Dizer que os seres humanos se sentem atraídos pela beleza e pela juventude soa tão óbvio que parece prolixo. É bem difícil definir o que é belo sem cair no clichê de dizer que se trata de algo relativo ao gosto de cada pessoa. Talvez, por isso, a beleza seja um tema que mobiliza filósofos e cientistas há séculos.
A teoria evolucionista de Charles Darwin e os valores culturais da sociedade são as principais explicações para termos estabelecido determinados padrões de beleza ao longo dos anos.
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Você, caro leitor, não estaria aqui diante deste artigo se, repetidamente, a cada geração, ao longo de milhões e milhões de anos, dois de seus ancestrais não tivessem copulado e dado origem a outro ser, macho ou fêmea, que, chegado à maturidade sexual, veio a encontrar alguém do sexo oposto com quem também copulou, fazendo com que nascesse outro indivíduo. E assim a espécie se manteve, de ato em ato, reproduzindo-se sem cessar, até chegar a… você!
Portanto, cada antepassado encontrou e atraiu um indivíduo do sexo oposto capaz de transmitir seus genes de geração em geração até o presente. Se um único elo dessa imensa cadeia pregressa tivesse se rompido, não estaríamos hoje nos comunicando. Isso posto, atrair um parceiro jovem o suficiente para procriar foi e, continua sendo, uma condição fundamental para a continuidade da espécie.
Assim como fatores genéticos alteram nossa percepção, as transformações culturais são determinantes para definirmos o estereótipo assumido como ideal, tanto pelo homem quanto pela mulher, nos mais diferentes países.
Se nos depararmos com uma mulher nos padrões de beleza do Renascentismo ou mesmo do Romantismo, é provável que a maioria de nós a considere pálida e gorda para o atual padrão ocidental. Naquela época, não ter a pele exposta ao sol e comer abundantemente eram sinônimos de riqueza. Ainda hoje, entre as nações árabes, as curvas das esposas refletem quão bem-sucedidos são seus maridos. Para os homens dessa cultura, se a mulher é magra, seu companheiro não é suficientemente rico para alimentá-la.
Além das variações culturais, no que diz respeito ao ideal de beleza, há certos traços visuais da face que são preferidos em todas as culturas, em particular a simetria: os rostos com essa característica são considerados mais atraentes. Assim, os indivíduos com maior simetria de corpo e de face são mais desejados do que os outros.
A obsessão humana pela simetria é antiga. Leonardo da Vinci desenhou o Homem Vitruviano em 1490. Em uma das páginas do seu diário, naquele diagrama, ele buscava o ideal das proporções humanas, as quais utilizou em diversas obras como Monalisa e a Santa Ceia.
Atualmente, programas de computador medem os rostos de milhares de pessoas, famosas ou não, buscando alguma lógica à atração que suas imagens exercem. Gisele Bündchen é dona de um dos rostos mais simétricos do mundo fashion. Levando em conta tais critérios, organizadores de um concurso de beleza foram em busca do rosto mais perfeito do Reino Unido e elegeram a então jovem de 18 anos, Florence Colgate, como a pessoa mais “simetricamente linda” possível.
Muitos têm a sorte de nascer com proporções simétricas e alcançar, dessa forma, uma enorme vantagem na atração de parceiros sexuais. Porém, a vantagem da beleza está longe de estar circunscrita ao campo amoroso. Pessoas mais belas, com aparência jovial, com o corpo mais atlético, mais altas e com pele mais uniforme costumam ter mais sucesso em suas carreiras e, assim, maior ascensão social, o que por si só retroalimenta o ciclo virtuoso da beleza e do sucesso.
Por todas essas vantagens que a beleza confere aos indivíduos, é natural que desde a Antiguidade homens e mulheres tenham utilizado de rituais visando ressaltar características valorizadas em cada época e em cada cultura. Máscaras com frutas, banhos em azeite, pó de giz e até água fervida com carne de pombo eram utilizados para manter a pele clara e alva.
No Egito Antigo, o kohl utilizado como delineador de olhos era feito de chumbo. O iodo servia para dar cor aos lábios. Assim, o ritual da maquiagem intoxicava aos poucos e matava lentamente.
Os antigos rituais de beleza em nada se comparam aos avanços nos procedimentos estéticos da atualidade. Cirurgias plásticas, colocação de próteses, lipoaspiração, peelings, aplicação da toxina botulínica, bichectomia, depilação a laser, bronzeamentos, preenchimentos com ácidos diversos e todos os tipos de harmonização facial e corporal passaram a ser amplamente utilizados por um número cada vez maior de homens e mulheres na busca do corpo perfeito.
Nos Estados Unidos, o custo médio dos procedimentos estéticos em 2020 foi de US$ 7,1 mil. Segundo o relatório “How Covid-19 iS changing the World of beauty”, os gastos mundiais com a indústria da beleza somam US$ 500 bilhões. E segundo o médico cirurgião plástico Clayton Sawada, da Sociedade Brasileira de Cirurgiões Plásticos (SBCP), o custo das cirurgias estéticas mais comuns no Brasil varia de R$ 12 mil a R$ 45 mil. Uma invenção tipicamente brasileira, os consórcios, passaram a ser amplamente utilizados como forma de financiar esses procedimentos.
Mas todas essas intervenções, além dos custos financeiros envolvidos, têm ocasionado diversos problemas. Recentemente uma das mulheres mais belas do mundo, que tem a beleza até no nome, a megamodelo Linda Evangelista, teve seu corpo e sua face deformados por uma criolipólise que não deu certo. Hoje ela move um processo de US$ 50 milhões contra a Zeltiq Aesthetics, uma unidade da Allergan Aesthetics. A ex-modelo afirmou em uma rede social que ficou profundamente deprimida e se isolou de todo contato social após o fracasso do procedimento.
Assim como aconteceu com Linda, milhões de procedimentos resultam em sérios problemas. Desde o Egito Antigo até os dias atuais, a busca desenfreada pela beleza pode levar a problemas de saúde e morte.
Estamos vivendo em uma sociedade extremamente narcísica, que hipervaloriza a juventude e a estética. Os sinais da passagem do tempo, longe de configurarem marcas de maturidade, passaram a ser encarados como um problema a ser superado.
O ideal de beleza, frequentemente inalcançável, difundido pelas redes sociais e pelos meios de comunicação, a busca pela eterna juventude e pela negação da passagem do tempo têm cobrado um preço que cada dia se mostra mais elevado.
Velhos com dentes tão alvos como os de adolescentes, pele sem rugas e sem expressão deformada pelas toxinas e rostos desenhados como tristes esculturas precisam deixar de ser cultuados. Devemos valorizar a juventude sim, mas a juventude de uma cabeça aberta para as novidades e um corpo saudável que não negue o fato de que ele carrega muitos anos e muita experiência.
Não precisamos nos entregar ao tempo, mas não podemos negar o tempo na busca da juventude eterna. É uma luta vã, cara e arriscada.
Jurandir Sell Macedo Jr é doutor em finanças comportamentais, professor universitário e, desde 2003, ministra na Universidade Federal de Santa Catarina a primeira disciplina de finanças pessoais do Brasil. É autor de inúmeros livros sobre educação financeira e tem pós-doutorado em psicologia cognitiva pela Université Libre de Bruxelles. Escreve sobre Finanças 50+ quinzenalmente, às quintas-feiras. Instagram: @jurandirsell. E-mail: [email protected]
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