![Fachada do Banco Central em Brasília: política monetária apertada para controlar a inflação (Foto:: Adriano Machado / Reuters)](https://forbes.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Money_BC-Banco-Central-Selic-2022-768x512.jpg)
O debate sobre inflação no Brasil frequentemente se mescla com os debates políticos, o que acaba desviando o foco das soluções necessárias para garantir a estabilidade econômica.
O Banco Central (BC) tem na taxa de juros sua principal ferramenta para conter a inflação. No entanto, a ausência de políticas fiscais e produtivas eficazes torna a economia vulnerável a ciclos constantes de alta e de baixa dos juros. Embora a política monetária seja essencial, a experiência mostra que, isoladamente, ela não garante estabilidade econômica de longo prazo.
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Nos últimos meses, o Boletim Focus tem revisado para cima as projeções de inflação para 2025 e para 2026, refletindo a preocupação do mercado com a trajetória fiscal e com as pressões sobre os preços. Esse cenário reforça a necessidade de um planejamento econômico que vá além da gestão da demanda e contemple medidas estruturais para fortalecer a oferta e reduzir a inflação de maneira mais sustentável.
O equilíbrio entre oferta, demanda e credibilidade
A inflação ocorre, em grande parte, quando há um desequilíbrio entre oferta e demanda. Quando o consumo e os investimentos crescem mais rapidamente do que a capacidade produtiva do país, os preços tendem a subir. Para conter essa alta, o Banco Central adota medidas restritivas, como o aumento da Selic, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo.
No entanto, confiar exclusivamente na política monetária para controlar a inflação tem seus custos. Juros elevados tornam o financiamento mais caro para empresas e consumidores, reduzindo a atividade econômica e dificultando investimentos produtivos.
Se não houver ações coordenadas do governo para melhorar o ambiente de negócios e aumentar a eficiência do gasto público, o país permanece preso em um ciclo onde a alta da Selic se torna o principal – e muitas vezes único – mecanismo de controle inflacionário.
Nessa dinâmica, a comunicação clara e previsível por parte das autoridades econômicas é fundamental na gestão das expectativas. Isso contribui para evitar distorções e manter a confiança no equilíbrio de longo prazo, pois quando agentes econômicos acreditam que a inflação seguirá alta, há uma tendência de antecipação de reajustes de preços e salários visando se proteger, o que torna o processo inflacionário ainda mais resistente.
O papel da política fiscal no controle da inflação
Se, por um lado, o Banco Central controla os agregados monetários por meio da taxa de juros, por outro, a política fiscal tem impacto direto na dinâmica inflacionária. Um governo que gasta de forma desordenada e financia esse gasto por meio de endividamento ou emissão monetária pode gerar um excesso de demanda na economia, pressionando os preços e tornando mais difícil o trabalho do Banco Central.
Nesse sentido, algumas ações complementares podem fortalecer o combate à inflação:
- Disciplina fiscal: um planejamento responsável de gastos públicos reduz a necessidade de aperto monetário excessivo.
- Incentivo ao investimento produtivo: melhorar a segurança jurídica e reduzir entraves burocráticos pode aumentar a capacidade da economia de atender à demanda sem gerar inflação.
- Política de crédito equilibrada: evitar estímulos excessivos ao consumo em momentos de pressão inflacionária pode reduzir desequilíbrios entre oferta e demanda.
Esses fatores mostram que o controle da inflação deve ser um esforço conjunto, envolvendo tanto a política monetária quanto a fiscal. A dependência excessiva da Selic não é sustentável no longo prazo – especialmente quando se considera o impacto dos juros elevados na dívida pública e no custo de capital para empresas e consumidores.
Construindo um caminho mais sustentável
Os desafios econômicos do Brasil exigem uma abordagem integrada. Em vez de reagir às oscilações do mercado com medidas de curto prazo, é fundamental buscar um equilíbrio entre crescimento e controle inflacionário.
A meu ver, quanto mais previsível e coordenada for a condução da política econômica, menores serão os impactos de choques externos e mais estável será o ambiente para empresas, trabalhadores e investidores.
Na história econômica do país, temos bagagem suficiente para saber que a inflação não se resolve com medidas isoladas. A busca por estabilidade exige um esforço contínuo para fortalecer a produtividade, garantir credibilidade na condução das políticas e alinhar os diferentes instrumentos econômicos em prol de um crescimento sustentável. O desafio é grande, mas os benefícios de uma economia mais equilibrada são ainda maiores.
O mercado precisa confiar que há um plano sólido para conter a inflação sem recorrer a medidas paliativas ou populistas. Com ações bem estruturadas e um compromisso de longo prazo com a estabilidade econômica, é possível reduzir a vulnerabilidade do país a ciclos de alta inflação e juros elevados, criando um ambiente mais equilibrado para todos os agentes econômicos.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós-graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhanguera Educacional, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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