidade e ela, finalmente, completou o segundo grau. Em São Luís, enfrentou a jornada dupla de trabalho e estudos, fez faculdade de ciências contábeis, mas queria mais. Na sequência, vieram cursos de pós-graduação em administração de empresas e em gestão de negócios.
Através de um cliente da concessionária onde trabalhava, foi contratada pelo antigo Banco Mercantil de São Paulo, onde fez carreira como executiva, inclusive depois da instituição ser comprada pelo Bradesco.
A experiência no mercado financeiro foi fundamental depois que ela se casou e foi trabalhar na empresa da família. E o resto, como se diz, é história. De sucesso.
Val, no entanto, não se deslumbra com a prosperidade alcançada: “No escritório, em cima da minha mesa de trabalho, eu tenho um coco babaçu que é para não esquecer de onde eu vim. E para não deixar o Ter ficar maior do que o Ser”, arremata.
A seguir, trechos da conversa com Val Paulino diretamente de São Luís do Maranhão.
Brasil profundo
“A desigualdade social no meu estado é enorme. Para se ter uma ideia de como as coisas ainda são, eu só fui conhecer o saneamento básico – banheiro equipado com descarga – quando fui morar em São Luís. Televisão eu vi pela primeira vez aos 14 anos. Eu chegava a quebrar 20 quilos de coco babaçu por dia, mas recebia apenas dez. O resto ficava com o dono da propriedade.”
Agenda concorrida
“Por conta da minha história de vida, fui convidada pela LVMH – Louis Vuitton Moët Hennessy – para fazer uma palestra para os CEOs da empresa na América Latina, no próximo dia 2 de outubro, em São Paulo. Também estou convidada para o desfile da Louis Vuitton, em Paris, que acontece no dia 5 de outubro. Não sei se vou ter tempo para ver o desfile.”
A modelo descalça
“Sempre gostei muito de moda. Quando quebrava cocos, guardava um pouco de dinheiro para comprar tecido e fazer roupas novas. Agora, meus irmãos encontraram fotos dessa época e eu sempre apareço com roupas diferentes, mas sempre descalça. Não sei por que eu não usava sapatos. O engraçado é que hoje o que mais tenho no closet são sapatos.”
Educação acima de tudo
“Ajudo vários projetos sociais de apoio às mulheres, sobretudo na área da educação. Faço questão de falar para essas mulheres – principalmente para as meninas – que existe sim uma solução para evitar uma vida inteira de privações, falta de oportunidade e violência doméstica. Insisto na importância da educação para todos, porque foi o fator que fez a diferença na minha vida.”
Retratos da vida
“Estou muito contente porque agora sou colunista de viagens na ‘Revista Cidade Jardim’. Adoro viajar! E também comecei a escrever meu livro de memórias, para lançar no ano que vem. Com isso estou recuperando várias histórias da minha vida. Como quando era criança, acordei com febre e vi entrar a luz do Sol por uma fresta no telhado, junto com um monte de poeira. Pensei: ‘Esse é o pozinho que Deus está jogando em mim para eu poder ir onde eu quiser’.”
Amém!
“Não sei se alcancei o sucesso… Minha vida é step by step, um degrau a cada dia. O que eu faço é orar muito, meditar muito… e agradecer a Deus por tantas oportunidades recebidas.”
Com Mario Mendes
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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