A subida da taxa Selic, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, e a indicação em ata de novos aumentos para as duas primeiras reuniões de 2025 acendeu um alerta no mercado, e você certamente tem acompanhado a subida das taxas pagas pelos títulos de renda fixa públicos e privados.
Entender as expectativas de mercado em relação a juros e inflação vai te ajudar a identificar oportunidades genuínas para surfar na alta de juros, e também a definir estratégias para proteger seu portfólio em um cenário de muitas incertezas.
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Conceitos como “juros futuros” e “prêmio de risco” estão em evidência no noticiário econômico e, sendo temas fundamentais no funcionamento da economia, eles influenciam diretamente o desempenho dos ativos financeiros, por isso, você não pode negligenciar o entendimento disso.
Dúvidas sobre investir em renda fixa ou em renda variável ou quanto à escolha entre papéis atrelados ao IPCA ou prefixados são normais, e você só conseguirá tomar decisões sólidas compreendendo como a curva de juros impacta influencia os rumos da economia.
Curva de juros: por que ela é importante?
A curva de juros reflete as expectativas do mercado em relação à taxa básica de juros (Selic) em diferentes períodos, tanto no curto quanto no longo prazo.
Na prática, se a curva indica que as taxas para contratos com vencimento em cinco anos estão em 9%, significa que o mercado projeta uma Selic média de 9% durante esse período.
Essa curva afeta diretamente os preços e rendimentos de ativos como títulos públicos, debêntures, CDBs e fundos de renda fixa. Analisando as taxas de diferentes prazos, você consegue interpretar a confiança ou a preocupação do mercado em relação ao cenário econômico.
Impacto da curva de juros no mercado financeiro
Quando a curva de juros está inclinada para cima, indicando taxas futuras mais altas que as atuais, isso sugere um cenário de incerteza – geralmente causado por inflação elevada ou instabilidade fiscal.
A perspectiva de contas públicas descontroladas aumenta o risco percebido, levando o mercado a exigir prêmios de risco maiores para manter seu dinheiro investido. Da mesma forma, a expectativa de crescimento da inflação, exige taxas de juros mais elevadas, mitigando o risco de alta generalizada nos preços.
Até aqui, imagino que você já compreendeu que a curva de juros é o balizador do grau de confiança do mercado na economia do país.
Como o prêmio de risco influencia suas decisões?
Para compensar a possibilidade de eventos adversos na economia, os investidores exigem um prêmio de risco maior. Afinal, questões como sustentabilidade fiscal e crescimento econômico são determinantes para quem busca crescimento patrimonial.
Para investidores individuais, escolher entre títulos prefixados e atrelados à inflação depende do cenário. Se os juros estão subindo, papéis prefixados, onde a taxa é definida no momento do investimento, podem ser arriscados. Ao contrário disso, quando os juros estão em queda, esse tipo de título oferece uma boa oportunidade de garantir rendimentos superiores.
Como prever juros e inflação?
Nenhum de nós pode ter certeza quanto ao que vai ou não acontecer no mercado, pois inúmeras variáveis impactam tanto as decisões de política econômica, quanto o ânimo dos investidores.
Há aspectos macroeconômicos de ordem global, como por exemplo, política monetária dos Estados Unidos, eleições, guerras, acordos bilaterais entre países, etc. E há também variáveis locais, trazidas pelo nosso cenário político que, combinados com fatores externos, determinam, na prática, para onde caminha o dinheiro.
No Brasil, as expectativas do mercado são medidas principalmente pelo Boletim Focus e pela movimentação dos contratos no Mercado Futuro.
Divulgado semanalmente pelo Banco Central, o Focus traz as previsões de agentes financeiros para indicadores como Selic e inflação, sendo muito útil para análises de prazos curtos.
Por outro lado, o mercado futuro com seus contratos derivativos, como swaps, permite especulações sobre tendências de longo prazo, sendo mais eficaz para projeções de médio e longo prazo.
A diferença em relação ao Focus, é que o mercado futuro prevê as taxas médias acumuladas do CDI e a inflação até uma data futura, em vez de focar em valores específicos em datas predeterminadas. Sendo assim, suas previsões tendem a apresentar maior capacidade preditiva no longo prazo.
Como usar indicadores econômicos para escolher investimentos
Estar atento a indicadores macroeconômicos pode ajudar a ajustar suas estratégias de investimento, garantindo que estas continuem aderentes às suas metas pessoais e tolerância ao risco.
Escolher onde investir não pode ser algo definido apenas pela rentabilidade informada pelo ativo, pois mitigar riscos envolve balanceamento de carteira e atenção às tendências do mercado.
Indicadores importantes:
- Taxa Selic: a taxa básica de juros influencia o custo do crédito e impacta as expectativas de retorno dos investimentos. O investidor deve acompanhar as decisões do COPOM, que define a Selic, buscando entender os motivos por trás das alterações e o impacto potencial em seus investimentos.
- Inflação: quando está alta, é maior a incerteza quanto ao retorno real dos investimentos, elevando o prêmio de risco. É possível acompanhar a inflação através dos índices de preços, como o IPCA e o IGP-M, divulgados pelo IBGE e pela FGV, respectivamente.
- Câmbio: a volatilidade cambial aumenta a incerteza para investimentos em moeda estrangeira, influenciando o prêmio de risco. Acompanhar as cotações das moedas estrangeiras e os fatores que influenciam o câmbio, como fluxo de capitais e balança comercial, ajuda a entender qual a tendência do dólar, por exemplo.
- Crescimento Econômico: o PIB, divulgado pelo IBGE, é um indicador do crescimento da economia. Um cenário de baixo crescimento econômico pode elevar o prêmio de risco, já que há maior incerteza quanto à capacidade das empresas quitarem suas dívidas.
- Dívida Pública: níveis elevados de dívida pública podem gerar preocupações sobre a capacidade do governo de honrar seus compromissos, impactando o prêmio de risco. O investidor pode acompanhar a evolução da dívida pública através de relatórios do Tesouro Nacional.
- Risco-País: é medido por agências de classificação de risco e reflete a percepção do mercado internacional sobre a solidez econômica e política do país. Um risco-país elevado indica maior incerteza e, consequentemente, um prêmio de risco maior.
Investir em conhecimento é estratégico
O ano de 2025 será desafiador para a economia. No entanto, é justamente nos momentos de instabilidade, onde o mercado reage com maior nervosismo às notícias, que os investidores de longo prazo, e que tenham um bom planejamento, conseguem aproveitar grandes oportunidades.
Compreender os mecanismos que influenciam a curva de juros, e saber diferenciar fatores circunstanciais dos estruturais ao funcionamento da economia é o que diferencia quem ganha e quem perde dinheiro nos investimentos. Sempre foi assim, e agora não será diferente.
Minha sugestão é que você inicie o ano avaliando seu plano de investimentos e acompanhando as informações sobre a economia em fontes confiáveis e sobretudo, que tome muito cuidado com o efeito manada, que no próximo ano, estará mais presente do que nunca entre aqueles que não tenham um bom mapa de navegação para seus investimentos.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós-graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhanguera Educacional, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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