Para quem está do lado de fora da porteira, o desempenho do agro impressiona. Mas só quem está dentro da porteira sente na pele os desafios da produção agropecuária. O setor está encarando uma alta vertiginosa de mais de 100% no preço dos fertilizantes, item que representa cerca de 30% do custo das lavouras, como milho e soja.
Um conjunto de fatores levou à disparada do preço dos fertilizantes, dentre eles está a taxa de câmbio, o aumento no valor do petróleo que afetou o transporte marítimo e terrestre, a escassez de contêineres para o envio de produtos da China para o Brasil, a escassez de oferta gerada pela crise energética da China e pela crise diplomática entre a Bielorrussia com a União Europeia e Estados Unidos, além da demanda crescente dos fertilizantes, tanto no Brasil quanto no mundo.
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Todos esses fatores fizeram com que a oferta não conseguisse acompanhar a demanda e com que os produtores tivessem que desembolsar cada vez mais para produzir. O Brasil depende da importação de insumos, como cloreto de potássio, uréia e fosfato. Nosso país importa cerca de 80% dos fertilizantes utilizados na lavoura para oferecer nutrientes de acordo com as necessidades das plantas e do solo. A conta para os produtores, apesar do preço excelente das commodities, pode não fechar para a soja, por exemplo, pois passamos de uma relação de troca de 14 sacas para uma relação de troca de 32 sacas.
Precavidos por natureza, a maioria dos produtores compraram antecipadamente seus insumos que são corretivos de solo, herbicidas, adubos, coberturas nitrogenadas e outros para a safra 2021/22. Por isso, conseguiram escapar dessas grandes elevações de preços, mas estão apreensivos quanto ao recebimento dos produtos adquiridos para a próxima safra.
Safras menores podem levar à elevação dos custos de alimentação para porcos, galinhas e também para gado leiteiro e de corte, gerando um efeito cascata que pode resultar em preços mais altos para os consumidores. A tendência é que os preços das commodities se acomodem e o elo mais fraco da corrente (os consumidores de um lado e os produtores de outro) é que acabará assumindo esse prejuízo.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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