A alta no valor dos alimentos nas gôndolas do supermercado é culpa do produtor rural? Até que ponto o produtor controla o preço dos produtos? A recente disparada mundial dos preços dos alimentos levanta estas questões. Você deve estar sentindo no bolso a alta dos valores dos alimentos, sua percepção está correta, de acordo com o índice da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) a média mundial anual do preço dos alimentos subiu 28,1% em relação a 2020.
Uma conjuntura de fatores nacionais e internacionais, levou a esta alta, entretanto, a desconexão entre o campo e a cidade, faz com que se presuma de maneira simplista, que o produtor rural é o responsável pelo aumento dos preços, nada mais distante da realidade.
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As variáveis que compõem o preço dos alimentos como por exemplo o clima, o valor dos combustíveis, dos insumos utilizados para o plantio e o preço que o mercado paga pelos produtos, não estão na mão do produtor. O mercado é soberano e define o preço, não o produtor, por isto, muitas vezes, o preço do produto final, não remunera os custos de produção, ocasionando o protesto de produtores, queimando ou enterrando sua produção ou jogando leite em praça pública. Dentre os inúmeros fatores mundiais que desencadearam o aumento dos preços dos alimentos, nenhum está ao alcance do produtor controlar.
O primeiro fator que levou a elevação do preço mundial dos alimentos foi a alta do preço do petróleo desde 2020, que impactou os preços de produção e transporte dos produtos alimentícios que compõem o índice da FAO. Questões logísticas e a falta de navios cargueiros também entram na conta.
O segundo fator, foi a elevação de mais de 100% no preço dos fertilizantes, item que representa cerca de 30% do custo das lavouras, como milho e soja. Um conjunto de fatores levou à disparada do preço dos fertilizantes, dentre eles está a taxa de câmbio, o aumento no valor do petróleo que afetou o transporte marítimo e terrestre, a escassez de contêineres para o envio de produtos da China para o Brasil, a escassez de oferta gerada pela crise energética da China e pela crise diplomática entre a Bielorrussia com a União Europeia e Estados Unidos, além da demanda crescente dos fertilizantes, tanto no Brasil quanto no mundo. A oferta não conseguiu acompanhar a demanda e os produtores tiveram que desembolsar cada vez mais para produzir.
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O terceiro fator, são as alterações climáticas que afetaram severamente a produção agropecuária mundial. No Brasil, em 20/21 devido ao excesso de chuva, houve atrasos na colheita da safra de soja e consequentemente no plantio da safrinha, a segunda safra, em geral de milho. Nas regiões cafeeiras, as geadas afetaram a produção, elevando o preço do café ao maior patamar dos últimos 7 anos. Já nesta safra, a instabilidade climática tem feito produtores perderem o sono. A seca em estados como Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tem causado perdas nas lavouras, o que levou a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) a reduzir de 291,07 para 284,39 milhões de toneladas a estimativa para a safra 2021/22.
Já no Centro-Oeste e Matopiba (região formada por áreas majoritariamente de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o excesso de chuva é a causa de problemas e tem desencadeado picos nos preços. Safras menores podem levar à elevação dos custos de alimentação para porcos, galinhas e também para gado leiteiro e de corte, gerando um efeito cascata que pode resultar em preços mais altos para os consumidores.
Outro fator foi a quebra das cadeias de produção durante a pandemia por falta de mão de obra para plantar, cultivar, colher, processar e distribuir os alimentos.
O último fator é a retomada econômica de países como a China, que está aumentando seus estoques de alimentos para garantir a segurança alimentar do seu país. Quando existe aumento da demanda, os preços sobem, o preço do frango e carne por exemplo, foram elevados pelo aumento das importações chinesas.
Existem esforços mundiais sendo tomados para tornar o preço dos alimentos mais acessíveis, nosso país tem a nobre missão de produzir alimentos para o Brasil e para o mundo, caso não fossemos um país produtor, estaríamos importando alimentos a elevados preços em dólar e ainda pagando o transporte. Segundo o ex-ministro Roberto Rodrigues “Agro é paz”; nosso país produz paz pois pessoas passando fome, podem tomar atitudes radicais para garantir o alimento de sua família.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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